13 de outubro
de 2009 - Fonte: Globo Amazônia - A cultura
indígena amazônica não se diferencia
apenas pelos ritos e tradições dos
índios adultos. Também as crianças
nativas têm seus próprios jogos, alguns
deles similares aos conhecidos pelos meninos e meninas
de todo o país, mas, por vezes, com elementos
da realidade local, como animais típicos
da região.
A pesquisadora Artemis Soares,
da Faculdade de Educação Fisica e
Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), fez um levantamento das brincadeiras típicas
dos Tikuna, etnia indígena com maior população
no Brasil e que vive no centro-oeste do Amazonas,
ao longo do Rio Solimões.
Conheça abaixo alguns dos
jogos levantados pela especialista:
Cabas-Maë
As crianças se dividem
em dois grupos: um que “trabalha na roça”
e outro que representa as cabas (marinbondos). Estas
últimas se sentam numa pequena roda, cada
uma segurando a mão da do lado, como se fossem
o ninho de cabas. Elas cantam e balançam
as mãos para cima e para baixo. Os “roçadores”
fazem movimentos com os braços, como se estivessem
cuidando de sua plantação, até
chegarem perto do ninho de cabas. Em um certo momento,
um deles esbarra no ninho e as cabas saem voando
com o objetivo de "picar" os “roçadores”.
Todos os "roçadores" correm, fugindo
das cabas - quem for “picado” (pego) fica de fora.
Gavião e galinha (o’ta
i inyu)
Com a Amazônia no quintal,
Tikuna têm contato próximo com a natureza.
(Foto: Glauco Araújo/G1)
Uma criança é escolhida para ser o
gavião - ave forte e comedora de pintinhos.
Um outra representa a galinha, que fica de braços
abertos, com os demais participantes atrás
de si em fila. O gavião corre para tentar
“comer” um dos pintinhos, mas só pode pegar
o último da fila. A galinha tenta evitar
dando voltas e mais voltas, impedindo que o gavião
pegue seu pintinho. Quando ele consegue, a criança
pega fica de fora da brincadeira.
Pirarucu
As crianças formam uma
roda de mãos dadas e uma fica no centro.
Esta pega no braço de um dos participantes
e pergunta: “Qual é essa madeira?”. A outra
criança responde pelo nome de uma madeira
da região. A seguir, o “pirarucu” ( a criança
do centro) se apoia e senta nos braços de
dois colegas, que o lançam para o ar. Vai
fazendo isso até ser lançado por todos
da roda. Quando termina, o pirarucu corre e tenta
sair do “lago” simbolizado pela roda. Os outros,
de mãos dadas, tentam impedir sua saída
com os braços, que representam madeiras resistentes.
Quem não consegue evitar a fuga vai para
o meio da roda.
Sol e lua (üacü rü
tawemüc’ü)
Os Tikuna são a etnia indígena
que conta com maior população no país.
(Foto: Glauco Araújo/G1).
As crianças ficam dispostas em fila segurando
na cintura do que está à frente. Duas
outras crianças, representando o sol e a
lua, fazem uma “ponte”, mantendo as mãos
dadas. Cantando, as outras participantes passam
sob a ponte várias vezes. O sol e a lua prendem
o último ou os dois últimos da fila
e perguntam se querem ficar atrás do sol
ou da lua. Feita a escolha, a criança se
posiciona atrás de um dos dois. Depois que
todos são “presos”, dois times são
formados. Lado a lado, as duas colunas se puxam,
cada criança de braço dado àquela
ao seu lado. Quando um time consegue desarticular
ou derrubar elementos do outro, marca ponto. Ganha
o lado que tiver mais pontos.
Melancia (woratchia)
Um grupo de crianças representa
as melancias, ficando agachadas, com a cabeça
baixa, espalhadas pelo terreno. Uma delas representa
o dono da plantação, que fica cuidando,
com dois “cachorros” para que outro grupo, que representa
os ladrões, não roube suas frutas.
Os ladrões batem com os dedos nas cabeças
daquelas que representam as melancias para saber
quais estãio maduras. Quando encontram uma
boa, a enfiam num saco e saem correndo. Então
os “cachorros” correm atrás para evitar o
roubo. Vence o grupo que, após certo número
de ataques consegue ter maior número de crianças.
Vida
Jogo de bola semelhante à
queimada. Dois times se dividem em um campo. Uma
criança lança a bola e tenta acertar
em alguém da outra equipe. Se conseguir acertar
e a bola cair no solo, a criança queimada
sai do jogo. Ganha o time que conseguir manter alguém
“vivo” até o final.
Curupira
Povo vive no oeste do Amazonas,
ao longo do Rio Solimões. (Foto: Artemis
Soares/Arquivo Pessoal)
Brincadeira semelhante à “cabra-cega”. Uma
criança, o Curupira, fica com os olhos vendados
e outra faz com que dê três voltas girando.
Em seguida, pergunta : “Que tu perdeu”? E o Curupira
responde: “Perdi uma agulha, perdi um terçado”.
Todas as crianças fazem perguntas. Quando
chega a vez da última criança, esta
pergunta o que o Curupira quer comer. Quando tira
a venda e vê que não tem a comida que
pediu, o Curupira sai correndo atrás das
crianças e todos saem em disparada para não
serem apanhados. Ganha quem não se deixa
apanhar.
Briga de galo (ota arü nü)
As crianças, aos pares,
ficam apoiadas numa das pernas, segurando no tornozelo
da outra flexionada para trás. A segunda
mão fica no peito. Então, uma criança
tenta desequilibrar a outra, empurrando com o ombro.
Ganha aquele que conseguir ficar mais tempo equilibrado.
Festa do sapo Crianças colocam-se de braços
abertos, abraçando o tronco de uma árvore.
Cada uma vai chegando e colocando-se atrás
do outro que já lá está, na
mesma posição. Quando todos estão
posicionados, iniciam os movimentos para frente
e para trás, cantando, imitando a voz do
sapo.