14 Jul 2009 Os países do
G8 (grupo dos sete mais ricos do planeta mais a
Rússia) e do G5 (grupo dos emergentes Brasil,
China, Índia, México
e África do Sul) estiveram reunidos de 8
a 10 de julho na Itália. Como deter o aquecimento
global foi um dos temas do encontro.
Esta foi a primeira vez que as
maiores economias do planeta reconheceram o alerta
que os cientistas vêm dando de que é
preciso manter o aquecimento global abaixo de 2ºC
em relação aos níveis pré-industriais.
Estudos científicos têm
apontado que, caso contrário o planeta fique
mais quente que 2ºC, poderemos observar conseqüências
dramáticas como o colapso do sistema atual
de circulação de correntes marítimas
dos oceanos e a transformação de boa
parte da floresta amazônica em algo parecido
com uma savana.
No entanto, somente essa declaração
sobre a temperatura do globo não basta para
deter o aquecimento global. Os países industrializados,
responsáveis pela maior parte dos gases de
efeito estufa já emitidos até hoje,
precisam se comprometer a reduzir drasticamente
essa poluição.
"Infelizmente, os países
do G8 falharam ao não se comprometerem agora
com a solução da questão. Isso
mostra uma clara falta de vontade política
para que seja realmente assinado um acordo global
de clima justo e eficiente em dezembro deste ano,
em Copenhague", afirma Denise Hamú,
secretária-geral do WWF-Brasil.
Os países ricos também
não reafirmaram seu compromisso de disponibilizar
recursos para que os países em desenvolvimento
possam reduzir suas emissões e estabelecer
ações de adaptação às
mudanças climáticas. Os mais pobres
são os que mais vão sofrer com as
consequências do aumento de temperatura do
planeta.
Em junho deste ano, a Rede WWF,
junto com o WWF-Brasil, e outras organizações
não governamentais apresentaram uma proposta
de tratado para servir de base para as discussões
até Copenhague. O texto indica que os países
industrializados precisam cortar drasticamente suas
emissões de gases de efeito estufa nas próximas
décadas.
E, para garantir o que os países
em desenvolvimento consigam mudar seu padrão
atual para um de baixo carbono (que emita poucos
gases de efeito estufa) e enfrentar os impactos
causados pelas mudanças climáticas,
é necessário que os mais ricos e que
poluíram mais até agora façam
investimentos da ordem de US$ 160 bilhões
anuais.
"Estamos a apenas quatro
meses da grande reunião das Nações
Unidas sobre clima na Dinamarca e até o momento
somente o governo do Reino Unido reconhece a escala
de recursos necessários (centenas de bilhões
de dólares anuais) para o combate às
mudanças climáticas", afirma
Kim Carstensen, líder da Iniciativa Global
de Mudanças Climáticas da Rede WWF.
"Até Copenhagen é
absolutamente crítico que os países
desenvolvidos se comprometam com cortes de suas
emissões de gases de efeito estufa em 40%
até 2020 e a destinar recursos para apoiar
os países em desenvolvimento a crescer reduzindo
suas próprias emissões e a fazendo
ações de adaptação",
completa.
Mas é importante ressaltar
que o compromisso não deve vir apenas dos
países desenvolvidos. O governo brasileiro
pode fazer muito mais. "É preciso que
as ações nacionais de combate às
mudanças climáticas sejam registradas
pelo Brasil junto à Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudanças
do Clima, e que o país defina metas claras
e planos de ação para zerar o desmatamento
na Amazônia, Mata Atlântica e demais
florestas.
Também é necessário
fazer investimentos maciços em eficiência
energética e energias renováveis não
convencionais como eólica, solar térmica
e solar fotovoltaica, o que hoje ainda não
ocorre", afirma a secretária-geral do
WWF-Brasil.
O país vive hoje uma situação
de contradição entre discurso e prática
na área ambiental. Enquanto o governo anuncia
o Plano Nacional de Combate às Mudanças
do Clima com metas para redução do
desmatamento e aumenta a fiscalização
nas florestas, parlamentares fazem movimentos contrários
à conservação do meio ambiente.
Está sendo discutida no
Congresso Nacional uma proposta que altera o Código
Florestal Brasileiro e permite a diminuição
da quantidade de floresta que o proprietário
é obrigado a deixar em pé.
"Este tipo de proposta que
vem ganhando força política no legislativo
está na contramão do que o país
tem feito para reduzir suas emissões de efeito
estufa e conservar a biodiversidade. Reduzir o rigor
das nossas leis ambientais, já tão
pouco respeitadas em nosso país, é
inaceitável", defende Hamú.
O Brasil é hoje o quarto
maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.
Cerca de 75% desses gases lançados na atmosfera
vem da derrubada e queimada de florestas, principalmente
da Amazônia.