Quase 30 famílias de agricultores
não-índios ainda estão na Raposa,
estima Funai
30 de Abril de 2009 Boa Vista
- A Administração Regional da Fundação
Nacional do Índio (Funai) em Boa Vista estima
que 28 famílias de agricultores brancos ainda
estejam dentro da Terra Indígena Raposa Serra
do Sol (RR). Hoje (30) termina o prazo dado pela
Justiça para a desocupação
da reserva pelos não-índios. Das 28
famílias, segundo a Funai, 24 já tiveram
indenizações depositadas em juízo,
uma delas receberá os valores até
o fim da semana e as demais tiveram as benfeitorias
consideradas de má-fé, sem direito
à indenização.
Todas as famílias devem deixar a área
até o fim do dia, sob pena de serem retiradas
pela Polícia Federal a partir de amanhã
(1º). Elas podem pleitear na Justiça
o aumento das indenizações. “Havendo
discordância de valores, a Funai respeitará
a decisão da Justiça. Fizemos um levantamento
bem detalhado, mas nada impede que as famílias
requeiram nova perícia”, afirmou o administrador
regional da Funai, Gonçalo Teixeira.
A fundação também
se dedicará nos próximos meses a intermediar
um consenso entre as comunidades indígenas
da Raposa Serra do Sol em relação
a futuros projetos na área. Os 18 mil índios
são representados por associações
que têm divergências históricas.
“Nosso papel será o de
buscar um entendimento entre as lideranças.
Haverá uma grande assembléia para
isso, provavelmente no fim de maio. Serão
discutidas a ocupação de benfeitorias
e as políticas públicas prioritárias
para a região”, disse Teixeira.
Marco Antonio Soalheiro
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Não-índios ainda
trabalham para retirar últimos pertences
da Raposa Serra do Sol
30 de Abril de 2009 Vila Surumu
(Terra Indígena Raposa Serra do Sol) - Famílias
de agricultores brancos que devem, por ordem judicial,
deixar a Raposa Serra do Sol até o fim do
dia de hoje (30), ainda trabalham para conseguir
retirar todos os seus pertences em tempo hábil.
Magoados com o governo federal e com a Justiça,
muitos deixarão a área com o futuro
ainda incerto. É o caso do do agricultor
Aílton Cabral, 66 anos, que levará
aproximadamente 600 animais (bois, porcos, galinhas)
provisoriamente para as terras de um primo, enquanto
discute na Justiça o valor da indenização
a ser paga pela Fundação Nacional
do Índio (Funai) e aguarda a indicação
pelas autoridades de uma área compatível
para assentamento.
“Eu estou sendo escurraçado.
Desde o início, o governo adotou uma forma
truculenta, vil e covarde de tratar a questão”,
reclamou cabral. “Essa era uma área muito
boa para a criação. Conseguir outra
igual é muito difícil. Prometeram
uma terra, mas até hoje não tenho
para onde ir”, acrescentou.
Os brancos casados com índias
podem permanecer na área desde que concordem
com a vida em coletividade e abram suas área
para uso comum. Mas nem todos que estão nessa
situação quiseram ficar. O policial
militar aposentado Clóvis Pereira , 52 anos,
casado com indígena, aceitou contrariado
a indenização de R$ 25 mil (ele acredita
que teria de receber R$ 60 mil) e está de
mudança para uma casa na periferia de Boa
Vista. Deixará a casa de quatro cômodos,
onde morou por décadas, porque teme ser perseguido
pelos índios que não queriam a permanência
dos brancos na reserva.
“O sentimento é de muita
tristeza em deixar o lugar onde criei meus filhos.
E estou saindo sem dignidade. Ofereceram um transporte
que não era adequado e poderia estragar nossas
coisas. Então, eu mesmo vou pagar a mudança”,
afirmou Pereira, enquanto orientava o carregamento
de um caminhão.
Dos seis grandes produtores de
arroz que atuavam na reserva, três disseram
já ter concluído a desocupação
das fazendas. Os outros ainda têm colheitas
pendentes e insistem que o governo federal não
tem condições de se responsabilizar
pelo aproveitamento dos grãos. Querem pelo
menos mais 30 dias para sair pacificamente da área.
A dúvida é se ficarão nas fazendas
depois do dia de hoje (30), mesmo correndo o risco
de serem retirados à força pela Polícia
Federal.
Os senadores Mozarildo Cavalcanti
(PTB-RR) e Augusto Botelho (PT-RR) visitaram comunidades
como representantes de um comissão externa
do Senado. Eles se comprometeram a cobrar do governo
federal melhor assistência na reserva e condições
dignas de indenização e reassentamento
para quem sair.
“Não estão retirando
da região animais, mas seres humanos, então
o governo federal precisa cuidar do pós -saída.
Por enquanto, [o governo federal] não está
cumprindo o prometido. Não dá para
misturar pessoas que saírem daqui com sem-terras
em assentamento de reforma agrária. Eles
devem ter um condição equivalente
àquela em que viviam aqui”, ressaltou Cavalcanti.
“Espero que não aconteça
aqui o que aconteceu em São Marcos [reserva
indígena vizinha à Raposa Serra do
Sol]. Os irmãos índios de lá
sobrevivem porque fazem contrabando de gasolina
da Venezuela. Então, nós temos que
dar alternativas de sobrevivência para os
que ficam aqui”, completou Botelho.
Marco Antonio Soalheiro