26 de Abril de 2009 Manaus - Apesar
de ainda não ter sido oficialmente confirmada
para 2009, a captura experimental e controlada de
jacarés no Amazonas pode trazer avanços
práticos e científicos para o estado,
em comparação aos anos anteriores
em que a atividade foi realizada.
Segundo a gerente de apoio à
utilização de animais silvestres do
Instituto de Desenvolvimento Agropecuário
do Estado do Amazonas (Idam), Sônia Canto,
a evolução da captura controlada de
jacarés depende do avanço das pesquisas
que fundamentem a exploração desse
recurso, aliada à superação
de obstáculos relativos à comercialização
da carne e da pele dos animais.
A experiência acumulada
com a captura experimental, já realizada
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
de Mamirauá, a cerca de 525 quilômetros
a oeste de Manaus, deve contribuir e, no futuro,
a atividade pode ser uma das mais importantes alternativas
de renda para os moradores da reserva, avalia Sônia.
Segundo ela, o objetivo do governo estadual é
ampliar a atividade, agregando valor à cadeia
produtiva, sem deixar de valorizar a conservação
da espécie na natureza.
“Para poder ter no Amazonas a
expansão dessa atividade, temos que avançar
nas metodologias para monitoramento, captura e processamento
da espécie. Isso vai garantir a obtenção
de qualidade sanitária necessária
para ampliar a comercialização do
produto no mercado local”, acrescentou Sônia.
Uma lei federal proibiu a captura
de jacarés desde o fim da década de
70 no país. Contudo, a atividade no Amazonas
é realizada de forma experimental desde 2004,
por meio de um projeto piloto do governo estadual,
na Reserva Mamirauá. O projeto tem autorização
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama).
Desde então, três
capturas experimentais de jacarés já
foram realizadas. Na primeira delas, em 2004, foram
abatidos 60 animais. Já na segunda, em 2006,
250 jacarés foram capturados. Em 2008, entre
os dias 16 e 22 de dezembro, foram abatidos 253
jacarés da espécie açu. Desse
total, foram aproveitadas 226 peles e 203 carcaças.
Aproximadamente 90 moradores da comunidade São
Raimundo do Jarauá participaram da última
captura, em Mamirauá.
O Instituto Mamirauá –
organização social supervisionada
pelo Ministério de Ciência e Tecnologia,
que compartilha a gestão da reserva ambiental
com o governo do Amazonas – presta assessoria às
comunidades envolvidas no projeto, fornecendo dados
técnicos e científicos a respeito
da espécie e das possibilidades de manejo.
O governo estadual faze estudos
e outros processos relativos à cadeia produtiva.
Na reserva de Mamirauá existem três
espécies de jacarés: aguá,tinga
e açu. A maior espécie brasileira
de jacaré é a açu e, por isso,
foi escolhida para o manejo por apresentar maior
valor comercial. O jacaré-açu é
reconhecido pelos ribeirinhos por ter a cabeça
e cumprimento maior e a pele mais escura que as
outras espécies. Estima-se que um jacaré-açu
possa viver até 60 anos, pesar 500 quilos
e medir até 6 metros de cumprimento.
A presença dos jacarés
em Mamirauá é marcante. Segundo o
pesquisador do Programa de Manejo e Conservação
de Jacarés do Instituto Mamirauá,
Robinson Botero-Arias, há locais na reserva
com concentração de até cem
jacarés por quilômetro. Para Arias,
o manejo de jacarés pode garantir o bem-estar
dos ribeirinhos e também das espécies,
já que os pesquisadores que acompanham a
captura estabeleceram regras diversas para não
prejudicar a conservação da espécie,
como não abater jacarés próximos
aos ninhos e evitar a morte de fêmeas.
“Os ribeirinhos são os
principais beneficiados pela implantação
do manejo, porque a atividade pode se transformar
na principal alternativa econômica deles.
A espécie também ganha porque, se
tudo for feito da forma correta, com base nos princípios
técnico-científicos adequados, o manejo
de jacaré estará associado a estratégias
de conservação da espécie”,
disse Arias.
Os animais são capturados
à noite e com arpões. Para localizá-los,
os pescadores usam lanternas, cujas luzes se refletem
nos olhos dos animais e indicam o local onde eles
estão. Depois de imobilizados, os jacarés
são levados para um barco para que se possa
fazer a separação da carne, pele e
vísceras e, posteriormente, o resfriamento
do que será vendido.
Amanda Mota
+ Mais
É preciso discussões
mais profundas para criar áreas de proteção,
diz ambientalista
27 de Abril de 2009 Brasília
- O presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo
Mello, disse hoje (27) que a criação
da Política Nacional de Educação
Ambiental (Pnea) nos permitiu entender que não
é mais possível criar áreas
de conservação ambiental somente voando
de helicóptero.
“São necessários
discussões e estudos muito aprofundados para
que se possam ser criadas [áreas de conservação]
com confiança”, disse Mello durante o seminário
Dez Anos da Política Nacional de Educação
Ambiental: Avanços e Necessidades em Busca
da Edificação de uma Sociedade Sustentável,
para celebrar uma década da Lei 9.794/99
e refletir sobre os novos desafios da educação
ambiental no país.
No dia 27 de abril de 1999, a
Lei 9.794/99 de autoria do deputado Fábio
Feldmann (PV-SO) foi aprovada, criando-se assim
a Política Nacional de Educação
Ambiental (Pnea), que identifica problemas e soluções
para se reduzir os impactos do homem no meio ambiente.
“O desafio da educação
é fazer com que vire ação aquilo
que se diz. A geração atual não
tem paciência para esperar acontecer, eles
querem atitudes para o presente e não para
o futuro”, conta a coordenadora-geral de Educação
Ambiental do Ministério da Educação,
Raquel Trajber.
Segundo a diretora do Departamento
de Educação Ambiental do Ministério
do Meio Ambiente, Lúcia Anello, a educação
ambiental é importante para que se entendam
e se estudem assuntos de grande importância
no Brasil. “A educação ambiental tem
que ser chave para que se possam tratar de questões
como zoneamento ecológico, planejamento de
bacias hidrográficas e unidades de conversação,
assuntos que são necessários assuntos
mais aprofundados antes de ações”,
conta.
O seminário continua até
amanhã (28) no Interlegis, Anexo E, do Senado
e está sendo transmitido ao vivo por meio
de videoconferência e pela internet.