Posted on 26 October
2009 - Curso organizado por IFT e WWF-Brasil no
Pará capacitou técnicos, engenheiros
e agentes de governo a construir estradas em áreas
de floresta minimizando impactos ao meio ambiente
Para que o manejo florestal seja
praticado, garantindo o uso racional dos recursos
naturais e a renda das famílias locais, é
necessária a abertura de estradas. Porém,
a sustentabilidade da atividade demanda que as vias
de acesso gerem o menor impacto possível
aos ecossistemas. De acordo com um levantamento
do Instituto Floresta Tropical (IFT), obras de infraestrutura
como estradas e pátios podem impactar diretamente
até 10% da área onde se pratica o
manejo florestal, dificultando a regeneração
e a conservação da floresta em longo
prazo.
O curso Planejamento e Construção
de Estradas Florestais, realizado a partir de parceria
entre IFT, WWF-Brasil e Serviço Florestal
dos Estados Unidos (USFS), capacitou técnicos,
engenheiros e agentes de governo na construção
sustentável de estradas florestais. O treinamento,
de caráter teórico e prático,
foi realizado na Fazenda Cauaxi, município
paraense de Paragominas, entre 19 e 23 de setembro,
em tempo integral.
Os instrutores foram o engenheiro
geotécnico Gordon Keller e o engenheiro geológico
Jonathan Berry, ambos do Serviço Florestal
dos Estados Unidos. Gordon Keller salientou que,
quando as estradas não são bem construídas,
podem gerar enormes impactos na fauna, flora e cursos
d’água. “Para se fazer uma boa estrada é
essencial que planejamento, localização,
projeto e manutenção sejam bons”,
resumiu o engenheiro.
Ele destacou durante o curso que
estradas são indispensáveis para o
desenvolvimento da maioria das regiões, por
permitir transporte de pessoas e escoamento da produção.
Porém, podem também provocar prejuízos
aos recursos naturais e a comunidades, afetando
qualidade da água, atividade pesqueira, migração
e deslocamento de espécies, ocasionando ainda
fragmentação de hábitats, desmatamento,
erosão do solo, atividade madeireira e caça
ilegais.
Gordon Keller, que tem mais de
30 anos de experiência com estradas florestais,
classificou como positivos os resultados do curso
e lembrou que o Serviço Florestal dos EUA
tem como um de seus objetivos disseminar boas práticas
florestais no mundo. “É importante que haja
pessoas e organizações interessadas
em conservar e manejar florestas na Amazônia.
Esses conceitos de sustentabilidade precisam se
espalhar”, observou.
Uma das participantes, a engenheira
florestal Camila Caruso, destacou que o curso abordou
questões da engenharia de construção
aliadas a aspectos ambientais. A engenheira trabalha
no Centro de Excelência em Engenharia de Transportes
(Centran), com supervisão ambiental na BR-230
(Rodovia Transamazônica). Ela acredita que
conseguirá aplicar os conhecimentos adquiridos.
“Além de impactos ambientais, podemos diminuir
custos de construção e manutenção.
O ideal é executar bem a obra, para fazer
apenas uma vez”, concluiu.
O técnico César
Ferreira, que coordena o setor de infraestrutura
do manejo florestal na Secretaria Estadual de Florestas
do Acre, também participou do curso. Ele
entende que a principal mensagem passada foi a necessidade
de fazer obras pensando no longo prazo. “No Acre,
as áreas onde há planos de manejo
ficam distantes das principais rodovias. Por isso,
é preciso qualificar o processo de construção
e manutenção das vias abertas na floresta”,
disse.
Segundo o diretor-adjunto do IFT,
Marco Lentini, que coordenou a capacitação,
há uma grande carência de mão-de-obra
no Brasil para trabalhar com manejo florestal na
Amazônia. Um estudo do IFT demonstra que seriam
necessárias ao menos 15 mil pessoas treinadas
na área para que a meta do governo de implantar
o manejo em 13 milhões de hectares até
2016 seja atingida.
Marco Lentini ressaltou a importância
da parceria entre IFT, WWF-Brasil e Serviço
Florestal dos EUA para a capacitação
realizada no Pará, salientando o caráter
teórico-prático do treinamento. “Curso
de manejo florestal não pode acontecer em
sala climatizada, tem que ser feito na floresta”,
avaliou.
O engenheiro florestal Maximiliano
Roncoletta, representante do WWF-Brasil no curso,
classificou de estratégico o treinamento,
dirigido a tomadores de decisão que atuam
diretamente em regiões de manejo na Amazônia.
“Costuma-se enxergar como infraestrutura que impacta
a região amazônica apenas as grandes
obras, como rodovias e barragens. Não podemos
nos esquecer das estradas rurais, que em escala
de área impactam muito mais e são
abertas com extrema rapidez”, afirmou.
Maximiliano Roncoletta acrescenta
que o WWF-Brasil trabalha para que o Serviço
Florestal Brasileiro dê atenção
à questão das estradas nas licitações
voltadas para as concessões florestais. “Sem
que a parte de infraestrutura seja contemplada,
não será possível que as áreas
concessionadas sejam operadas de forma sustentável”,
concluiu o engenheiro florestal.
No período entre 26 e 30
de outubro, também na Fazenda Cauaxi, capacitação
semelhante é dirigida a professores universitários
de cursos de engenharia florestal de várias
regiões do país.
+ Mais
Pecuária orgânica
e os desafios da sustentabilidade
Posted on 28 October 2009
Por Geralda Magela
Os desafios e oportunidades da pecuária orgânica
na busca pela sustentabilidade sociambiental e econômica.
Esses foram os destaques do painel Pecuária
Orgânica e Sustentável, apresentado
nesta quarta-feira, na Biofach/Exposustentat, a
maior feira de orgânicos da América
Latina, que começou nesta quarta-feira (28/10)
e continua até sexta-feira (30) no Transamérica
Expo Center, em São Paulo.
O painel teve por objetivo discutir
o desenvolvimento da cadeia da pecuária no
Brasil com enfoque em sistemas sustentáveis
de produção. Participaram como debatedores,
o coordenador do Programa Pantanal para Sempre do
WWF-Brasil, Michael Becker, o presidente da Associação
Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO),
Leonardo Leite de Barros e o gerente de Agronegócios
do SEBRAE do Mato Grosso do Sul, Marcus Faria.
Em sua apresentação,
Michael Becker destacou a importância do trabalho
desenvolvido no Pantanal com a pecuária orgânica
certificada na busca pela sustentabilidade ambiental.
“A experiência com nossos parceiros no Pantanal
vem mostrando que a produção de carne
orgânica é uma alternativa real e viável”,
ressaltou.
Desde 2003, o WWF-Brasil vem apoiando
o projeto de pecuária orgânica certificada
no Pantanal. A atuação com esse segmento
é fundamental para as ações
de conservação no Pantanal, uma vez
que a pecuária é a principal atividade
econômica da região.
O trabalho envolve o apoio à
pecuária orgânica certificada e estímulo
a práticas que aliem produção
e conservação dos recursos naturais
e é feito em parceria com associações
de produtores orgânicos do Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul.
Responsabilidade compartilhada
-Os pecuaristas do Pantanal são pioneiros
nessa iniciativa que, graças a um maior envolvimento
do público consumidor, tende a crescer. “Embora
a carne orgânica ainda seja um nicho de mercado,
a atividade é promissora, principalmente
porque haverá uma cobrança cada vez
maior por parte dos consumidores quanto aos critérios
sociambientais do produto que está comprando”,
disse Becker.
Para ele, no entanto, para que
o projeto se amplie, é fundamental envolver
todos os segmentos da cadeia produtiva da carne.
O trabalho deve ser feito com planejamento e em
longo prazo e exige o comprometimento de todos os
envolvidos, com o que ele chamou de “responsabilidade
compartilhada’.
Becker citou como exemplo a realização
de contratos de longo prazo por parte dos frigoríficos
para dar mais segurança ao produtor e também
o estímulo ao consumo responsável
por esse segmento, junto ao setor varejista. Outro
elo importante da cadeia produtiva é o consumidor,
que tem um papel fundamental neste processo. “É
importante que o consumidor valorize os produtos
de qualidade e certificados, cobrem mais informações,
questionem sua origem”, afirmou Becker.
O sistema de produção
orgânico visa o desenvolvimento econômico
e produtivo que não polua, não degrade
e nem destrua o meio ambiente e, que, ao mesmo tempo
valorize o homem como principal integrante do processo.
De acordo com Leonardo Barros,
presidente da Associação de Pecuária
Orgânica (ABPO), o Pantanal tem uma vocação
natural para a produção sustentável,
principalmente devido às condições
geográficas, históricas e ambientais.
A planície pantaneira, onde existem grandes
áreas que ficam alagadas por um longo período,
favorece a formação de pastagens naturais.
“Devido a essa abundância de pastagens, não
foi necessário derrubar árvores para
alimentar os animais”, disse.
No entanto, de acordo com ele,
esse sistema tradicional que faz parte da cultura
pantaneira vem mudando. Principalmente devido à
chegada de pessoas de fora que não conhecem
a realidade pantaneira e acabam usando práticas
produtivas que não condizem com o tipo de
solo do Pantanal e são danosas para o meio
ambiente, como a introdução de pastagens.
O presidente da ABPO ressaltou
que é importante ter mais políticas
públicas para dar mais visibilidade ao segmento
da pecuária orgânica e valorizar os
produtores que estão comprometidos com a
sustentabilidade. “Mais que punir, é preciso
premiar com incentivos fiscais as iniciativas sustentáveis”,
enfatizou. Para ele, o consumidor também
tem um papel importante nesse aspecto. “Ao eleger
um produto de origem certificada estará contribuindo
para a sustentabilidade ambiental do país”.
Novas parcerias - Com o objetivo
de ampliar o número de fazendas certificadas,
o WWF-Brasil e a ABPO vem articulando o apoio de
outros parceiros. Em 2008, foi iniciado um projeto
junto ao SEBRAE voltado para a capacitação
técnica de produtores da região para
adequarem suas propriedades aos critérios
exigidos pela certificação.
Esse projeto foi apresentado pelo
gerente de Agronegócios do SEBRAE do Mato
Grosso do Sul, Marcus Faria, que também participou
do painel. “Nosso objetivo é contribuir para
que as propriedades tradicionais possam, através
da certificação, abrir novos, e agregar
valor ao produto”, disse Faria.
GT da pecuária sustentável
Além do apoio à
pecuária orgânica no Pantanal, o WWF-Brasil
também atua no estímulo a boas práticas
produtivas para o segmento da pecuária. Esse
trabalho é feito por meio das discussões
e participação no GT da pecuária
sustentável, que envolve representantes dos
diversos elos que compõem a cadeia produtiva
da carne - produtores rurais, frigoríficos,
empresas certificadores, bancos, empresas de exportação
e comércio varejista.
O resultado dessas discussões
foi a aprovação pelos integrantes
do GT de um plano trabalho para os próximos
três anos, tendo como um dos pontos principais
o desmatamento zero nas atividades do segmento em
todo o Brasil. O plano propõe um conjunto
de ações e estratégias a serem
desenvolvidas visando a sustentabilidade ambiental
da atividade.
+ Mais
Organizações denunciam
tentativa dos ruralistas de derrubar Código
Florestal
Posted on 30 October 2009 - Nove
organizações da sociedade civil assinam
nota contra a tentativa ruralista de derrubar a
proteção às florestas brasileiras.
O documento foi divulgado hoje (30/10), quando ocorre,
em Barcelona/Espanha, encontro que antecede a Conferência
da Organização das Nações
Unidas para Mudanças Climáticas (COP-15),
de Copenhague (Dinamarca), em dezembro próximo,
e do qual participa o ministro do Meio Ambiente
do Brasil, Carlos Minc.
Leia abaixo a íntegra do
documento:
Em dezembro, o mundo decidirá
um novo regime de metas para diminuição
da emissão de gases efeito estufa, durante
reunião a ser realizada em Copenhague (COP
15 da Convenção do Clima).
Nessa reunião o governo
brasileiro apresentará como seu grande trunfo
um plano para diminuir significativamente o desmatamento
no País, principal fonte das emissões
nacionais, até 2020. Mas se o Presidente
Lula não agir firmemente no âmbito
da política interna, esse plano será
pura ficção.
Parlamentares ligados ao agronegócio,
muitos deles de partidos da base de apoio ao Presidente,
estão prestes a conseguir derrubar o Código
Florestal, uma lei de mais de quarenta anos que
proíbe grandes desmatamentos na Amazônia
e obriga ao reflorestamento das áreas excessivamente
desmatadas.
Apesar de antiga, essa lei até
recentemente vinha sendo precariamente cumprida.
Mas, com um melhor aparelhamento dos órgãos
de fiscalização e uma maior cobrança
por parte da sociedade, houve, nos últimos
anos, significativo aumento das punições
aos desmatamentos ilegais, o que gerou descontentamento
de parte do agronegócio brasileiro que se
beneficiava da impunidade.
Com grande influência no
parlamento, esse setor econômico passou a
pressionar pela revogação da lei e
pela anistia às ilegalidades já ocorridas,
a forma mais simples de se legalizar. O próprio
Ministro da Agricultura vem sendo porta-voz dessas
propostas, defendendo publicamente que a proteção
às florestas seja “atenuada”.
No último dia 28/10 um
projeto de lei que anistia os desmatamentos ilegais
e diminui o nível de proteção
às florestas ainda remanescentes quase foi
aprovado pela Câmara dos Deputados. Apesar
de não serem maioria no Congresso Nacional,
os parlamentares ligados ao agronegócio contam
com a total omissão do Governo Lula para
levarem adiante seus projetos.
No próximo dia 04/11 haverá
uma nova votação e, se o Governo não
tomar posição, as probabilidades de
que o Código Florestal seja revogado são
reais. Não é aceitável que
a delegação brasileira em Copenhague
leve em sua bagagem a destruição do
Código Florestal. Conclamamos o Presidente
Lula a atuar firmemente para que um retrocesso dessa
envergadura não ocorra!
Assinam:
Associação de Preservação
do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) Conservação
Internacional - Brasil Greenpeace Grupo de Trabalho
Amazônico(GTA) Instituto Centro de Vida(ICV)
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
(Imazon) Instituto de Manejo e Certificação
Florestal e Agrícola (Imaflora) Instituto
de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica
(Ipema) Instituto Socioambiental (ISA) Programa
da Terra (Proter) Rede de ONGs da Mata Atlântica
Vitae Civilis - Instituto para o Desenvolvimento,
Meio Ambiente e Paz WWF - Brasil