5 de outubro de 2009 Fonte: Estadão
Divididos em 220 etnias, falando 180 línguas,
os índios brasileiros estão se organizando
para aumentar a representação política
nas eleições de 2010. Eles somam mais
de 700 mil, dos quais 150 mil eleitores, e querem
mais protagonismo nas decisões do País
para defender as suas bandeiras sem depender unicamente
da tutela da Fundação Nacional do
Índio (Funai) ou das bênçãos
de igrejas. A ideia é eleger ao menos cinco
deputados federais no País e uma bancada
forte nas Assembleias Legislativas de 19 Estados
onde estão mais organizados.
As tribos e seus caciques estão
recrutando em suas regiões os principais
puxadores de votos, reconhecidos pela articulação
e eloquência, que serão lançados
para a Câmara. Já estão definidos
os nomes de Almir Suruí, em Rondônia,
Sandro Tuxa, na Bahia, e Júlio Macuxi, em
Roraima. Este último teve atuação
destacada na pressão pela demarcação
da reserva Raposa Serra do Sol em área contínua,
aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) este
ano.
Os três devem sair pelo
PV, partido preferencial dos indígenas. Podem,
no entanto, optar por outro partido que ofereça
melhores possibilidades de vitória, o que
será avaliado com lupa pelos conselhos indígenas
e pelas assembleias que serão realizadas
nas diversas aldeias, entre este mês e março.
"Vou aguardar a decisão
coletiva, antes de definir a melhor legenda, com
chances reais de eleição", disse
Macuxi. Pragmático, o líder pediu
a desfiliação do PT porque o partido
já tem uma prioridade para a Câmara,
a deputada Angela Portela, que disputará
a reeleição em 2010.
Filiado ao PT do Distrito Federal,
onde vive há oito anos como servidor da Funai,
Álvaro Tukano, líder de uma etnia
que habita as margens do alto Rio Negro, no Amazonas,
deve buscar a confirmação do seu nome
entre os candidatos da legenda. "Queremos eleger
a maior bancada parlamentar de todos os tempos",
declarou.
O quinto puxador de voto deve
sair das hostes do PDT, partido da preferência
dos xavantes desde os tempos em que o deputado e
cacique Mário Juruna, já falecido,
cumpriu mandato parlamentar (1983-1987) como primeiro
e único indígena eleito para o Congresso.
Ele foi cooptado na época pelo líder
trabalhista Leonel Brizola, também falecido.
Desde esse fato, o PDT tem por praxe oferecer vagas
para índios na legenda.
VEREADORES
Na última eleição
municipal, os índios já deram uma
primeira mostra do seu potencial nas urnas, elegendo
seis prefeitos e mais de 90 vereadores em várias
partes do País. Em São Gabriel da
Cachoeira (AM), o prefeito, o vice e todos os vereadores
são índios. Localizada em região
conhecida como Cabeça do Cachorro, a cidade
tem 95% da população de origem indígena.
Em Roraima, foram eleitos prefeitos
indígenas em Uiramutã e Normandia,
ambos da etnia macuxi. São João das
Missões (MG), Marcação (PB)
e Barreirinha (AM) também têm prefeitos
índios. "É muito positiva essa
presença no processo político para
legitimar a democracia brasileira", afirmou
o presidente da Funai, Márcio Meira.
Em quatro Estados onde têm
maior nível de organização,
os índios já decidiram que vão
lançar candidatos a deputado federal, além
de nomes competitivos para a Assembleia Legislativa.
São eles Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia.
Em outros 18 Estados serão
lançados candidatos a deputado estadual e,
eventualmente, algum para federal. São eles:
Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia,
Pernambuco, Ceará, Maranhão, Amapá,
Paraíba, Goiás, Minas, Tocantins,
Rio, São Paulo, Paraná, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
SELEÇÃO
A escolha dos candidatos, de acordo
com Macuxi, é feita democraticamente, em
assembleias regionais. Em Roraima, haverá
uma na segunda quinzena deste mês, para a
apresentação dos candidatos e debate
em torno das propostas. A segunda ocorrerá
em março, para a confirmação
dos escolhidos.
Para o líder, esse é
um modo de escolha mais legítimo que as convenções
partidárias. "São levadas em
conta a liderança, a eloquência e a
vida limpa do candidato", explicou. "Aqui
ninguém cai de paraquedas, não se
compra legenda, nem se é escolhido pelo dono
do partido."
Após a peneira, os índios
são pragmáticos na escolha do partido.
O preferencial é o PV, principalmente após
a adesão da senadora Marina Silva (AC), que
disputará a Presidência. Dizem que
a ex-ministra do Meio Ambiente dará visibilidade
às questões ambientais e indígenas.
NÚMEROS
700 mil é a população
atual de indígenas em todo o País.
150 mil deles são eleitores.
220 etnias existem hoje no Brasil, com um total
de 180 línguas.
5 prefeitos descendentes de índios foram
eleitos em 2008.
90 vereadores também indígenas foram
aprovados nas urnas ano passado.