04 de
Junho de 2009 São Paulo (SP), Brasil — Os
dados científicos são claros: para
salvar o clima do planeta, temos que reduzir drasticamente
as emissões de CO2 no mundo até 2015.
No entanto, mesmo com todos os alertas da comunidade
científica e de ambientalistas, o mundo continua
aumentando suas emissões.
O Brasil tem um papel fundamental
nas discussões sobre mudanças climáticas
por ser o quarto maior emissor de gases do efeito
estufa do mundo. Em função disso,
e por conta de um discurso que no ano passado incluiu
o anúncio de um Plano Nacional de Mudanças
Climáticas, o país tem assumido papel
de destaque nas discussões globais. Traduzir
o belo discurso internacional em ações
domésticas concretas que ajudem a salvar
o clima do planeta é o grande desafio.
Zerar o desmatamento da Amazônia
é uma grande contribuição que
o Brasil poderia dar para combater as mudanças
climáticas, já que a maior parte das
emissões brasileiras de gases do efeito estufa
é proveniente da destruição
da floresta. Ao invés de trabalhar nesse
sentido, no entanto, o BNDES, banco vinculado ao
governo federal, oferece crédito para criadores
gado na Amazônia. O Senado, por sua vez, aprovou,
em plena semana do Meio Ambiente, uma medida provisória
que entrega uma área de floresta equivalente
aos estados de São Paulo, Ceará e
Rio Grande do Sul juntos para produtores rurais
que ocuparam e desmataram ilegalmente essas terras.
O governo brasileiro tem ignorado
outra forma de combate ao aquecimento global: a
introdução de energia novas renováveis
produzidas a partir de vento, biomassa, sol e das
ondas na matriz brasileira. Contrariando a tendência
mundial, o governo brasileiro anunciou o Plano Decenal
de Expansão de Energia (PDE) para o período
de 2008 a 2017 que aumenta a participação
de usinas a carvão e óleo combustível
na geração de energia elétrica.
Ou seja, o Brasil vem optando pelas fontes sujas,
que agravam ainda mais o problema do aquecimento
global.
Os oceanos também não
estão recebendo a devida atenção
do governo. Quase ninguém se lembra, mas
eles são fundamentais para manter o clima
do planeta. A criação de áreas
marinhas protegidas é uma ferramenta importante
para mantê-los limpos e saudáveis para
desempenhar a função de regulador
climático adequadamente. No Brasil, apenas
0,4% dos mares são protegidos atualmente.
Enquanto o governo fecha os olhos
para a lição de casa que precisa fazer
para ajudar a resolver a crise climática
global, os efeitos das mudanças do clima
já começam a ser sentidos pela população
brasileira.
Este ano, enquanto no Norte e
Nordeste cidades inteiras estavam em baixo d´água,
por conta das piores enchentes da história
da região, no sul a seca castigava a população
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Segundo dados
da Organização Mundial de Saúde
(OMS), a incidência de eventos climáticos
extremos no Brasil, aumentou entre 1970 e 2008,
causando a morte de mais de seis mil pessoas e prejuízos
da ordem de US$ 10 bilhões.
Em novembro de 2008, chuvas torrenciais
provocaram em Santa Catarina a morte de mais de
130 pessoas e milhões de reais em prejuízos
materiais.
Eventos climáticos como
esses podem se tornar rotina para milhões
de brasileiros se o governo continuar fazendo escolhas
erradas e incoerentes na hora de combater o aquecimento
global. Independentemente de seu histórico
como emissor de gases do efeito estufa, o Brasil
não pode se eximir de sua responsabilidade.
O desenvolvimento econômico do país
não precisa ser feito às custas do
clima da Terra.
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Nova reserva extrativista de Cassurubá
beneficiará pescadores e vida marinha
05 de Junho de 2009 Na região
de Abrolhos, a exploração de petróleo
e a carcinicultura ameaçam uma grande área
de algas calcáreas, que funcionam como depósitos
de carbono.
São Paulo (SP), Brasil — A unidade de conservação,
de mais de 100 mil hectares, será instalada
nos manguezais da região de Abrolhos, no
sul da Bahia.
O Brasil ganhou nesta sexta-feira
(5/6) mais uma unidade de conservação,
a reserva extrativista do Cassurubá, a ser
instalada nos manguezais da região de Abrolhos
(BA). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
foi a Caravelas, no sul da Bahia, e assinou o decreto
de criação da reserva, que deverá
beneficiar cerca de mil famílias de pescadores
e marisqueiros da região.
Na oportunidade, também
foram anunciadas a expansão do Parque Nacional
do Pau Brasil (BA), as reservas extrativistas de
Prainha do Canto Verde (CE) e Renascer (PA) e o
Monumento Natural Talhado do São Francisco
(Caatinga).
“A criação de áreas
marinhas protegidas é importante para o meio
ambiente e a reserva de Cassurubá é
um avanço nesse sentido. No entanto, ainda
há muito por fazer, como por exemplo, a zona
de amortecimento de Abrolhos", afirma Leandra
Gonçalves, coordenadora da campanha de Oceanos
do Greenpeace.
A nova reserva extrativista abrange
uma área de mais de 100 mil hectares de estuários,
restingas, mangues e ambientes marinhos entre as
cidades de Caravelas e Nova Viçosa, no sul
da Bahia, contribuindo para a proteção
dos principais ambientes costeiros do banco dos
Abrolhos, onde estão 95% dos manguezais da
região, considerados berçários
de várias espécies de importância
ecológica e econômica.
A criação da reserva
era uma antiga demanda de pescadores e marisqueiros
para proteger a região de ameaças
como a especulação imobiliária
e projetos de carcinicultura (criação
de camarão), além da exploração
de óleo e gás.
“A decisão do governo de
criar a reserva de Cassurubá merece ser parabenizada,
pois consagra uma luta das comunidades locais, ONGs
e representantes do governo, em um processo de grande
participação popular, em que todas
as consultas públicas foram cumpridas”, observa
Renato Cunha, coordenador do Grupo Ambientalista
da Bahia (Gamba).
De acordo com a Lei 9.985/00,
as reservas extrativistas (Resex) são unidades
de conservação de uso sustentável,
categoria que tem como objetivo harmonizar a exploração
dos recursos naturais renováveis e o bem-estar
sócio-cultural das comunidades locais com
a conservação da biodiversidade.
Ronaldo Oliveira, analista ambiental
do Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), alerta para o fato de
que a criação formal da resex é
apenas um passo para alcançar seus objetivos.
“A necessidade de organização
comunitária agora se amplia, pois cabe à
população tradicional participar ativamente
da gestão da unidade. Somente com união
e pressão sobre o estado brasileiro serão
conquistados direitos que garantirão a sustentabilidade
socioambiental da região”, disse Ronaldo
Oliveira.
Guilherme Dutra, biólogo
e diretor do Programa Marinho da Conservação
Internacional (CI-Brasil), explica que somada à
importância para a conservação
da biodiversidade do banco dos Abrolhos, o estuário
do Cassurubá apresenta grande interesse econômico
e social.
“Grande parte das espécies
de interesse para a pesca completa uma porção
de seu ciclo de vida no estuário do Cassurubá”,
afirma.
Espécies - Na área da reserva extrativista
de Cassurubá dá-se a extração
de caranguejo-uçá, guaiamum, siri,
aratu e vários moluscos. Três espécies
de tartarugas-marinhas - tartaruga-verde, tartaruga-de-pente
e tartaruga-cabeçuda - também são
frequentemente encontradas na área da reserva.
A unidade de conservação marinha também
ajudará a proteger várias espécies
de crustáceos e peixes marinhos ameaçadas
de extinção, como o camarão-rosa,
camarão-sete-barbas, mero e cioba.