Posted on 19 August 2009 “Esse
estudo deixa evidente que o Brasil deve valorizar
o seu potencial de combate às mudanças
climáticas e espero que o debate possa ser
um marco inicial de uma postura mais ativa do Congresso
Nacional em relação ao tema” ressaltou
o deputado Sarney Filho (PV-MA), coordenador
–geral da Frente Parlamentar Ambientalista, após
a apresentação do estudo “Redução
das Emissões de carbono por Desmatamento
no Brasil: o papel do Programa Áreas Protegidas
da Amazônia (Arpa)”, na última quarta-feira,
dia 19 de agosto, em café da manhã
da frente parlamentar no anexo da Câmara dos
Deputados.
Realizado pelo Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia (Ipam) e Universidade
Federal de Minas Gerais, com apoio do WWF-Brasil
e Wood Hole Research Center, o estudo mostra que
13 unidades de conservação apoiadas
pelo Arpa reduzem as emissões de carbono
por desmatamento em 1,1 bilhão de toneladas
e comprova o papel central desempenhado por essas
áreas no combate às mudanças
do clima.
A mesa de apresentação
do estudo contou com a moderação de
Sarney Filho e exposições do coordenador
do Arpa no Ministério do Meio Ambiente, Anael
Aymoré; do superintendente de conservação
do WWF-Brasil, Claudio Maretti; do coordenador do
programa de mudanças climáticas do
Ipam e responsável pelo estudo na instituição,
Paulo Moutinho e do presidente do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade,
Rômulo Barreto Mello.
Durante as exposições,
foi ressaltado o desafio e a necessidade de fazer
com que o potencial de armazenamento de carbono
do sistema de unidades de conservação
da Amazônia seja visto como oportunidade de
envolver o Brasil no recebimento de pagamentos por
serviços ecológicos. Nesse sentido,
Maretti chamou a atenção para o fato
de que “o papel do Brasil será ainda mais
efetivo na mitigação e adaptação
às mudanças climáticas se for
levado em consideração que o sistema
de unidades de conservação funciona
de maneira integrada e que é necessária
uma gestão que compreenda isso”.
No fechamento do encontro, o deputado
Sarney Filho garantiu que a discussão da
mesa será levada à Comissão
Mista de Combate às Mudanças Climáticas
do Congresso Nacional e disse esperar que “isso
ajude na definição do modelo de participação
que o governo brasileiro terá nesse grande
encontro que é a COP 15 e que ainda está
incerto”.
+ Mais
Acre: Manejo de pesca conserva
ecossistemas e aumenta renda de pescadores
Posted on 26 August 2009 Em projeto
coordenado por WWF-Brasil e governo do estado do
Acre, pescadores criam regras para disciplinar a
atividade, gerando resultados de conservação
e de inclusão social
Por Bruno Taitson, de Manoel Urbano
(AC) A Terceira Feira do Pirarucu Manejado, realizada
no município acreano de Manoel Urbano, entre
21 e 23 de agosto, demonstrou os resultados positivos
do projeto de manejo do pirarucu (Arapaima gigas),
o maior peixe de água doce do planeta. No
evento, pescadores locais puderam comercializar
alimentos e objetos de artesanato elaborados a partir
da espécie, que vinha desaparecendo da região
no início desta década.
O projeto, que consiste em treinar
e capacitar pescadores para manejar o pirarucu de
forma ambientalmente adequada, gerou acordos de
pesca, que são regras elaboradas pelos moradores
locais com objetivo de assegurar, em longo prazo,
a sobrevivência da espécie e a viabilidade
econômica da atividade pesqueira. Os principais
resultados diretos são o aumento da produtividade
dos lagos, o crescimento da produção
de pirarucu nos lagos manejados, o repovoamento,
com casais da espécie em lagos onde o peixe
havia desaparecido e o consequente aumento da renda
dos pescadores.
Pedro de Nascimento, pai de oito
filhos, relata que sua renda com a pesca aumentou
mais de 50% após sua entrada, em 2007, no
grupo de manejadores que participa do projeto do
pirarucu. “Antes, demorava de dois a três
dias em Manoel Urbano para vender 60 quilos de peixe,
e muitas vezes levava prejuízo. Agora a gente
ganha muito mais”, diz.
O pescador destaca que, antes
da implementação dos acordos de pesca,
havia poucos peixes e a atividade era cercada de
incertezas. “Havia gente pescando dia e noite, com
malhadeiras de todos os tamanhos. Estavam acabando
com os peixes”, relata, salientando que as regras
ajudaram a garantir a sustentabilidade da pesca
nos lagos.
Os primeiros registros de escassez
do o pirarucu, importante fonte de renda e de proteínas
para populações ribeirinhas do alto
rio Purus (AC), aconteceram a partir de 2001. Diante
de uma demanda das colônias de pescadores
dos municípios de Sena Madureira e Manoel
Urbano, o WWF-Brasil e o governo do Estado, por
intermédio da Secretaria de Extensão
Agroflorestal e Produção Familiar
(Seaprof), elaboraram um projeto conjunto para o
manejo da pesca.
Em 2003, o manejo do pirarucu
foi aplicado como piloto no Lago Santo Antônio
(Manoel Urbano). Dados levantados ao longo do projeto
indicam que a produtividade dos lagos cresceu, em
média, 140%. Atualmente, acontece também
nos lagos Novo, Grande e Novo Destino, no mesmo
município. Além disso, começa
a ser implantado em comunidades ribeirinhas e terras
indígenas também no Acre, nas bacias
dos rios Envira e Tarauacá.
Mais tempo livre
Geraldo Bispo mora na região
dos lagos de Manoel Urbano há quase 40 anos
e participa do manejo do pirarucu desde o início
do projeto, em 2002. Ele relata que, atualmente,
com a melhoria da produtividade na pesca, tem mais
tempo para se dedicar à agricultura. “Antes,
precisava de mais de 30 peixes para dar o peso de
um quilo. Hoje, 12 peixes já pesam um quilo.
Em menos de duas horas consigo pescar o que preciso
para a subsistência”, relata.
O pescador, que tem nove filhos
– a mais nova com 14 anos – acrescenta que, com
o projeto, não só as populações
de pirarucus aumentaram, mas também as dos
demais pescados da região, como o mandi e
a branquinha.”O manejo está funcionando”,
avalia Geraldo Bispo.
Os impactos positivos em outras
espécies, relatados por Geraldo Bispo, são
de grande importância socioeconômica
para a região. Os peixes branquinha (Charex
gibbosus), mandi (Pimelodus spp.) e filhote (Brachyplathystoma
filamentosum) respondem por 65% do volume capturado
nos lagos de Manoel Urbano. “A presença em
abundância do pirarucu, espécie que
fica no topo da cadeia alimentar, é um significativo
indicador de conservação dos ecossistemas
aquáticos, por demonstrar que não
há escassez das demais espécies”,
esclarece Antonio Oviedo, técnico do WWF-Brasil
responsável pelo projeto.
Além do mais, por ser um
peixe sedentário, o pirarucu só permanece
em locais bem conservados. Assim, é possível
dizer que sua presença sinaliza a conservação
da vegetação às margens do
lago, bem como abundância de microrganismos
na água e uma atividade de pesca dentro de
padrões de sustentabilidade.
Mudança de atitude
Carlos Leopoldo, técnico
da Seaprof responsável pelo projeto, observa
que os lagos de Manoel Urbano estão em uma
região delicada, que sofre impactos ambientais
a partir do asfaltamento da BR-364 e de assentamentos
do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra). “Em sete anos
de projeto, temos conseguido mudar a atitude da
população local em relação
ao meio ambiente. Hoje eles têm a clara percepção
de que o recurso natural precisa ser utilizado de
forma sustentável”, destaca.
Organizada anualmente, a Feira
do Pirarucu Manejado incrementa a renda dos pescadores
e do comércio local, informa a população
a respeito de questões ambientais e também
leva entretenimento a moradores e visitantes. Durante
a feira foram comercializados diversos produtos
derivados do pirarucu, desde o filé (conhecido
como manta) até peças artesanais confeccionados
com as escamas do peixe.
Para a feira, foram capturados,
com autorização do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), 17 pirarucus, que pesaram cerca de 1,8
tonelada. Até o final de setembro, os pescadores
poderão pescar mais 22 unidades, atingindo
o total de 30% do estoque de pirarucu nos quatro
lagos manejados.. O percentual é estabelecido
de forma participativa de acordo com critérios
ambientais. Em 2007, na primeira edição
da feira, o volume pescado foi de uma tonelada.
Para o pesquisador Marcelo Crossa,
que atua como consultor no projeto, é preciso
seguir investindo em capacitação e
pesquisa, para que se acumule um maior volume de
conhecimento a respeito do pirarucu e, principalmente,
do comportamento do peixe em cabeceiras de grandes
rios da bacia amazônica, como é o caso
do rio Purus. “São características
diferentes daquelas manifestadas no médio
e baixo Amazonas”, explica.
Marcelo Crossa acrescenta que
o principal desafio do projeto é promover
o equilíbrio entre as necessidades ambientais,
sociais e econômicas. “Isso demanda pesquisa
e modelos de uso adaptativo dos recursos, além
de treinamento de técnicos, gestores e pescadores
nas regiões onde o manejo é aplicado”,
conclui.