4 de Maio de 2009 - Pedro Peduzzi
- Repórter da Agência Brasil - Brasília
- O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse
hoje (4) que a legislação
brasileira sofrerá retrocesso, caso o Congresso
Nacional aprove o licenciamento ambiental por decurso
de prazo. Ele fez essa afirmação durante
o 1º Seminário Internacional de Direito
Ambiental, realizado pela Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), em Brasília.
Segundo ele, “as leis brasileiras
podem avançar, mas podem também regredir
por meio de figuras esdrúxulas, como o licenciamento
por decurso de prazo”. Se essa lei for aprovada,
as licenças ambientais serão concedidas
automaticamente, caso os prazos não sejam
cumpridos.
Em palestra dirigida a advogados
de diversas partes do mundo, Minc apontou o cumprimento
das leis como a maior dificuldade do país
para o combate aos problemas ambientais. “Já
impetramos mais de cem ações na Justiça,
contra os grandes desmatadores da Amazônia,
e neste mês impetraremos outras 60. Infelizmente,
a dificuldade maior não está em fazer
leis, mas em fazer com que elas sejam cumpridas”,
disse o ministro.
Daí a estratégia
adotada pelo governo, de tentar resolver o problema
antes mesmo de eles chegarem à esfera judicial,
ao adotar medidas como os leilões de bois,
soja e madeiras apreendidos. “Com isso, nós
evitamos que as pessoas enriqueçam com produtos
frutos de crimes ambientais”, argumentou.
Minc defendeu também a
necessidade de casar a regularização
fundiária com o respeito ao meio ambiente.
“As dificuldades em definir a propriedade das terras
é histórica no Brasil. Isso poderá
ser facilitado, caso o Legislativo converta em lei
a medida provisória apresentada pelo governo,
segundo a qual os proprietários de terras
assinam um termo de compromisso garantindo que respeitarão
o meio ambiente. No mesmo termo estará previsto
que, em caso de falha, eles perderão essas
terras”. Segundo o ministro, “grande parte dos empresários
e dos agricultores quer cumprir as leis”.
A questão das hidrelétricas
também preocupa o ministro. “Se não
licenciarmos as hidrelétricas, acabaremos
tendo de licenciar usinas térmicas e de carvão.
Tem alguma coisa errada nisso. Não é
possível que o zelo ambiental nos leve a
sujar ainda mais a nossa matriz energética”,
criticou.
Os Estados Unidos foram alvo de
críticas de Carlos Minc. “O discurso é
novo, mas a prática americana ainda é
a mesma, apesar de o presidente Barack Obama ser
um santo, se comparado ao ex-presidente George W.
Bush”, disse, referindo-se à recusa americana
em ser país signatário do acordo internacional
que garante acesso e repartição dos
benefícios pelo uso da biodiversidade – algo
que, segundo Minc, é visto como “estratégico
para os interesses nacional e ambiental”.
“Eles [os norte-americanos] querem
que a gente pague pela patente, mas se recusam a
pagar pelo uso da biodiversidade”, completou.
+ Mais
Municípios fluminenses
poderão emitir licenças ambientais
de baixo impacto
3 de Maio de 2009 - Alana Gandra
- Repórter da Agência Brasil - Rio
de Janeiro - Trinta e oito municípios fluminenses
começam a ser capacitados a partir de amanhã
(4) pelos técnicos do Instituto Estadual
do Ambiente (Inea), vinculado à Secretaria
Estadual do Ambiente, para a emissão de licenças
ambientais de baixo impacto.
As demais 54 cidades fluminenses
serão incorporadas ao processo gradualmente,
disse à Agência Brasil a diretora de
Gestão de Águas e do Território
do Inea, Rosa Formiga. “É muito importante
que o processo seja feito com calma, sem queimar
etapas, para que não aconteçam problemas.
Porque não adianta nada a gente repassar
responsabilidades e o município não
ter essas condições, ou o estado não
poder dar o apoio necessário a todos, ao
mesmo tempo”.
A prioridade do governo é
ratificar os convênios e apoiar os municípios
a se capacitarem para exercer a atividade de licenciamento,
explicou Rosa Formiga. “É um momento mais
de arrumação da casa, de promover
os ajustes necessários do ponto de vista
legal, técnico e institucional por parte
dos municípios com relação
ao licenciamento, com apoio do estado”.
Numa segunda etapa do programa,
o convênio será ampliado para as outras
localidades. Rosa Formiga esclareceu que uma idéia
é fornecer as condições para
que municípios de pequeno porte inclusive,
que não teriam uma estrutura mínima
para exercer essa atividade isoladamente, possam
vir a se consorciar com municípios vizinhos
e ter uma estrutura pública comum.
A diretora do Inea afirmou que
a descentralização do licenciamento
é prioritária para o estado do Rio
de Janeiro e atende a um anseio dos prefeitos. “Eu
acho que o papel que nos cabe, enquanto estado,
é o de atuar como parceiro. Não só
de descentralizar, mas de apoiar os municípios
de uma forma mais acentuada nessa fase inicial”.
A descentralização dará mais
agilidade aos processos de licenciamento ambientais.
“Não faz sentido o estado
concentrar o licenciamento ambiental em atividades
de interesse puramente local ou particularmente
local, em especial quando o município tem
estrutura ou é capaz de se estruturar para
fazer isso. Essa é uma política aceita
e pactuada por todos. Ninguém duvida que
essa é a melhor opção”, afiançou
Rosa Formiga. O procedimento já é
adotado por outras unidades da Federação,
informou.
Entre as atividades poluidoras
consideradas de baixo impacto ambiental, a diretora
do Inea citou a instalação de lava-jatos,
padarias, loteamentos e indústrias de pequeno
porte. “Isso varia muito do perfil da atividade
e do porte dela”, disse.
+ Mais
Unidades de conservação
e centros de pesquisa recebem 77 veículos
4 de Maio de 2009 - Da Agência
Brasil - Brasília - Unidades de conservação
e centros de pesquisa gerenciados pelo Instituto
Chico Mendes (ICMBio) receberam hoje (4) 77 veículos
modelo pick-up. Eles foram entregues pelo instituto
e pelo Ministério do Meio Ambiente e devem
ajudar no desenvolvimento das atividades de preservação
e de pesquisas na área. Segundo o ministério,
foram investidos cerca de R$ 6 milhões na
compra dos veículos.
Um total de 47 parques nacionais
e estações ecológicas e três
centros de pesquisa, além de coordenações
regionais do Instituto Chico Mendes, receberam os
automóveis. Os carros serão usados
em atividades de campo, como elaboração
de planos de manejo, operações de
fiscalização, pesquisa e visitação.
“Esses 77 carros equipados foram
comprados para tomar conta [do meio ambiente]. Eles
têm que ser usados como um instrumento de
respeito à vida”, disse o ministro Carlos
Minc, durante a solenidade de entrega dos veículos.
De acordo com Minc, a maior parte
será destinada a unidades de conservação
localizadas em áreas da floresta amazônica.
Para o ministro, o investimento deverá diminuir
o número de áreas devastadas no local.
“Isso vai ajudar no combate ao desmatamento da Amazônia”,
disse.
O país conta com 11 centros
de pesquisa administrados pelo ICMBio e 88 milhões
de hectares divididos em 300 unidades de conservação
do meio ambiente (parques e estações
ecológicas).
Quartiero deixa Raposa após
destruir outra sede de fazenda e mobilizar grande
aparato policial
2 de Maio de 2009 - Marco Antonio
Soalheiro - Enviado Especial - Roosewelt Pinheiro/Abr
- Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Roraima)
- O produtor de arroz Paulo César Quartiero
à espera dos policias sentado sozinho em
frente à sede destruída da fazenda
que ocupava na reserva
Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) -
O produtor de arroz Paulo César Quartiero
provocou a mobilização de um grande
aparato policial por quase 12 horas para deixar
a Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR),
um dia após o fim do prazo dado pela Justiça
para a saída espontânea dos não-índios
da reserva.
Ele recebeu em torno de 25 agentes
da Polícia Federal e da Força Nacional
de Segurança sentado sozinho em frente à
segunda sede de fazenda que mandou demolir.
O rizicultor disse que, após
“desbravar Roraima”, não aceitaria “ser tirado
como um cachorro” por “brucutus anabolizados” e
só aceitou sair de lá quando recebeu
um mandado de desocupação escrito
à mão pelo presidente do Tribunal
Regional Federal (TRF) da 1ª Região,
desembargador Jirair Meguerian. O produtor definiu
como “muito amadorismo” escrever um mandado debaixo
de um pé de manga.
O desembargador informou a Quartiero
que a União se responsabilizaria pela colheita
dos 400 hectares de arroz plantados na fazenda,
com posterior indenização, desde que
o produtor disponibilizasse suas máquinas
para o trabalho. O rizicultor – que expandiu áreas
plantadas na região quando o processo de
demarcação já estava em andamento
– reagiu com indignação.
“Esse pessoal do governo não
sabe colher e ainda vão estragar minhas máquinas.
O senhor [Jirair Meguerian] vem aqui, toma o que
é meu sem prazo nenhum, me obriga a retirar
gado na marra, me toma o arroz. Só falta
a mulher, os filhos e tudo”, reclamou Quartiero,
ao dizer que não cederá as máquinas
em hipótese alguma. “Se eu tiver que ceder
meu maquinário, prefiro colocar fogo em tudo”,
acrescentou.
“Não posso discutir o mérito.
Estou apenas fazendo cumprir a decisão judicial”,
respondeu Meguerian, lembrando que decisão
do Supremo Tribunal Federal (STF), que selou a manutenção
da demarcação contínua da reserva,
com saída dos não-índios, tinha
execução imediata. Quartiero chegou
a propor colher o arroz a partir da próxima
quarta-feira (6) e entregá-lo à União,
para receber depois e para que o alimento não
se perca, mas o presidente do TRF da 1ª Região
reiterou que isso não seria possível.
Durante mais de cinco horas –
entre o final da manhã e a chegada de Jirair
à Fazenda Providência , no fim da tarde
–, Quartiero, deitado em uma rede, leu por mais
de uma vez o mesmo jornal. Chegou a se declarar
desempregado e sem-terra. Suas roupas estavam sujas
porque, segundo ele, virou a noite providenciando
retirada de materiais. Policiais, agentes da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e do Instituto
Brasileiro dos Recursos Naturais e Renováveis
(Ibama) que permaneceram durante todo o tempo na
fazenda foram orientados pelo desembargador a não
efetuar uma prisão.
Questionado pela Agência
Brasil sobre o seu futuro na atividade produtiva,
Quartiero disse ter se entusiasmado com propostas
do governo da Guiana, que cederia terras ao produtor
por até 99 anos. Mas não deu suas
fazendas na Raposa Serra do Sol como caso perdido.
“Minha história aqui não acabou. Foi
só um capítulo. Houve muita ilegalidade
no processo e ainda tenho esperança que mais
gente reconheça isso.”
Nos próximos meses, entretanto,
Quartiero terá de responder por condutas
irregulares que cometeu ou que lhe foram atribuídas.
A destruição das sedes de suas duas
fazendas, cuja ordem ele admite ter dado, deverá
ser configurada como crime, porque as benfeitorias
já tinham sido indenizadas pela União.
O Ibama aplicou-lhe multas por degradação
ambiental, que somadas chegam a R$ 50 milhões.
“Isso é retaliação política”,
comentou o produtor.
A Fazenda Providência já
tem novos donos. O tuxaua (cacique) Avelino Pereira,
da comunidade Santa Rita, anunciou que dez famílias
indígenas viverão na área,
onde pretendem plantar arroz, feijão, milho
e macaxeira. O grupo já teria máquinas
agrícolas. São silvícolas ligados
à Sociedade dos Índios Unidos em Defesa
de Roraima (Sodiu-RR), entidade que sempre se posicionou
favoravelmente à permanência dos arrozeiros.
“Ele [Quartiero] sempre foi nosso parceiro, legal
com a gente, muitos índios trabalharam com
ele. Podia ter deixado a casa para nós, mas
fazer o quê, achou melhor de outro jeito.
A gente constrói uma”, lamentou Avelino.
+ Mais
Concentração populacional
favorece homicídios e suicídios de
índios Guarani Kaiowá
10 de Maio de 2009 - Gilberto
Costa - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Levantamento divulgado pelo
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) durante
o Acampamento Terra Livre, organizado na última
semana em Brasília, mostra que 42 índios
da etnia Guarani Kaiowá foram assassinados
em 2008. No ano passado, também ocorreram
34 suicídios.
“Sem terra, não tem muito
sentido a vida”, disse Anastácio Peralta,
líder indígena de Mato Grosso do Sul.
Para Peralta, há uma “política de
extermínio” contra os indígenas que
não querem “viver em favela” ou em reserva
com superconcentração populacional
para os padrões dos Guarani Kaiowá.
Na opinião do procurador
Marco Antônio Delfino de Almeida, do Ministério
Público Federal em Dourados, as mortes violentas
dos índios resultam da política de
colonização iniciada na década
de 1920. “A política do Estado gerou desestruturação,
uma perda de relações familiares e
outras consequências como a falta de recursos
naturais para prover a comunidade”, disse o procurador
lembrando que os índios chegaram a ser assentados
em área por onde não passava nem rio.
O procurador Emerson Kalif Siqueira,
do MPF em Campo Grande, explicou que a política
de colonização resultou no quadro
de hoje (agravado pela pressão do agronegócio).
“Se estivessem em área maior, não
teria ocorrido primeiramente a mistura de grupos
distintos, ou de aldeias distintas”, afirmou. Segundo
ele, com o aumento do número de índios,
ocorreram “disputas de espaço e poder” e
generalizou um quadro psicológico de “depressão”.
O antropólogo Fábio
Mura, que fez uma pesquisa e trabalho de campo na
região dos Guarani Kaiowá durante
sete anos, explicou que a cultura da etnia exige
que os grupos familiares estejam mais isolados.
“Um distanciamento espacial suficiente para reproduzir
continuamente espaços domésticos sem
ter como vizinho imediato uma família inimiga”,
afirmou.
+ Mais
Diretor da Famasul defende indenização
por “reserva megalomaníaca” e índios
empregados
10 de Maio de 2009 - Gilberto
Costa - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Os índios Guarani Kaiowá
acusam o agronegócio, especialmente o avanço
das plantações de cana-de-açúcar
e a monocultura da soja no sul de Mato Grosso do
Sul, como responsáveis hoje em dia pela não
demarcação das reservas. “A indústria
canavieira agravou uma situação que
já existia”, confirma o procurador Emerson
Kalif Siqueira, do Ministério Público
Federal em Campo Grande.
“Há manipulação
de informação no estado. Criou-se
um falso binômio alimentos, sim e demarcação,
não. Essa antítese não existe”,
disse Marco Antônio Delfino de Almeida, procurador
do MPF em Dourados. Segundo ele, o volume de terras
reivindicadas para a reserva não ultrapassa
0,5% das áreas do estado. “Em hipótese
alguma a demarcação vai afetar a produção.
As pessoas não vão passar fome pelo
fato de se reconhecer as terras indígenas
como reserva”, afirmou.
O diretor-secretário da
Federação de Agricultura e Pecuária
de Mato Grosso do Sul (Famasul), Dácio Queiroz
da Silva, rechaça qualquer acusação
de que o agronegócio possa ser responsabilizado
pela não demarcação das reservas
indígenas. Ele reclama do tamanho das extensões
pretendidas e da falta de indenizações.
"O que ocorre são
pretensões descabidas de proporções
descabidas, de calibre megalomaníaco, onde
há terras muito férteis de grande
valor agregado econômico”, enfatiza o dirigente
agrícola. “De maneira nenhuma se pode abrir
mão em detrimento de poucos das comunidades
que pretendem se instalar e levar ao ócio
essas terras e levar ao estado primitivo da condição
de caça e pesca”, afirmou.
“Não existe nenhuma previsão
orçamentária de indenizações.
Este é o problema porque não avançam
as demarcações”, falou. “O que está
impedindo é a falta de proteção
do proprietário particular privado sobre
a falta de demarcações e as megadimensões”,
disse. Para Dácio Queiroz, “a forma como
se interpreta a legislação traz no
seu bojo a nulidade de escrituras das terras privadas
onde existe a projeção de interesse
dos índios”.
Na opinião do diretor da
Famasul, “a qualidade de vida dos índios
seria melhor se lhes fosse dado alternativa de emancipação,
e eles poderem fazer uso de sua liberdade como os
demais, principalmente, nas zonas urbanas e nos
núcleo rurais, onde há mais empregos”,
afirmou.