18 de
Junho de 2009 - Luana Lourenço* - Enviada
Especial - Cidade de Goiás - O Brasil pode
ser o primeiro país do mundo a entrar no
rol das nações desenvolvidas sem ter
desmatado toda a sua vegetação nativa,
como aconteceu na Europa e nos Estados Unidos. A
avaliação é do pesquisador
da Agência Espacial America (Nasa) e do Experimento
de Larga Escala da Biosfera – Atmosfera Amazônia
(LBA), Eric Davidson.
O caminho, de acordo com o pesquisador,
passa por soluções econômicas
para manter a floresta em pé, como o mercado
de carbono, mas principalmente pela mobilização
nacional em busca de alternativas de crescimento
econômico sustentável.
“O Brasil tem recursos humanos
nas áreas de energia, meio ambiente, modulagem,
sensoriamento remoto; tem recursos naturais, e também
tem a sociedade civil, tem democracia, tem debate.
Vocês podem conversar entre vocês sobre
o futuro de seu próprio país sem depender
da influência de outros”, apontou.
Segundo Davidson, o mercado de
carbono é atualmente a melhor oportunidade
de transferência de recursos “do Norte para
o Sul”, dos países mais industrializados
para as nações em desenvolvimento
– principalmente as que têm florestas – mas
ainda não é uma “solução
completa” para garantir a conservação.
“O carbono não é
biodiversidade, não é conservação,
mas tem valor de mercado. É um dos únicos
instrumentos que temos agora e movimenta muito dinheiro
[para investimentos em preservação]”,
ponderou. “Talvez outros países também
possam ajudar com treinamento, tecnologia, mas a
solução fica com vocês, com
a sociedade civil brasileira”, acrescentou.
Davidson acredita que o Brasil
tem papel fundamental na discussão do futuro
da regulação das emissões de
gases de efeito estufa, que será definido
durante a reunião da Convenção
Organização das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas em
dezembro, em Copenhague, na Dinamarca. “A posição
do governo brasileiro é muito importante
para se chegar a resultados. O Brasil é um
dos países chave porque tem muitas florestas”,
afirmou.
De acordo com o cientista, apesar
de a Amazônia ainda dominar o interesse internacional
por pesquisas sobre a biodiversidade brasileira,
o Cerrado começa a atrair atenções
e ser alvo de estudos específicos sobre a
contribuição do bioma para a emissão
de gases que aceleram as mudanças climáticas,
por exemplo.
“O estoque de carbono dentro dos
solos é enorme, porque o Cerrado é
um ecossistema onde as plantas tem raízes
muito profundas. Mas infelizmente há pouca
pesquisa. Há vários estudos preliminares
que mostram que existe uma grande perda de carbono
do solo com as mudanças no uso da terra na
área de Cerrado”, adiantou.
Davidson participou hoje (18)
de um fórum internacional sobre meio ambiente,
paralelo ao 11º Festival Internacional de Cinema
Ambiental (Fica).
+ Mais
Estudo indica que desmatamento
vai reduzir Cerrado à metade até 2050
18 de Junho de 2009 - Luana Lourenço*
- Enviada Especial - Cidade de Goiás - O
ritmo de desmatamento do Cerrado poderá elevar
de 39% para 47% o percentual devastado do bioma
até 2050, de acordo com projeções
do Laboratório de Processamento de Imagens
e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal
de Goiás. E a situação pode
ser ainda pior, de acordo com o professor Nilson
Clementino Ferreira, uma vez que as previsões
consideram apenas o desmatamento absoluto. “Se for
pensar em áreas degradadas, o número
pode chegar a 70% ou 80%”, calcula.
A abertura de áreas para
pastagens e agricultura e principalmente o avanço
da cana-de-açúcar – impulsionado pela
demanda de biocombustíveis – deverão
ser os vilões do Cerrado, de acordo com o
estudo apresentado hoje (18). A maior parte dos
desmatamentos na região até agora,
segundo o pesquisador, está próxima
a áreas de pastagem e no chamado Arco do
Desmatamento da Amazônia Legal, no cerrado
mato-grossense.
A baixa produtividade da pecuária
na região – que chega a destinar mais de
um hectare para cada boi – e a situação
fundiária “vergonhosa”, na avaliação
de Ferreira, também contribuem para a previsão
desanimadora para a área.
As lavouras de cana, que atualmente
ocupam 31 mil quilômetros quadrados, devem
chegar a uma área pelo menos quatro vezes
maior até 2050, com 145 mil quilômetros
quadrados plantados. “E a expansão deve seguir
o eixo da rodovia BR-153, muitos municípios
serão 100% ocupados pela cana”, prevê.
O zoneamento da cana – prometido
pelo governo há anos, mas ainda não
apresentado – não deverá ser suficiente
para conter o avanço da produção
sobre áreas remanescentes de vegetação
nativa. “O governo anunciou que a cana vai ter que
expandir sobre áreas degradadas mas não
avisou isso aos usineiros. A cana vai onde a terra
estiver preparada, geralmente em áreas de
agricultura”, apontou. Com a chegada da cana, a
tendência é que os produtores ocupem
novas áreas “mais ao norte”, levando as fazendas
para a Amazônia.
Segundo Ferreira, a destruição
do Cerrado coloca em risco a disponibilidade de
recursos hídricos para outros biomas, inclusive
a Amazônia. “Não se pode dissociar
os biomas. E há a falácia de achar
que ocupar o Cerrado é proteger a Floresta
Amazônica e o Pantanal, é uma falsa
blindagem ecológica”, afirmou.
O estudo foi apresentado hoje
durante fórum internacional, paralelo à
programação cultural do 11° Festival
Internacional de Cinema Ambiental (Fica).