13/10/2009 - Estimativas de um
estudo realizado por pesquisadores do Programa de
Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia
(LBA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa/MCT) apontam que a floresta amazônica
absorve anualmente da atmosfera algo entre meia
e uma tonelada de carbono (CO²) por hectare
de mata.
Essa característica natural
é responsável pela redução
desse gás de efeito estufa na atmosfera em
escala global e pode ser um dos serviços
ambientais usados pelo Brasil na negociação
internacional do mercado de carbono. “Se multiplicarmos
essa absorção de CO² pelo tamanho
da Amazônia, chegaremos a um volume imenso
desse gás retirado da atmosfera, o que beneficia
todo o planeta”, diz Luizão, pesquisador
do Inpa.
A informação foi
dada na sexta-feira (9) em palestra na Cúpula
Amazônica de Governos Locais. O evento se
realiza em Manaus (AM) desde quarta-feira (8) e
tem como proposta inserir a Amazônia nas negociações
internacionais sobe mudanças climáticas.
Absorção de carbono
Conforme o pesquisador, a floresta
também está absorvendo parte do carbono
presente na atmosfera há longos períodos.
“Temos dados sólidos demonstrando que a floresta
está crescendo e fixando o carbono que estava
na atmosfera por um longo período. Essa limpeza
é um serviço ambiental inestimável”,
explica.
Segundo Luiz, além da absorção
de CO², o ciclo hidrológico da Amazônia
também atua como um centro de redistribuição
de chuvas para as Américas Central e do Sul.
“Os jatos de ar, carregados de
vapor de água, que entram do Oceano Atlântico
para a Amazônia, quando chegam aqui são
redistribuídos em forma de jatos baixos de
ar cheios de vapor de água. Isso vai praticamente
controlar a chuva na região central e na
região Sul do Brasil, afetando mesmo o extremo
da América do Sul, na área da Bacia
do Prata”, informa o pesquisador.
Com isso, o cientista alerta para
os riscos que interferências no ambiente regional
podem acarretar para todo o planeta. “O regime de
chuvas nessas regiões da América em
grande parte depende do que está ocorrendo
na Amazônia. Se ela for totalmente desmatada
ou desmatada em grandes proporções,
o regime de chuva pode se modificar nesses locais”.
A formação de chuva
sobre a floresta, explica, ocorre devido a características
peculiares da mata. “A floresta produz partículas
biológicas e biogênicas, como grãos
de pólen e fungos, que sobem da floresta
para a atmosfera e ajudam na formação
de nuvens”, disse Luiz.
O pesquisador contou que o LBA
descobriu que a mata amazônica produz compostos
orgânicos voláteis que geram chuvas
rápidas.
“Esses compostos orgânicos,
moléculas de carbono muito grandes saídas
da floresta em forma de gases, cristalizam-se na
atmosfera limpa da floresta gerando gotas de chuva.
Portanto, a floresta auxilia mesmo na formação
de nuvens e chuvas, um mecanismo muito eficiente
e rápido”, relatou.
+ Mais
Amazônia: governos locais
devem se adaptar às mudanças climáticas
09/10/2009 - Pensar globalmente
e agir localmente foi o recado dirigido aos prefeitos
dos municípios da Amazônia Legal na
palestra Mudanças Climáticas, Amazônia
e suas cidades, proferida ontem (8) pelo pesquisador
Niro Higuchi do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa/MCT), no segundo dia da
Cúpula Amazônica dos Governos Locais.
“É hora de começar
a desempenhar papel de protagonista das vulnerabilidades
municipais e ser preparar para as adaptações
das futuras mudanças climáticas”,
alerta. Para o pesquisador, os governos locais devem
entrar no debate sobre a relação entre
Amazônia e mudanças climáticas
por motivos claros. Um deles está no fato
de que a Amazônia pode afetar essas mudanças,
principalmente se prevalecer o desmatamento.
“Hoje 70 mil quilômetros
quadrados já foram desmatados na Amazônia.
É preciso proteger as florestas, fazendo
isso estaremos defendendo a biodiversidade, pois
não haverá riqueza se a floresta não
ficar em pé”, argumenta Higuchi.
Por outro lado, as mudanças
climáticas também podem afetar a Amazônia
e, consequentemente, outras regiões. Higuchi
explica que o maior exemplo vem do regime de chuvas.
Estudos apontam que a chuva na
Amazônia depende, aproximadamente, de 50%
do vapor d'água que vem do Oceano Atlântico,
mais a vaporização formada dentro
da floresta. “Atualmente, 44% do vapor acaba saindo
da bacia Amazônica e vai para o Sul e Sudeste
do Brasil”, diz.
Mudanças climáticas
O pesquisador comentou que definir
o que vem a ser mudança climática
é um desafio para todos, até para
ele que já tem mais de 30 anos de estudo
na área. Isso por que o conceito ficou comprometido
pelos diferentes fenômenos que ocorrem no
mudo e tem mudado as características de cidades
e continentes.
Os exemplos vão desde o
aquecimento global que, em 2008, afetou o Festival
de Gelo da China, e na neve que caiu em Bagdá,
no Iraque, pela primeira vez depois de quase 100
anos.
Este ano os exemplos estão
no campo nacional, o Rio Grande do Sul, por exemplo,
sofreu com chuvas intensas e, dois meses depois,
o mesmo estado passou por uma grande seca. Mesma
situação que vem sendo vivenciada
pelos amazonenses, que após meses de um período
de cheia agora é castigado por dias quentes,
com temperatura que beiram os 40 graus.
Na abertura do evento, foi lançado
o livro Governos locais amazônicos e as questões
climáticas, que tem o apoio da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(Fapeam), e traz como autores Niro Higuchi, Henrique
Pereira e Joaquim dos Santos.
Hoje (9), o debate é sobre
mercado internacional de Carbono (CO²) e os
instrumentos de Redução de Emissor
pelos Desmatamentos e pela Degradação
Florestal (REDD). Higuchi, mais uma vez, volta à
tribuna para abordar os negócios que vem
sendo gerado pelo CO².
+ Mais
Livro aborda relação
entre a Amazônia e as mudanças climáticas
02/10/2009 - A Cúpula Amazônica
de Governos Locais, que se realiza de quarta-feira
(7) a sábado (10), na capital do Amazonas,
terá uma importante ferramenta para ajudar
na formulação das propostas que comporão
a Carta de Manaus. A Carta será entregue
em dezembro na reunião da COP 15, em Copenhague,
na Dinamarca.
No evento, será lançado
o livro Governos Locais Amazônicos e as Questões
Climáticas Globais. A obra foi elaborada
por pesquisadores da região e contém
informações sobre a relação
intrínseca entre a floresta amazônica
e as mudanças climáticas globais.
Segundo um dos autores do livro
e cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa/MCT), Niro Higuchi, a obra
é acessível, pois apresenta informações
básicas sobre a temática para municiar
os prefeitos que participarão das discussões.
“Queremos colocar os prefeitos da Amazônia
como protagonistas desta relação intrínseca”,
acrescentou.
No livro é possível
conferir que a verdadeira riqueza da Amazônia
é a biodiversidade. Higuchi explica que sem
floresta grande parte desta riqueza desaparecerá.
Por isso, a publicação tenta convencer
os prefeitos que os mecanismos de comércio
de carbono têm que ser utilizados com um propósito
bem definido, que é o combate ao desmatamento
para a proteção da floresta em pé.
Entre as ações que
podem contribuir com a diminuição
dos impactos do desmatamento da Amazônia,
Higuchi cita o reflorestamento. Contudo, em curto
prazo não é a solução
para a neutralização do carbono. “No
próprio relatório do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC-AR4),
que ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2007,
fica claro que a proteção da floresta
em pé é melhor do que o reflorestamento
como estratégia de diminuição
dos impactos das mudanças climáticas”,
lembrou.
Sobre a relação
entre a floresta amazônica e as questões
climáticas globais e o interesse dos governos
locais, o cientista deixou claro que é necessário
o envolvimento maior no debate. Contudo, ele salienta
que não tem certeza se a falta de conhecimento
interfere nesse processo. “Tudo acaba acontecendo
no município. Então, se os prefeitos
se envolverem nesta questão, maiores serão
as chances de combater as mudanças climáticas
globais”, destacou, acrescentando que as ações
executadas nos municípios, aquelas que geram
emissões de gases de efeito estufa, são
em sua maioria ilegais.
"Creio que isto acontece
pela falta de uma efetiva participação
das lideranças políticas". Além
de Higuchi, participam do livro os cientistas do
Inpa, Joaquim dos Santos, Adriano José Nogueira
Lima, Maria Inês Gasparetto Higuchi e Francisco
Gasparetto Higuchi, da Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), Henrique dos Santos Pereira, e da Faculdade
Integrada de Ensino Superior de Colinas (Fiesc),
Ioná Gonçalves Santos Silva Ayres.
A publicação teve
o apoio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq/MCT), Prefeitura de Manaus,
Confederação Nacional de Municípios
(CNM) e Associação Amazonense de Municípios
(AAM).