22/07/2009 - Em toda a bacia amazônica
há um tipo de mamífero que, apesar
do porte avantajado, é difícil visualizá-lo
devido ao seu comportamento um tanto discreto e
à turbidez das águas dos rios da Amazônia.
Nas últimas três décadas, pesquisadores
da região realizaram uma série de
estudos que possibilitaram conhecer melhor e assegurar
a preservação dessa espécie
que está ameaçada de extinção,
o peixe-boi da Amazônia.
“Temos um mosaico de informações
sobre essa espécie, que é a única
das três existentes no mundo que vive em água
doce. São vários trabalhos que formam
um retrato que nos permite entendê-la melhor
no ecossistema e estudar medidas de conservação”,
diz a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa/MCT), Vera Maria Ferreira
da Silva. Ela abordou esse assunto em uma conferência
durante a 61ª Reunião Anual da SBPC,
em Manaus (AM).
De acordo com Vera Maria, o peixe-boi
da Amazônia exerce um papel fundamental na
cadeia alimentar e no ecossistema aquático
da região. Ao se alimentar nas grandes ilhas
de capim flutuante existentes nos rios da Amazônia,
o maior herbívoro aquático controla
o crescimento dessas plantas e, com suas fezes e
urina, fertiliza as águas, contribuindo para
a manutenção do ambiente. “Ele transforma
essas macrófitas em partículas menores,
por meio de suas fezes, que servem de alimento para
outras espécies de animais também
presentes nos rios da Amazônia”, conta a pesquisadora.
Extinção
O peixe-boi teve muita importância
no período de colonização do
Brasil, em que foi a base de alimentação,
primeiramente dos indígenas e, depois, dos
colonizadores europeus. Além de ser consumida
em diversas regiões do País, a carne
do animal era exportada para a Europa, preservada
em sua própria gordura, que também
era utilizada para iluminação. E seu
couro era usado para a fabricação
de cola e correias de maquinários, como as
de teares e veículos de locomoção,
o que levou ao rápido declínio da
espécie.
“Milhares de peixes-bois da Amazônia
foram mortos com essas finalidades. O padre José
de Anchieta já falava, em seus relatos da
época, sobre a matança do animal e
há diversos registros sobre a retirada deles
da Amazônia”, afirma a pesquisadora. Segundo
ela, em um desses documentos históricos consta
que, em um período de 30 anos, 200 mil couros
de peixe-boi foram exportados para fora da região
amazônica. E que as fêmeas, juntamente
com seus filhotes, eram mais vulneráreis
à captura e mais visadas pelos pescadores
por terem mais gordura acumulada do que os machos.
Os pesquisadores não possuem
estimativas do tamanho da população
de peixes-bois da Amazônia, devido à
dificuldade de se observar o animal em seu ambiente
natural. Programas de reintrodução
de filhotes mantidos em cativeiro, como o coordenado
pelo Laboratório de Mamíferos Aquáticos
(LMA), do Inpa, também estão dando
sua contribuição para a conservação
da espécie.
Fundado em 1974, o “Projeto Peixe-boi”,
do LMA, desenvolveu os primeiros estudos sobre a
biologia e conservação do peixe-boi
da Amazônia, em que obteve importantes resultados
sobre o metabolismo e a fisiologia da espécie.
Mas o maior passo dado pelos pesquisadores do Laboratório
foi conseguir reproduzir o animal, que vive mais
de 50 anos e se reproduz a partir dos sete anos,
em cativeiro. A capacidade de reprodução
em cativeiro possibilita repovoar outras áreas
da bacia amazônica onde a espécie não
estiver mais presente e manejá-la no ecossistema
aquático.
“O peixe-boi da Amazônia
é uma espécie que sobrevive bem em
cativeiro. Mas sua reintrodução no
ambiente natural é um desafio, porque esses
animais ficam muito tempo em tanques e é
difícil adaptá-los a uma nova vida,
na natureza, sem nunca terem vivido nesse ambiente”,
explica a pesquisadora.
Segundo ela, uma das linhas de
pesquisa em que estão trabalhando atualmente
é com a bioacústica. Já utilizada
em estudos populacionais de outras espécies
de mamíferos marinhos, como baleias e golfinhos,
por meio desta técnica, em que são
instalados aparelhos gravadores de som no fundo
dos oceanos, é possível estimar o
tamanho da população de uma espécie
em uma determinada área e analisar suas rotas
migratórias. “Com essa ferramenta para estudos
populacionais podemos fazer um censo acústico
para estimar quantos peixes-bois há em um
determinado rio ou lago e o número de animais
migrantes”, detalha a pesquisadora.
+ Mais
Insa e Serviço Florestal
Brasileiro discutem alternativas para preservação
da Caatinga
24/07/2009 - Os diretores do Instituto
Nacional do Semiárido (Insa/MCT), Roberto
Germano Costa, e do Serviço Florestal Brasileiro
(SFB), Luiz Carlos Joels, reuniram-se ontem (23),
na sede do Instituto, em Campina Grande (PB), para
discutir alternativas de parceria entre as duas
instituições, principalmente no que
se refere ao uso sustentável da vegetação
arbórea da Caatinga, ou seja, o manejo florestal.
De acordo com Joels, será
realizado um esforço conjunto para reforçar
a já existente Rede de Manejo Florestal da
Caatinga, que precisa ter maior interação
com a área de Ciência e Tecnologia.
A ideia surgiu após a identificação
da convergência de interesses e missão
institucional do Insa e do SBF, que é ligado
ao Ministério do Meio Ambiente.
“Nós vamos trabalhar em
conjunto, elaborando um plano de trabalho para encontrar
formas de expansão da rede, tanto em termos
de participantes como em ações. O
objetivo é mobilizar universidades, instituições
de pesquisa, secretarias estaduais de meio ambiente
e órgãos ligados ao setor de energia
da região, já que aproximadamente
um quarto da energia do Nordeste é proveniente
da exploração da Caatinga”, enfatizou
Joels.
O diretor do Insa, Roberto Germano
Costa, destacou a importância da realização
de um acordo envolvendo o Ministério da Ciência
e Tecnologia (MCT) e o Ministério do Meio
Ambiente (MMA), em aderência das linhas de
pesquisa com as políticas públicas
relacionadas ao tema.
“Esse convênio é
um passo fundamental para incentivar uma exploração
sustentável da riqueza do Semiárido,
uma vez que o manejo tem um papel muito grande para
a conservação da biodiversidade e
combate à desertificação”,
ressaltou Germano.
Nos próximos dias, representantes
do Insa e do SBF voltarão a se reunir para
definir uma agenda de trabalho comum, bem como a
governança da rede. O termo de cooperação
entre as instituições envolvidas será
assinado, em outubro, num evento organizado em parceria
com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Após a finalização do plano
será feita uma divulgação para
congregar as entidades nteressadas no assunto.