31 de Agosto
de 2009 Ativistas do Greenpeace protestam durante
cerimônia de apresentação do
novo marco regulatório do pré-sal.
São Paulo, Brasil — O governo comemora as
novas reservas, mas não leva em consideração
seus impactos ambientais.
Ativistas do Greenpeace chamaram
a atenção hoje, durante a cerimônia
de apresentação do novo marco regulatório
do pré-sal, em Brasília, que o Brasil
precisa levar em consideração as emissões
de carbono e a poluição que serão
geradas pela exploração de suas novas
reservas petrolíferas. Assim que o presidente
iniciou seu discurso de celebração
do pré-sal, que o governo trata como a redenção
econômica e social do país, três
ativistas subiram ao palco e abriram uma faixa de
três metros com a frase: “Pré-sal e
poluição: não dá para
falar de um sem falar no outro”.
A segurança do presidente
pediu que a faixa fosse fechada. Os ativistas obedeceram,
dobraram a faixa e a entregaram ao presidente. Depois,
três deles ficaram perto do palco segurando
banners menores com os mesmos dizeres. Lula se fez
de surdo para a manifestação, seguiu
o script previamente acordado com seus marqueteiros
e não tocou na questão ambiental.
Desde que o país foi informado
sobre a quantidade de petróleo estocada na
camada do pré-sal, discutiu-se muita coisa.
Debateu-se técnicas para retirar tanta riqueza
de área tão profunda, formas de financiar
a sua exploração e até a criação
de outra estatal petrolífera. Os governadores
correram atrás de royalties que ainda nem
existem para seus estados. O governo federal prometeu
que com o dinheiro desse petróleo acabará
de vez com a pobreza.
Mas a única vez, em meio
à cacofonia do pré-sal, que se debateu
seus aspectos ambientais foi por iniciativa da imprensa,
que procurou a Petrobras para saber o que a empresa
pretendia fazer acerca das emissões de carbono
geradas pela exploração dos novos
poços. Ela respondeu que pretendia usar a
tecnologia de Captura e Armazenamento em Carbono,
conhecida a partir de sua sigla em inglês,
CCS, para impedir a emissão das milhões
de toneladas contidas nos poços do pré-sal.
“A questão é que
essa tecnologia é experimental e não
estaria tecnicamente viável antes de 2030”,
diz Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de
Energia do Greenpeace. Além desses obstáculos,
a CCS também terá de ultrapassar barreiras
financeiras. “O custo total do uso da CCS para capturar
o que se estima seja algo entre 12 e 18 bilhões
de toneladas de carbono contidas no pré-sal
pode chegar ao longo de todo o ciclo de exploração
a centenas de bilhões de reais”, continua
Baitelo.
Cálculos do Greenpeace
indicam que se a CCS não cumprir tudo o que
a tecnologia promete, e o Brasil estiver usando
todas as reservas estimadas do pré-sal, estaremos
emitindo ao longo dos próximos 40 anos em
torno de 1,3 bilhão de toneladas de CO2 por
ano só com refino, abastecimento e queima
de petróleo.
“Ainda que o desmatamento da Amazônia
seja zerado nos próximos anos, tudo indica
que as emissões decorrentes do pré-sal
podem anular o seu impacto positivo e manter o Brasil
entre os três maiores emissores de CO2 do
mundo”, alerta Baitelo. Num mundo que enfrenta uma
crise climática sem precedentes e onde já
se criou um consenso entre os países de que
é fundamental evitar que o aquecimento médio
da Terra ultrapasse os 2º graus Celsius, seria
normal imaginar que o governo brasileiro estivesse
trabalhando duro na busca de soluções
para reduzir ao máximo os impactos ambientais
do pré-sal.
Uma alternativa, talvez a mais
relevante, está justamente onde ele será
explorado: no mar. “Os oceanos são um importante
regulador climático”, explica Leandra Gonçalves,
coordenadora da Campanha de Oceanos do Greenpeace.
“Eles funcionam como o maior sumidouro de carbono
do planeta, com capacidade para absorver até
50% das emissões geradas pela atividade humana.”
Uma maneira de garantir a perpetuação
desta função está na criação
de áreas marinhas protegidas, que ainda trariam
o benefício adicional de proteger nossos
estoques pesqueiros e a biodiversidade do litoral
brasileiro. Mas área marinha protegida é
o tipo do assunto que não entra na agenda
do governo. Muito menos na agenda do pré-sal.
O presidente Lula sequer pensou em destinar recursos
da sua exploração para a criação
e manutenção de reservas marinhas.
E isso, no futuro, pode ter consequências
graves. Se a concentração de emissões
não for reduzida ao longo dos próximos
anos, os oceanos podem passar de mocinhos a bandidos
na luta contra o aquecimento global.
“O aumento das emissões
tem efeito nocivo nos mares, porque elas contribuem
para o aumento médio da temperatura da água.
Mares mais quentes têm menos capacidade de
absorção de CO2”, continua Gonçalves.
Além disso, concentrações excessivas
de CO2 provocam acidificação nos oceanos,
comprometendo a saúde dos corais, berços
importantes da biodiversidade marinha. “No Brasil,
já foram detectados indícios claro
de decadência de estruturas de corais na costa
de São Paulo e em Abrolhos, no litoral baiano.”