23 de Maio de 2009
- Gilberto Costa - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - Os índios do Vale
do Juruá, localizado a oeste do estado do
Acre, estão preocupados com o impacto de
obras de infraestrutura na região. Os índios
temem as consequências ambientais e sociais
de obras, como a pavimentação da BR
364 e da exploração no estado e no
Peru. Além dos grandes projetos, há
preocupação com a produção
de etanol e com o cultivo da monocultura da cana
de açúcar.
De acordo com líder indígena
Haru Kontanawa, em entrevista ao programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia,
não há oposição sistemática
às iniciativas, apenas as comunidades afetadas
querem ser consultadas. “Nós não somos
contra o desenvolvimento do estado. Nós queremos
que o estado cresça, mas de maneira respeitosa.
Dentro da floresta têm povos e esses povos
têm direitos também”, assinalou.
Na avaliação de
Haru, as obras como da BR 364 já trouxeram
impactos, pois atravessam terras indígenas
ocupadas pelas etnias Katukina, Kaxinawá
e Shanenawa. Ele teme que as estradas funcionem
como vetor de desmatamento e urbanização.
“Não tem plano de sustentabilidade para as
comunidades”, enfatizou Haru, ao dizer que faltam
medidas para evitar o aumento da violência
e a transmissão de doenças no contato
com não índios.
Segundo o líder, os índios
não querem morar em cidades. “Uma coisa que
buscamos é a garantia de que vamos viver
sempre dentro da floresta, com nossos costumes,
nossas tradições e com condições
de viver. Nós não queremos que os
nossos povos venham se urbanizar da maneira como
está acontecendo, de forma que não
há escolha”, lamentou.
Haru Kontanawa também teme
que a exploração de petróleo
no Acre venha causar danos ambientais e a produção
de óleo no Peru possa afetar a qualidade
de vida dos índios brasileiros, que bebem
água, se banham e se alimentam com as águas
do Rio Juruá, que nasce no país vizinho.
“Esse petróleo, que vai fazer funcionar os
carros, vai também fazer parar o coração
de muitas pessoas aqui”, concluiu.
ONGs denunciam exploração
sexual de jovens indígenas gays e travestis
em Roraima
23 de Maio de 2009 - Karina Cardoso*
- Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
- Brasília - “Acho que meu pai tinha preconceito
de mim, porque ele me chamava de gay. Ele dizia
que ia me matar. Quem me ajudou a fugir foi minha
mãe. Eu tinha treze anos de idade."
A travesti Paulina Janine, hoje
com 24 anos, relembra os momentos tristes da adolescência,
quando ainda vivia com a família em uma aldeia
indígena em Normandia. Paulina é macuxi
e vive atualmente em Boa Vista onde ganha a vida
como garota de programa.
Esta é a realidade de muitos
jovens indígenas que migram para as capitais
na tentativa de fugir do preconceito nas aldeias.
E é nesta busca que grande parte desses jovens
é vítima da rede de exploração
sexual.
Em geral, os jovens explorados
sexualmente em Boa Vista são homossexuais
ou travestis. Alguns deles já foram contaminados
pelo vírus HIV. E alguns faleceram por terem
desenvolvido a Aids.
Para conscientizar esses jovens
sobre doenças sexualmente transmissíveis
e sobre a importância da camisinha e do tratamento
médico surgiu, em 2003, o Grupo Diversidade.
O presidente do grupo, Sebastião
Diniz Neto, afirma que a instituição
atua diretamente com 50 jovens de 16 a 25 anos por
meio de encontros, palestras e ações,
como distribuição de camisinhas. Todos
os integrantes são homossexuais ou travestis.
Alguns, portadores do vírus HIV.
Diniz afirma que há preconceito
nas aldeias e até mesmo entre as lideranças
indígenas.
“O próprio tuxaua já
é machista. Ele entende que aquilo não
pode acontecer. Entende que o índio do sexo
masculino tem que gerar crianças. Principalmente
os travestis são postos na rua. Então
eles ficam isolando, isolando, até a pessoa
se isolar de vez e sair da comunidade."
O presidente do Grupo Diversidade
acrescenta, ainda, que a rede de exploração
sexual se coloca como única opção
de sobrevivência para esses jovens.
“A gente encontra uma certa dificuldade
por falta de opção de emprego. Quando
o mercado de trabalho abrir as portas elas vão
sair da prostituição. Vontade elas
têm. Fizemos uma pesquisa sobre o que fariam
a não ser prostituição, deu
enfermagem, cabeleireira."
A travesti indígena Simone
da Silva Santos, de 28 anos, também deixou
Normandia ainda adolescente e foi tentar a vida
em Boa Vista. Foi na rede de exploração
sexual que encontrou meios para ajudar financeiramente
a mãe.
“As vezes mamãe liga pra
mim. As vezes ela chora por mim também. Eu
sofri mas eu ajudei ela também. Ajudei mamãe
a comprar uma casa para ela.”
Por meio das ações
do Grupo Diversidade, Simone tenta mostrar para
as amigas a importância do sexo protegido.
“As vezes eles me dão um
pacote de camisinha para eu entregar para as pessoas
que estão precisando. Eu ajudo elas também.
Como eles estão me ajudando eu tenho que,
pelo menos, ajudar as pessoas também.”
Na tentativa de afastar a rede
de exploração sexual, o Grupo Diversidade
oferece curso de cabeleireiro para que os jovens
aprendam uma profissão. Foi o caso do indígena
Eduardo Macuxi que, mesmo com o preconceito, não
ingressou na prostituição e hoje trabalha
em um salão de Boa Vista.
“A minha primeira experiência
foi através de lá [do grupo]. Porque
eu conhecia vários cabeleireiros e eles falavam
pra entrar na área. Eu disse que um dia ia
tomar uma decisão e entrar.”
A presidente da Organização
Indígena Positiva do Estado de Roraima, Nívea
Pinho, explica que, além do preconceito existente
nas aldeias, há também a dificuldade
dos próprios indígenas de pedir e
conseguir ajuda quando um dos integrantes da família,
por exemplo, está infectado com o vírus
do HIV ou quando é vítima de abuso
sexual.
“Geralmente as famílias
preferem sair da comunidade. Não resolver
o problema e vir morar em Boa Vista. Passar por
dificuldades e uma série de coisas."
O administrador substituto da
Fundação Nacional do Índio
(Funai) de Roraima, Petrônio Barbosa, disse
desconhecer o problema vivido por indígenas
homossexuais e travestis nas comunidades.
“A Funai não tem conhecimento
de casos como este. Até agora não
chegou nenhum caso."
Para o conselheiro do Conselho
Tutelar de Boa Vista, Rony da Silva, a rede de exploração
sexual se beneficia da falta de estrutura familiar.
Por isso, ele explica que o órgão
municipal, responsável pela defesa dos direitos
de crianças e adolescentes, atua para desenvolver
a estrutura da família.
“Nós vemos hoje uma grande
deficiência dentro da estrutura familiar.
E nós procuramos trabalhar na estrutura da
família, fazer encaminhamentos para rede
de acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
Então temos toda uma rede onde nós
podemos trabalhar com a estrutura da criança
e da família."
A Organização de
Mulheres Indígenas de Roraima também
atua na conscientização dentro das
aldeias indígenas. Para a coordenadora do
órgão, Kátia Januário
de Souza, a educação é a maior
rival da exploração sexual.
“Não queremos ver nossos
filhos na prostituição. A gente quer
ver nossos filhos estudando, se formando. Também
somos capazes de ser doutor, advogado e tudo mais."