2 de Dezembro de 2009 - Pedro
Peduzzi - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - O Estudo de Impactos Ambientais
(EIA) do aproveitamento hidrelétrico
do Rio Xingu, pela Usina de Belo Monte, apresenta
omissões extremamente graves, de acordo com
o coordenador do painel de especialistas autores
do trabalho Análise Crítica do Impacto
Ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico
de Belo Monte, Francisco Del Moral Hernandez.
“Esse estudo apresentou problemas
metodológicos que resultaram na subestimação
da população atingida e da área
diretamente afetada e, também, uma subcontagem
da economia regional”, disse hoje (2) o pesquisador
na Comissão de Direitos Humanos do Senado.
O estudo, segundo ele, faz uma omissão grave
por considerar apenas os efeitos que serão
sofridos na calha do Rio Xingu, como se apenas ela
fosse afetada pelas obras, "desconsiderando
as consequências das obras nas margens do
rio”.
Hernandez disse que as áreas
diretamente afetadas pelas obras serão bem
maiores do que as apresentadas no EIA. “O volume
de escavação seria equivalente aos
volumes escavados no Canal do Panamá, acabando
com a vida de vários igarapés que
sustentam o modo de vida das populações
rurais.”
Outro ponto criticado pelo pesquisador
é o prejuízo causado pela retirada
de terra, o que prejudicaria as áreas dos
travessões. “Há que se levar em consideração
os problemas que serão causados pelos canteiros
das obras. Entre três e quatro vezes por ano
há complicações para se trabalhar
com terra da região. Por isso é estranho
que as populações próximas
a esses canteiros não sejam consideradas
como populações diretamente atingidas”,
argumentou.
Outro ponto criticado por Hernandez
durante a audiência pública no Senado
foi o parecer da favorável da Fundação
Nacional do Índio (Funai) sobre as obras.
“Não entendemos como o parecer da Funai pode
dizer que esse empreendimento é viável.
Causa estranheza que ele não contemple tremendas
alterações do modo de vida das populações
e a dependência intrínseca delas com
o Rio Xingu.”
+ Mais
Projeto de transformação
de lixo em energia pode ser estendido a todo o país
5 de Dezembro de 2009 - Alana
Gandra - Repórter da Agência Brasil
- Rio de Janeiro - Pesquisadores da Coordenação
de Programas de Pós-Graduação
de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) querem aumentar a eficiência
energética da Usina Verde, que funciona desde
2004 na Ilha do Fundão, na zona norte da
cidade. O objetivo é ampliar a capacidade
de produção de energia da usina.
O projeto, da iniciativa privada,
teve a parte de tecnologia aprimorada pela Coppe
e trabalha com a incineração de lixo
urbano, destruindo os gases causadores de efeito
estufa na atmosfera, além de transformar
em energia quase todos os resíduos sólidos
recebidos. O pesquisador Luciano Basto, do Instituto
Virtual Internacional de Mudanças Globais
(IVIG) da Coppe, coordenador do projeto Usina Verde,
disse à Agência Brasil que a ideia
é “tentar aumentar a escala e ajudar que
se torne uma realidade no Brasil”.
Ele informou que a Usina Verde já faz isso
em pequena escala. O sistema, porém, está
capacitado para gerar o dobro de energia atual que
é usada para autoconsumo. Com as 30 toneladas
de lixo tratado que recebe por dia, provenientes
do aterro sanitário da Companhia de Limpeza
Urbana (Comlurb) no Caju, a Usina Verde tem potência
de 440 quilowatts (kW). Se funcionasse em tempo
integral, isso representaria cerca de 3.500 megawatts/hora
(MWh) por ano, o que seria suficiente para abastecer
1.500 residências.
Luciano Basto salientou que esse
é um projeto piloto. Uma unidade comercial
teria cinco vezes esse tamanho. Estimou que para
150 toneladas/dia de resíduos sólidos,
poderia ser gerada energia suficiente para abastecer
8 mil residências.
Segundo o pesquisador, a ideia
do grupo privado que administra a usina é
desenvolver tecnologia para ser comercializada.
A Coppe auxilia no processo. Esse tipo de unidade
trabalha com três receitas: tratamento de
lixo, comercialização de energia elétrica
e térmica e créditos de carbono.
Nos últimos seis meses,
a Usina Verde passou por uma auditoria do Bureau
Veritas, escritório internacional de certificação,
para se habilitar a receber créditos de carbono,
isto é, bônus negociáveis em
troca da não poluição do meio
ambiente. Basto informou que durante esse período,
a usina comprovou a redução de 2 mil
toneladas de emissões de gás carbônico
das 30 toneladas de lixo recebidas por dia. Isso
dá uma média de meia tonelada de gás
carbônico por tonelada de lixo tratado.
“Significa dizer que qualquer
usina que venha a ser instalada pode pleitear créditos
[de carbono]”. Basto lembrou que o prefeito do Rio,
Eduardo Paes, definiu metas para redução
das emissões na cidade, destacando transporte
e lixo como áreas importantes de trabalho
com essa finalidade. “Tratar o lixo, gerando eletricidade
é uma forma de resolver três fontes
de mitigação. Uma delas é o
lixo. A outra é a queima de combustíveis
fósseis para gerar eletricidade e a terceira
é o diesel que se consome para transportar
o lixo até os aterros”.
A Coppe presta assessoramento
técnico a qualquer grupo privado que queira
implementar usinas para incineração
de lixo e transformação em energia,
utilizando tecnologia limpa. O pesquisador destacou
que existem mais de mil usinas desse tipo funcionando
em todo o mundo. “Para se ter uma ideia, a geração
elétrica a partir do lixo, em 2006, foi equivalente
ao consumo de eletricidade pelo setor residencial
brasileiro em 2007”.
Naquele ano, o consumo das famílias
no Brasil atingiu 90 milhões de MWh. Basto
explicou que a energia gerada a partir do lixo representa
entre 3% e 4% das matrizes nacionais. “Mas todo
o lixo que foi utilizado para gerar eletricidade
no mundo em 2006 equivaleu ao que as residências
brasileiras consumiram em 2007, o que é algo
significativo”.
Luciano Basto espera que até
o terceiro trimestre de 2010, o Centro Tecnológico
da Coppe conclua o sistema de aumento de eficiência
da Usina Verde, visando ao melhor aproveitamento
do calor gerado, com menos investimentos. “Dispor
de muito mais eletricidade. Então, passa
a haver mais receita”, afirmou.
+ Mais
Análise de cavernas deve
atrasar licença ambiental para Usina de Belo
Monte
1 de Dezembro de 2009 - 18h18
- Luana Lourenço - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - A análise do grau
de relevância das cavernas que poderão
ser afetadas com a construção da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu
(PA), deve atrasar a avaliação do
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da obra para a
concessão da licença ambiental prévia
para o empreendimento.
Em audiência pública
realizada hoje (1°) pelo Ministério Público
Federal para debater os impactos socioambientais
de Belo Monte, o representante do Instituto Brasileiro
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
José Carlos Reino, informou que os técnicos
da área irão a Belo Monte no próximo
dia 12 para avaliar in loco as cavernas apontadas
no EIA e ouvir a população local sobre
as cavidades. “Vamos a Altamira entre os dias 12
e 16 de dezembro”, disse.
A análise é um dos
pontos ainda pendentes para a liberação
da licença ambiental prévia, segundo
técnicos do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama). O leilão
da hidrelétrica, que estava previsto para
21 de dezembro, só deve acontecer em 2010
por causa da falta do documento ambiental.
Segundo lideranças indígenas
presentes na audiência, o empreendimento deve
alagar um número maior de cavernas do que
o informado nos estudos apresentados pela Eletrobras.
Além disso, as comunidades argumentam que
não foram feitos estudos antropológicos
para as áreas. “As cavernas para nós
significam um lugar sagrado, índios já
moravam lá, podem ver, estão cheias
de desenhos”, disse um dos indígenas.
Desde agosto, a classificação
da relevância de cavernas é orientada
por decreto do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva que restringiu a proteção
total às cavernas consideradas de relevância
máxima, enquanto a legislação
anterior abrangia todas as cavernas.
Reino, do ICMBio, é um
dos poucos representantes do governo na audiência
pública. O MPF convidou o Ibama, a Eletrobras,
o Ministério de Minas e Energia e a Fundação
Nacional do Índio (Funai). Segundo a procuradora
da República Deborah Duprat, alguns chegaram
a confirmar presença, mas não apareceram.
Sem os órgãos diretamente envolvidos
com a obra, a audiência ficou esvaziada e
se transformou em desabafo das lideranças
indígenas e ribeirinhas contrárias
ao projeto da usina.