As descobertas
são resultado de um Programa de Avaliação
Rápida realizado por cientistas da Conservação
Internacional
Arlignton, EUA, 16 de junho de
2009 — Uma extraordinária variedade de espécies,
muitas provavelmente novas para a ciência,
foram encontradas durante uma expedição
a uma das fronteiras internacionais mais disputadas
na história recente.
As novas espécies foram
descobertas durante um Programa de Avaliação
Rápida (RAP, na sigla em inglês) da
ONG Conservação Internacional (CI)
nas florestas da Cordilheira do Condor no sudeste
do Equador, uma área de grande importância
biológica, ecológica e social, próxima
à fronteira com o Peru. A expedição
científica teve como foco a bacia do alto
rio Nangaritza, que é isolada de outras regiões
dos Andes em termos geológicos, o que ajuda
a estimular a evolução de espécies
endêmicas, ou seja, aquelas que não
são encontradas em nenhum outro lugar do
mundo.
No total, foram descobertos quatro
anfíbios, um réptil e sete insetos,
incluindo uma salamandra de olhos esbugalhados e
um minúsculo e venenoso sapinho-ponta-de-flecha
do gênero Dendrobates. A CI espera que estas
descobertas estimulem o governo do Equador a fortalecer
a proteção da área, que fica
próxima a um parque internacional da paz,
criado no final dos anos 90 para marcar o fim das
hostilidades entre o Equador e o Peru depois de
décadas de disputa pela área fronteiriça.
A expedição foi
realizada pela CI em parceria com a Fundação
Arcoiris e a Pontifícia Universidade Católica
do Equador e financiada pelas Fundações
Gordon e Betty Moore, Mulago e Leon e Toby Cooperman
Family.
“As espécies que descobrimos
nesta expedição são fascinantes
e mostram a importância biológica dessa
área, não somente por causa da variedade
de plantas e animais que vivem lá, mas também
por conta dos serviços que os ambientes nativos
prestam às comunidades locais, como água
limpa e oportunidades de geração de
renda a partir do ecoturismo. É fundamental
que os ecossistemas da região sejam protegidos
de maneira adequada”, afirma a vice-presidente do
Programa de Avaliação Rápida
da CI, Leeanne Alonso.
Além das espécies
provavelmente novas para a ciência, a equipe
também encontrou diversos animais raros,
como uma perereca-de-vidro e uma população
saudável de sapos arlequins do gênero
Atelopus que antes haviam sido devastados pelo fungo
quitrídeo, que, ao lado de outros fatores,
como desmatamento e mudanças do clima, impõe
uma séria ameaça de extinção
sobre até 30% das espécies de anfíbios
do mundo.
Entre outros animais incomuns
encontrados nesta expedição estão
insetos da família Tettigoniidae conhecidos
como esperanças e várias espécies
de anfíbios e mamíferos nunca registrados
no Equador. Além disso, foram descobertas
duas espécies de aves que são endêmicas
da Cordilheira do Condor, 25 espécies consideradas
raras no Equador e 11 espécies ameaçadas
ou quase ameaçadas a nível mundial.
“A preservação dessa
incrível cadeia de montanhas é perfeitamente
possível, e mais factível até
do que muitas outras florestas tropicais, devido
ao papel ativo que as comunidades locais estão
desempenhando na pressão pela sua proteção”,
diz Alonso.
O diretor executivo da CI no Equador,
Luis Suarez, complementa: “Essa é uma floresta
de montanha praticamente intacta. Sua fauna e flora
foram quase intocadas pelo homem, só sendo
conhecida pelas comunidades locais, que a tratam
com respeito. Mas agora há muitas ameaças
externas, como agricultura, mineração
e extração ilegal de madeira. Por
isso, é fundamental que a comunidade mundial
e o governo do Equador reconheçam a importância
desse lugar e lhe dêem a forte proteção
que merece”.
+ Mais
Brasil ganha Reserva Extrativista
do Cassurubá
Governo federal oficializa, no
Dia Mundial do Meio Ambiente, nova Unidade de Conservação
que beneficia cerca de 1.000 famílias de
pescadores e marisqueiros nos manguezais de Abrolhos
Salvador, 04 de junho de 2009
— O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
viaja a Caravelas (BA) amanhã (sexta-feira,
05/06) pela manhã, para a criação
da Reserva Extrativista (Resex) do Cassurubá,
nos manguezais da região de Abrolhos. O presidente
deve pousar na região com sua comitiva e
seguirá para a cidade de Caravelas, localizada
no sul da Bahia, onde assinará o decreto
de criação da Resex. O ato público
acontecerá na comunidade pesqueira de Ponta
de Areia às 11 horas e será parte
das comemorações do Dia Mundial do
Meio Ambiente e da Ecologia, que se celebra em 05
de junho.
A nova unidade de conservação
(UC) abrange uma área de 100.687 hectares
de estuários, restingas, mangues e ambientes
marinhos entre as cidades de Caravelas e Nova Viçosa
(BA), beneficiando cerca de 1.000 famílias
de pescadores e marisqueiros que dependem dos recursos
naturais da região. Além disso, a
reserva contribuirá para a proteção
dos principais ambientes costeiros do Banco dos
Abrolhos, onde estão 95% dos manguezais da
região, considerados berçários
de várias espécies de importância
ecológica e econômica.
Demanda comunitária - A
idéia da Resex surgiu a partir de solicitações
de marisqueiros, extrativistas e pescadores preocupados
com a ação de catadores de caranguejo
vindos de outras regiões, com a especulação
imobiliária, dentre outras ameaças
aos ecossistemas que garantem o sustento das famílias
locais. Um dos principais desafios da comunidade
foi lutar contra a proposta de implantação
na região do maior projeto de carcinicultura
do país, da Cooperativa de Criadores de Camarão
do Extremo Sul da Bahia – Coopex, empreendimento
considerado incompatível com a conservação
da área e que gerou muitos conflitos na região.
Outros possíveis conflitos com os setores
de óleo e gás e de celulose foram
minimizados, através de ajustes nos limites
da reserva.
“A decisão do governo de
criar a Resex de Cassurubá merece ser parabenizada,
pois consagra uma luta das comunidades locais, ONGs
e representantes do governo, em um processo de grande
participação popular, em que todas
as consultas públicas foram cumpridas”, observa
Renato Cunha, coordenador do Grupo Ambientalista
da Bahia – GAMBÁ.
Atraso de mais de um ano - O decreto
da Reserva do Cassurubá será publicado
com um ano e meio de atraso, após três
anúncios oficiais. O primeiro anúncio
da criação da Resex foi feito em dezembro
de 2007, junto com outras quatro UCs. Das UCs anunciadas,
apenas Cassurubá não teve o seu decreto
publicado em 21 de dezembro daquele ano.
Em maio de 2008 ocorreu o segundo
anúncio: durante passagem pela Convenção
sobre Diversidade Biológica (CDB) na Alemanha,
o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, mencionou
a Reserva como uma das que seriam criadas no Dia
Mundial do Meio Ambiente. No dia 05 de junho, o
Presidente Lula assinou os decretos de criação
de três unidades de conservação
na Amazônia, e mais uma vez ficou faltando
a Resex de Cassurubá.
Em novembro, durante a abertura
da Semana da Mata Atlântica, realizada no
Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Minc afirmou
que a Reserva Extrativista seria criada até
o início de dezembro. Este terceiro anúncio
foi noticiado pelo ICMBio, na página do Ministério
e também pelos veículos de imprensa
que acompanharam o evento.
A demora e a sucessão de
anúncios não-concretizados causaram
estranheza, frustração e indignação
em ambientalistas e nas comunidades locais, que
há mais de três anos pleiteiam a criação
da Reserva. “Mas agora que a Resex passa a existir
na prática, temos é que comemorar”
– afirma Seu José (Zequinha) Ferreira, que
integra o movimento de pescadores em Caravelas.
“A criação da Resex vai por uma ordem
no nosso lugar de pesca, pois não tem muito
peixe com tanta gente vindo de outro lugar colocar
as redes de pesca. A Resex vai garantir a nossa
tradição, o acesso na nossa forma
de ganhar dinheiro e pensar no futuro de nossos
filhos”, defende Seu Zequinha.
De acordo com a Lei 9.985/00,
as Reservas Extrativistas (Resex) são unidades
de conservação de uso sustentável,
categoria que tem como objetivo harmonizar a exploração
dos recursos naturais renováveis e o bem-estar
sócio-cultural das comunidades locais com
a conservação da biodiversidade. Ronaldo
Oliveira, analista ambiental do ICMBio, alerta que
a criação formal da Resex é
apenas um passo para alcançar esses objetivos:
“A necessidade de organização comunitária
agora se amplia, pois cabe à população
tradicional participar ativamente da gestão
da unidade. Somente com união e pressão
sobre o estado brasileiro serão conquistados
direitos que garantirão a sustentabilidade
socioambiental da região”.
Interesse econômico e social
- Guilherme Dutra, biólogo e diretor do Programa
Marinho da Conservação Internacional
(CI-Brasil), explica que somada à importância
para a conservação da biodiversidade
do Banco dos Abrolhos, o estuário do Cassurubá
apresenta grande interesse econômico e social:
“Abrolhos é a região mais piscosa
da Bahia e grande parte das espécies de interesse
para a pesca completa uma porção de
seu ciclo de vida no estuário do Cassurubá”,
afirma.
Segundo o professor Mário
Soares, do Núcleo de Estudos em Manguezais
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, as
restingas da região são um importante
manancial de água doce para o manguezal e
para o estuário. “Diferentemente de outros
estuários onde a água doce é
proveniente de grandes rios, no Cassurubá
esta fonte é o lençol freático,
fundamental para o ecossistema e a vida das comunidades
ribeirinhas".
Espécies - Na área
da Resex dá-se a extração do
caranguejo-uçá (Ucides cordatus),
do guaiamum (Cardisoma guaiumi), do siri (Callinectes
spp.), do aratu (Goniopsis cruentata) e vários
moluscos. Três espécies de tartarugas-marinhas
- Chelonia mydas (tartaruga-verde), Eretmochelys
imbricata (tartaruga-de-pente), e Caretta caretta
(tartaruga-cabeçuda) - também são
frequentemente encontradas na área da Resex
Cassurubá (predominantemente na zona marítima,
mas eventualmente também encontradas dentro
do estuário). A UC ajudará a proteger
também várias espécies de crustáceos
e peixes marinhos ameaçadas de extinção,
tais como o camarão-rosa (Farfantepenaeus
brasiliensis; F. paulensis; F. subtilis), o camarão-sete-barbas
(Xiphopenaeus kroyeri), o mero (Epinephelus itajara),
e a cioba (Lutjanus analis).
Outras UCs – Outras unidades de
conservação também devem ser
anunciadas amanhã, dentre as quais a expansão
do Parque Nacional do Pau Brasil e as Resex Renascer
(PA) e Prainha do Canto Verde (CE).
A Coalizão SOS Abrolhos
é uma rede de organizações
do Terceiro Setor mobilizadas para proteger a região
com a maior biodiversidade marinha registrada no
Atlântico Sul. A Coalizão SOS Abrolhos
surgiu em 2003, ano em que conquistou uma vitória
inédita para a conservação,
ao impedir a exploração de petróleo
e gás natural naquela área. A Coalizão
é atualmente formada pela Rede de ONGs da
Mata Atlântica; Fundação SOS
Mata Atlântica; Conservação
Internacional (CI-Brasil); Instituto Terramar; Grupo
Ambientalista da Bahia – Gambá; Instituto
Baleia Jubarte; Environmental Justice Foundation
– EJF; Patrulha Ecológica; Associação
de Estudos Costeiros e Marinhos de Abrolhos - ECOMAR;
Núcleo de Estudos em Manguezais da UERJ;
Movimento Cultural Arte Manha; Centro de Defesa
dos Direitos Humanos de Teixeira de Freitas; Mangrove
Action Project – MAP; Coalizão Internacional
da Vida Silvestre - IWC/BRASIL; Aquasis – Associação
de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas
Aquáticos; Agência Brasileira de Gerenciamento
Costeiro; Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento
do Extremo Sul da Bahia – CEPEDES; PANGEA - Centro
de Estudos Sócio Ambientais; Instituto BiomaBrasil;
Associação Flora Brasil e Greenpeace.