Brasília
(19/06/09) - Numa operação integrada,
que reuniu fiscais de cinco reservas do Mosaico
Central de Unidades de Conservação
da Mata Atlântica Central Fluminense, no Rio,
o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) apreendeu 334 pássaros,
armadilhas e armas de caça e aplicou 66 multas
no valor total de R$ 790 mil. O balanço da
operação, que combateu ainda a pesca
predatória, extração de madeira
de mangue e invasão de áreas de preservação
da Mata Atlântica, foi divulgado nesta semana.
A ação ocorreu entre
os dias 4 e 10 de junho, período em que se
comemorou a Semana do Meio Ambiente, e contou com
o apoio do Ibama e de prefeituras da região.
Com o nome “Meio Ambiente em Dia”, a operação
teve a participação de fiscais dos
parques nacionais (Parna) da Serra dos Órgãos
e da Serra da Bocaina, da Área de Proteção
Ambiental (APA) Guapimirim, da Estação
Ecológica (Esec) Guanabara e da Reserva Biológica
(Rebio) do Poço das Antas.
As ações se concentraram
na região dos quatro municípios que
circundam o Parque Nacional da Serra dos Órgãos
– Teresópolis, Petrópolis, Guapimirim
e Magé –, mas atingiram também outras
localidades. A apreensão de pássaros
em cativeiro foi uma das principais preocupações
dos fiscais. A espécie mais recuperada foi
o chanchão (Sporophila frontalis), ameaçada
de extinção.
Criadores registrados no Sistema
de Controle de Passeriformes do Ibama (Sispass)
foram fiscalizados e, em caso de irregularidade,
tiveram os animais apreendidos. Uma equipe do Ibama/RJ
auxiliou na identificação das aves
e de anilhas adulteradas. A operação
reforçou as ações da campanha
“Pássaro legal é pássaro solto”,
promovida pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos
com o apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente
de Teresópolis e do Mosaico Central Fluminense.
No entorno do Parque da Serra
dos Órgãos, foram apreendidas armadilhas,
redes, trabucos e armas de caça em várias
residências. “A operação foi
importante para iniciar o controle efetivo nas áreas
incorporadas ao parque na ampliação
de 2008, especialmente o combate à caça
e a captura de pássaros. A participação
de outras unidades de conservação
foi importante para mostrar força e marcar
presença em áreas onde ainda não
tínhamos muita atuação”, destacou
o chefe do Parque, Ernesto Viveiros de Castro.
Em Teresópolis, foram recuperados
cerca de 96 pássaros silvestres mantidos
irregularmente em cativeiro e aplicadas multas aos
infratores. Também foram localizadas áreas
de desmatamentos irregulares. Na região de
Magé, além de 76 animais, foram apreendidas
armadilhas, gaiolas, redes de caça e trabucos.
Um infrator tinha ainda um gambá congelado
e parte de uma paca.
Na Área de Proteção
Ambiental (APA) Guapimirim e na Estação
Ecológica (Esec) Guanabara, as ações
se concentraram no ordenamento pesqueiro, combate
à exploração ilícita
de madeira de mangue e apreensão de animais
silvestres mantidos clandestinamente em cativeiro.
Foram verificadas licenças de pesca amadora
e apreendidas redes não permitidas. A equipe
de terra apreendeu 64 pássaros e alguns alçapões.
Na praia de Itaoca, foram destruídos currais
em construção com madeira de mangue
e apreendido um barco amarrado a toras prestes a
serem usadas nos currais, informou Breno Herrera,
chefe da APA e coordenador do Mosaico.
Em Petrópolis, a Secretaria
Municipal de Meio Ambiente participou da operação
e notificou os proprietários de sete casas
construídas em áreas de preservação
permanente (APP). Eles terão que demolir
as construções. O proprietário
de um terreno com loteamento irregular, que já
havia sido embargado, recebeu multa de R$ 40 mil.
Foram apreendidos ainda 35 pássaros em cativeiro
irregular e alçapões. Alguns animais
já foram soltos no seu habitat; outros passam
por tratamento e vão para criadouros conservacionistas
ou zoológicos.
O combate à caça
contou com reforço das equipes da Rebio Poço
das Antas e do Parque Nacional da Serra da Bocaina.
Foram realizadas quatro trilhas em áreas
incorporadas à unidade em 2008, encontrados
e destruídos três ranchos de caçadores
e um passarinheiro foi preso com animais ameaçados
recém-capturados. Na casa dele, as equipes
encontraram partes de animais congeladas e outros
petrechos de caça.
O coordenador da operação,
Leandro Goulart, que também coordena a área
de proteção ambiental do Parque da
Serra dos Órgãos, destacou a importância
da integração entre os vários
órgãos. “A experiência das equipes
das várias unidades, do Ibama e das secretarias
municipais foi importante para o sucesso da operação.
Tinha gente especializada em combate a tráfico
de animais, em pesca predatória e desmatamento
e ocupações irregulares. Ganhamos
em volume e capacidade de trabalho”, disse ele.
Breno Herrera considerou o saldo
da operação extremamente positivo.
Ele garantiu também que o trabalho não
teria tido êxito sem a integração
das equipes das várias unidades de conservação
que formam o Mosaico Central Fluminense. “Este modelo
de gestão por mosaicos de áreas protegidas
deve ser estimulado e replicado de modo a reforçar
a proteção da biodiversidade brasileira”,
propõs o analista ambiental.
Ascom/ICMBio
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Harpia solta há um ano
na Mata Atlântica é fotografada por
pesquisadores no Parque Nacional Pau-Brasil
Brasília (19/06/09) - Pesquisadores
fotografaram a primeira harpia adulta solta a um
ano e que vem sendo monitorada via satélite
no Brasil. Ela foi avistada no Parque Nacional Pau-Brasil,
unidade de conservação gerida pelo
Instituto Chico Mendes em Porto Seguro/BA. Em maio
de 2008 ela havia sido solta no parque. O sucesso
do trabalho de pesquisa representa que a biodiversidade
existente comporta animais do topo da cadeia alimentar,
como é o caso da Harpia – espécie
considerada a maior ave de rapina das Américas.
Ela é o quinto indivíduo
de vida livre a receber uma anilha do Centro Nacional
de Pesquisa para Conservação das Aves
Silvestres (Cemave), centro especializado do ICMBio;
e o segundo no Brasil (a primeira adulta) a receber
um radiotransmissor equipado com GPS para rastreamento
de sua movimentação, mas o primeiro
indivíduo a ser marcado e monitorado na Mata
Atlântica. Os demais foram marcados e monitorados
na Amazônia.
A ave será monitorada por
satélites brasileiros por três anos,
gerando informações sobre a movimentação
na floresta Atlântica e nos mosaicos formados
pelas matas e plantios de eucalipto, bem como a
distância de dispersão desta espécie
nesta região. Segundo Mantovani, os resultados
do 1o ano de monitoramento mostram que ela voou
muito além do parque, usando uma área
equivalente a duas vezes o tamanho da unidade de
conservação.
De acordo com o pesquisador da
ONG SOS Falconiformes, Gustavo Carvalho, eles receberam
as coordenadas e entraram na mata na madrugada do
dia 10. “Depois de muita caminhada, conseguimos
avistá-la pousada em uma árvore, por
volta das 9 horas da manhã”, comemorou Carvalho.
O gavião-real vem sendo monitorado, via satélite,
desde o dia 15 de maio do ano passado, quando foi
solto pelos pesquisadores do Projeto, após
passar 15 dias em avaliação. A ave
está em boas condições de saúde,
mostrando que está conseguindo sobreviver
no seu hábitat.
O “Projeto Harpia na Mata Atlântica”
é um dos subprojetos do Programa de Conservação
do Gavião-real, também coordenado
pela pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa), Tânia Sanaiotti,
e que teve seu início na região Amazônica
há dez anos, cujo objetivo principal é
a conservação da espécie no
Brasil.
Ele é financiado pela Veracel
Celulose S.A e desenvolve ações integradas
entre pesquisadores do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas
(Inpa), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), Ibama, Associação Brasileira
de Falcoeiros e Preservação de Aves
de Rapina (ABFPAR), SOS Falconiformes, CRAX e RPPN
Estação Veracel.
Histórico - O que salvou
este exemplar da harpia solto em maio de 2008 foi
a iniciativa dos funcionários e irmãos
João e Osvaldo Pereira dos Santos, da Fazenda
Aliança, em Itagimirim/BA. Depois de encontrarem
a ave caída no campo, eles a levaram a cavalo
para a sede da fazenda e buscaram ajuda do Ibama.
Após o resgate, os fiscais
do Ibama entraram em contato com a equipe da Estação
Veracel, que desde 2004, trabalha na reabilitação
de um outro exemplar da harpia que vive em cativeiro
há 12 anos. Com a orientação
da equipe, o animal foi para o Centro Médico
Veterinário do Dr. Mário D'ávila,
em Eunápolis, onde recebeu tratamento. Mais
tarde, com a participação dos pesquisadores
do Projeto Gavião Real, foi possível
avaliar o animal e planejar a sua soltura.
Outra ave está pronta para
retornar a natureza - Ao mesmo tempo que comemoram
os resultados de um ano de monitoramento, os pesquisadores
se preparam para a soltura de um outro exemplar
de gavião-real, que será a 1ª
harpia do mundo a retornar a natureza, depois de
viver 12 anos em cativeiro.
A soltura está prevista
para julho. A ave foi avaliada pelo pesquisador
Roberto Azeredo, presidente da Sociedade de Pesquisa
da Fauna Silvestre-CRAX, que acredita que o animal
está em condições para retornar
a natureza.
Este gavião-real vive num
cativeiro construído especialmente para ele
na RPPN Estação Veracel, desde 1997,
quando foi entregue por fiscais do Ibama, após
ser resgatado na região. Em 2004, foi avistado
outro gavião-real na Estação
e, em 2005, um ninho foi encontrado na mesma área.
Isso despertou o interesse para que fosse realizada
a soltura da ave ainda em cativeiro.
Ascom/ICMBio