17 de Setembro de 2009 - Mariana
Jungmann - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - O ministro do Meio Ambiente,
Carlos Minc, disse hoje (17), após reunião
com os governadores dos nove estados da Amazônia
Legal, que os países ricos devem financiar
a redução do desmatamento
brasileiro.
“A posição brasileira
é que os países desenvolvidos têm
que fazer um dever de casa muito alto, porque eles
são os responsáveis [pelos problemas
ambientais que levaram ao aquecimento global]. Além
de reduzirem, eles têm que financiar os [países]
em desenvolvimento para preservar e reduzir as emissões”,
afirmou Minc.
Segundo ele, houve consenso, durante
a reunião, de que os estados do Norte precisam
receber recursos para “manter a floresta em pé”.
Minc afirmou também que o Brasil vai propor
a criação de um “mecanismo de mercado”
para financiar um adicional de redução
de carbono para os países ricos.
“A Europa, por exemplo, diz que
vai reduzir em 30% suas emissões. Nós
achamos que deveria ser em 40%. Então esse
fundo de mercado iria financiar essa diferença
de 30% para 40%”, explicou o ministro, sem dar mais
detalhes sobre como funcionará o financiamento.
O governador do Amapá,
Waldez Góes, também falou no financiamento
para os estados da Amazônia. “Nós preservamos
97% [da área de floresta no estado] e não
recebemos um centavo para isso”, afirmou. Ainda
segundo ele, os países ricos precisam diminuir
suas emissões e “acabar com essa história
de que a Amazônia é a vilã”.
O governador de Rondônia,
Ivo Cassol, também reclamou. Segundo ele,
com o atual comportamento dos países desenvolvidos
“não compensa” reduzir o desmatamento. “Para
que preservar se os países ricos não
ajudam? Eles são os mais industrializados,
os que mais emitem”, questionou o governador.
O ministro Carlos Minc disse que
a delegação brasileira vai “falar
grosso” na Conferência sobre Mudanças
Climáticas que acontecerá em dezembro
em Copenhague, na Dinamarca.
+ Mais
História da Amazônia
ainda guarda segredos e mistérios
5 de Setembro de 2009 - Amanda
Mota - Repórter da Agência Brasil -
Manaus - A Rádio Nacional da Amazônia
completou 32 anos nesta semana e hoje (5) é
o Dia da Amazônia. Para comemorar as datas,
a rádio organizou a série especial
Viver na Amazônia, que a Agência Brasil
está reproduzindo. A última reportagem
é sobre arqueologia. Vamos saber o que a
Amazônia revela do seu passado.
Com uma riqueza natural sem proporção,
a Amazônia preserva uma história de
milhões de anos. Ainda assim, detalhes sobre
quem viveu nessa área, o que comiam e o que
faziam os ancestrais do atual povo amazônico
até chegarmos aos dias atuais não
são fatos totalmente conhecidos.
Para tentar entender melhor a
história da Amazônia, muitos são
os estudos realizados na região. Exemplo
disso são as pesquisas sobre os impactos
da ocupação e do desenvolvimento na
Floresta Amazônica, nos últimos 500
anos.
Parte da história da ocupação
da Amazônia também passa pela África,
como comprova pesquisa realizada pela Universidade
Federal de Pernambuco. O estudo descobriu que uma
das colônias africanas mais ricas, criada
pelos portugueses - a vila de Mazagão, no
Marrocos - foi transferida para a Amazônia.
Isso aconteceu por ordem do rei
de Portugal, no século 18, para pôr
fim às constantes invasões e saques
que a vila de Mazagão sofria de outros povos
interessados na riqueza desses marroquinos.
A escolha pela Amazônia
foi uma estratégia e aliou a necessidade
de impedir os conflitos constantes com o desejo
da Coroa portuguesa de garantir a posse e o domínio
da Amazônia brasileira. Depois de um tempo
de pesquisa, a localização de restos
da primitiva igreja e vestígios de outras
unidades funcionais comprovaram a existência
da Vila de Mazagão Velho exatamente onde
hoje está o estado do Amapá.
Outra curiosidade histórica
está no Amazonas. O maior estado do país
em termos territoriais ainda guarda segredos nunca
antes estudados. Em Eirunepé, no sul do estado,
por exemplo, fósseis de animais gigantes
que viveram há milhares de anos na região
viraram enfeites exóticos em casas de ribeirinhos
e de comunitários. Possivelmente, a falta
de pesquisas e de orientações sobre
o que essas peças representam, deixaram muitos
desses objetos sem a devida importância histórica.
Entre os megafósseis encontrados
no Amazonas, estão os do Toxodon - um gigante
herbívoro, similar ao atual hipopótamo-,
e os do crocodilo Purussaurus - que segundo cientistas,
podia chegar a 18 metros de comprimento. A responsável
pelo laboratório de Paleontologia da Universidade
Federal do Amazonas, Rosemery Silveira, explicou
que é considerado fóssil todo e qualquer
vestígio de ser vivo preservado em rocha,
ou seja, petrificado, e com idade superior a 11
mil anos.
“Ainda falta entender melhor como
esses grupos de vertebrados evoluíram na
América do Sul e por isso as pesquisas no
campo da paleontologia são fundamentais”,
destacou.
Outras pesquisas revelam que a
maior riqueza de fósseis no Amazonas está
na área do Rio Juruá. Essas águas
seguem justamente até o estado vizinho do
Acre, onde já foram identificados mais de
200 geoglifos - sítios arqueológicos
construídos há pelo menos 2 mil anos.
Um geoglifo é uma marca
na terra que, por suas dimensões, só
é percebida se vista do alto. O desenho impresso
no solo mede de 100 a 300 metros de diâmetro.
Essas estruturas de terra se apresentam em formato
de círculos, retângulos e outros.
Os geoglifos já fazem parte
de uma lista do Instituto Nacional de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – o
Iphan – que recomenda à Organização
das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (Unesco) o tombamento
dessas estruturas.
Assim como as pirâmides
do Egito e as ruínas de Machu Picchu, no
Peru, os geoglifos do Acre poderão se tornar
patrimônio cultural da humanidade.
Para a arqueóloga do Museu
da Amazônia Helena Lima, as curiosidades aqui
citadas são apenas alguns exemplos de que
a Amazônia concentra muitas informações
que precisam ser melhor divulgadas.
“Precisamos descobrir, estudar
e pesquisar muitas coisas, mas o mais importante
é divulgar esse conhecimento. Tudo isso precisa
chegar nas escolas e nas comunidades para que se
possa de fato aprender as lições que
essa história tem para nos ensinar”, resumiu.
Estudar a história da Amazônia
poderá contribuir, por exemplo, para entender
melhor como se processaram as mudanças climáticas
na região, a contar do período pré-histórico
até os dias atuais. Além disso, o
país pode descobrir se a floresta sempre
foi detentora da vasta riqueza biológica
tão cobiçada atualmente.