Manaus (21/10/2009)
Está agendada para a próxima sexta-feira
(23) a destinação de um onça
parda (Puma concolor) do Centro de Triagem de Animais
Silvestres do Ibama do Amazonas, que partirá
de Manaus/AM com destino a Brasília/DF e,
posteriormente, para o Instituto Nex, em Corumbá
de Goiás/GO. O animal é um macho adulto.
A destinação é
mais uma etapa da vida de Shiva, a onça parda
que, no final de 2006, em Presidente Figueiredo/AM,
teve sua mãe morta em dezembro, deixando
ele e uma irmã órfãos com aproximadamente
um mês de vida. A irmã não sobreviveu.
Durante os primeiros e mais críticos meses
de vida, o felino ficou sob os cuidados da bióloga
Dayse Campista, do Zoológico do Tropical
Hotel, e parceira do Ibama/AM. Em abril de 2007,
ele retornou ao Cetas/Ibama/AM.
Desde então, foram inúmeras
as tentativas de destiná-lo a um local que
pudesse abrigá-lo definitivamente. Em maio
de 2009, um empresário de São Paulo,
sensibilizado com a história, financiou a
construção de um recinto de 100 m²
no Instituto Nex, ONG que cuida e pesquisa o comportamento
de felinos, sediada no município de Corumbá
de Goiás, a aproximadamente 80 Km de Brasília.
A história de Shiva é
um retrato do que vem ocorrendo com felinos na Amazônia.
Muitos felinos de diferentes espécies, como
onças pintadas (Panthera onca), jaguatiricas
(Leopardus pardalis), gatos maracajás (Leopardus
weidii) e gatos mouriscos (Herpailurus yaguarondi)
são vitimados pela destruição
de seu habitat natural provocada pelo desmatamento,
pela agricultura e pecuária desordenadas
e pela caça ilegal. São também
fatores de ameaça a esses animais o preconceito
e a desinformação. Grande parte da
população desconhece a importância
dos felinos na natureza e os vê como ameaça,
ignorando seu papel como predadores de topo na cadeia
alimentar, o que lhes confere a capacidade de ajudar
a manter o equilíbrio das populações
de outros grupos de animais como mamíferos,
aves, répteis e demais espécies presentes
em suas áreas de ocorrência.
A magnitude da ameaça aos
felinos pode ser expressa em parte pelos números
registrados pelo Ibama do Amazonas. Em 2009, foram
destinados sete felinos (duas onças pardas,
quatro onças pintadas e um gato maracajá),
a maioria filhotes cujas mães foram mortas,
dentre eles dois filhotes de onça pintada
destinados no último dia 15 (foto à
direita). Mas ainda há seis animais à
procura de destinação, seja para criadouros
conservacionistas ou científicos e para zoológicos.
A manutenção desses
animais em cativeiro requer condições
de infraestrutura e investimentos financeiros que
nem todos os possíveis parceiros dispõem.
Além disso, muitos dos lugares já
mantêm em seu plantel exemplares dessas espécies,
o que dificulta ainda mais a destinação,
em especial de onças pardas, como o Shiva,
que, por isso, ficou quase três anos no Cetas/Ibama/AM.
Além da destinação
para locais onde ficam cativos, existe, ainda, a
possibilidade da soltura de felinos na natureza.
No entanto, essa é uma prática ainda
incipiente e que requer mais investimentos para
estudos de seus impactos, tanto sobre o animal solto
como sobre a comunidade biológica do local
da soltura. Os treinamentos para readaptação
de um animal cativo para voltar à natureza
envolvem muitos custos e requerem equipe especializada
e monitoramento.
O Shiva é o exemplo de
um animal que dificilmente poderia voltar ao ambiente
natural. Por ter convivido com humanos por muito
tempo, ele deixou de aprender vários dos
comportamentos necessários à sua sobrevivência
na selva, seu habitat natural, e se tornou um animal
dócil quando comparado a um animal selvagem.
No entanto, apesar de cativo, ele poderá
contribuir indiretamente com a conservação
da espécie, que se encontra na lista de animais
ameaçados de extinção, por
meio de sua participação em programas
de conservação ex-situ.
Todas essas questões colocadas
revelam um problema cuja busca de solução
é complexa e que, por isso, requerem ações
planejadas e integradas. Maiores investimentos dos
órgãos público em suas várias
instâncias, a ajuda de instituições
de ensino e pesquisa, da iniciativa privada, imprensa
e sociedade, são necessários no sentido
de integrarem-se esforços para evitar que
esses animais saiam de seu ambiente natural. Podem
ser ações e políticas públicas
até aquelas que promovam o bem estar dos
animais cativos, bem como aquelas de conservação
das espécies. Para tanto, são necessários
diagnósticos de áreas críticas
e gerenciamento de “conflitos” entre gente e onça
em áreas de ocorrência da espécie,
campanhas educativas, apoio a pesquisas científicas
sobre a biologia e comportamento das espécies,
implementação de unidades de conservação
e ações de monitoramento, controle
e fiscalização podem colaborar na
mitigação desse problema.
Natália Lima
Nufas/Ibama/AM
+ Mais
Aumenta o número de preguiças
feridas entregues ao Cetas PE
Recife (22/10/2009) – A perda
de hábitat, causada pela fragmentação
intensa das últimas áreas de mata
atlântica do Grande Recife, e a movimentação
típica dos animais durante o período
reprodutivo têm aumentado a entrada de preguiças
(Bradypus variegatus) no Centro de Triagens de Animais
Silvestres - Cetas do Ibama.
De julho até hoje, faltando
pouco mais de uma semana para encerrar o mês,
foram depositados 28 exemplares. Só nas últimas
duas semanas, oito espécimes foram entregues
pela população e pelos órgãos
ambientais parceiros. A maioria apresenta queimaduras
causadas por choques elétricos e fraturas
por quedas ou atropelamentos. Em 2008, de julho
a outubro, o Cetas recebeu 24 indivíduos.
“É a época de reprodução
e os machos se deslocam procurando fêmeas
ou novos territórios para procriar. Como
as matas estão escassas, acabam se aproximando
de áreas urbanas, cruzando estradas e subindo
em postes de energia”, sintetiza a chefe do núcleo
de Fauna do Ibama em Pernambuco, Catarina Cabral.
O resultado desse périplo acaba sendo quase
sempre desfavorável aos animais. Muitos chegam
seriamente queimados e deverão ter mãos,
braços e pernas amputados. Outros perderão
os movimentos para sempre.
Pelo menos a metade desses animais
é proveniente do distrito de Aldeia, no município
de Camaragibe, região metropolitana do Recife.
Área que sofre intensa especulação
imobiliária com o surgimento de condomínios
de alto padrão, Aldeia teve áreas
verdes fragmentadas, o que interferiu diretamente
no deslocamento das preguiças.
Segundo Catarina Cabral, o Ibama
prepara uma equipe para vistoriar o distrito, entrevistar
moradores e observar as redes elétricas do
local. “Se necessário, vamos propor às
companhias de eletricidade que adotem em suas redes
medidas de proteção para as preguiças,
pois os acidentes têm sido constantes”.
Também a população
será orientada sobre como agir, caso se depare
com preguiças. A recomendação
é manipular o animal o mínimo possível,
colocando-o num local à sombra e protegido
do ataque de cães e de outros animais. Não
alimentar, nem oferecer água. Comunicar imediatamente
aos órgãos ambientais do município,
da Polícia Militar - Cipoma ou ao próprio
Ibama. Enquanto não é feita a retirada,
deve se evitar a presença de pessoas ao redor
das preguiças, pois se estressam com facilidade,
o que prejudica sua recuperação.
As preguiças que se recuperarem
completamente no Cetas do Ibama serão levadas
para a soltura, em áreas protegidas. Aquelas
que tiverem membros amputados ou perderem movimentos
serão destinadas para recintos especiais
mantidos pela Ceplac, órgão do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
em Itabuna, na Bahia.
Airton De Grande - Ascom Ibama/PE