10 de Dezembro de 2009 - Amanda
Mota - Enviada Especial - Belém - A missionária
Jane Dweyr, que trabalhou diretamente com a freira
norte-americana Dorothy Stang – assassinada em fevereiro
de 2005 – na região de Anapú e Altamira,
no Pará, declarou que o sentimento dos amigos
e familiares diante da confirmação
da pena imposta a Rayfran das Neves Sales é
de “justiça feita”.
No mesmo ano do crime, Rayfran
confessou ser o autor do assassinato de irmã
Dorothy e foi condenado a 27 anos de prisão.
A pena foi confirmada hoje (10) no Fórum
Criminal de Belém, após a anulação
do novo julgamento que seria realizado para Rayfran.
“O que hoje foi decidido [confirmação
da pena] foi justo porque não deixa o criminoso
impune, mas não podemos esquecer que ainda
existem os mandantes do assassinato e que ainda
estão soltos no meio da população.
Eles também precisam ser julgados e retirados
do convívio da sociedade”, disse.
Ainda segundo Jane, é preciso
levar em consideração a presença
de um “consórcio de fazendeiros” que atuam
ilegalmente em questões fundiárias
no interior do Pará. De acordo com Jane,
no primeiro depoimento prestado, em 2005, Rayfran
da Neves teria dito que “uma pessoa encomendou o
crime em troca de R$ 50 mil”.
Juntamente com Dorothy Stang e
integrantes da Pastoral da Terra, Jane Dwyer deu
início ao Projeto de Desenvolvimento Sustentável
nos assentamentos Esperança e Virola Jatobá,
localizados nas proximidades da pequena cidade de
Anapú, a mais de 15 horas de estrada da capital
Belém. Os dois assentamentos possuem atualmente
cerca de 180 famílias.
“A gente ainda vive sob a pressão
desse grupo de pessoas. O povo de Anapú vem
tentando levar adiante os projetos de desenvolvimento
sustentável e tentando apenas defender a
floresta e suas famílias, mas sofrem perseguição
direto”, revelou.
Para o promotor de justiça
Edson Souza, o pedido de anulação
do julgamento, feito pela defesa de Rayfran das
Neves, foi uma surpresa. Contudo, ele explicou que
os mandantes do crime serão julgados e punidos.
De acordo com a denúncia
oferecida pelo Ministério Público,
no dia 12 de fevereiro de 2005, a missionária
Dorothy Stang seguia para uma reunião com
colonos para tratar de questões referentes
ao programa de desenvolvimento sustentável.
No caminho, encontrou Rayfran das Neves Sales e
Clodoaldo Carlos Batista. O primeiro confessou ter
efetuado os disparos e o segundo, que cumpre pena
de 17 anos de reclusão, presenciou tudo.
Os fazendeiros Regivaldo Pereira Galvão e
Vitalmiro Bastos de Moura são acusados de
serem os mandantes do crime. Ambos aguardam julgamento
em liberdade.
“Apesar da surpresa, é
direito do réu não querer mais ser
submetido a novo júri, aceitar a pena que
lhe foi inicialmente imposta e, com isso, ter acesso
aos benefícios que e lei lhe permite mediante
o tempo de reclusão que possui”, explicou
o promotor.
+ Mais
Advogada de réu confesso
diz que fazendeiros não são mandantes
do assassinato de irmã Dorothy
10 de Dezembro de 2009 - Amanda
Mota - Enviada Especial - Belém - A advogada
Marilda Eunice Cantal, que defende Rayfran das Neves
Sales - réu confesso do assassinato da missionária
Dorothy Stang -, afirmou hoje (10) que os fazendeiros
Regivaldo Pereira Galvão e Vitalmiro Bastos
de Moura não são os mandantes do assassinato
da freira norte-americana.
Os dois fazendeiros são
acusados de terem planejado e mandado matar a missionária.
Ambos aguardam julgamento em liberdade.
“A versão do Rayfran é
que ele não matou a irmã Dorothy em
troca de recompensa. Ele disse quem foi a pessoa
que o encaminhou a fazer isso [crime] na época
e inocenta totalmente o Vitalmiro e o Regivaldo”,
declarou.
Perguntada sobre quem seria o
“mandante do crime”, Marilda Cantal afirmou que
não poderia citar o nome porque se trata
de uma testemunha do processo. “Essa pessoa é
testemunha do processo e no dia em que for chamada
a depor irá assumir isso”, acrescentou.
Hoje, Rayfran das Neves Sales seria novamente julgado
pelo crime, mas a defesa apresentou pedido para
suspender o novo julgamento e preferiu aceitar a
pena de reclusão de 27 anos, imposta em dezembro
de 2005, quando confessou ser o autor dos disparos
que mataram Dorothy Stang.
O juiz Raimundo Moisés
Alves Flexa, presidente do 2º Tribunal do Júri
de Bélem, acatou o pedido e manteve a decisão
do primeiro julgamento em que Rayfran foi condenado
por homicidio duplamente qualificado.
Ainda segundo a advogada, como
o réu já cumpriu um sexto da pena,
ele tem o direito de progredir do regime fechado
para o semiaberto, conforme Lei de Execuções
Penais vigente à época da condenação.
“Fiz um estudo dos julgamentos
anteriores a que o Rayfran foi submetido e avaliei
que a pena poderia aumentar em novo julgamento.
A melhor decisão que eu vislumbrei, já
que o Rayfran já merece a progressão
de regime, foi pedir dispensa desse júri”,
explicou Marilda.
+ Mais
David Stang chega a Belém
para novo julgamento do assassino de Dorothy Stang
9 de Dezembro de 2009 - Amanda
Mota - Enviada Especial - Belém - O irmão
da missionária Dorothy Stang, David Stang,
está em Belém para acompanhar amanhã
(10) o novo julgamento de Rayfran das Neves Sales,
preso em 2005 após confessar a morte, a tiros,
da freira norte-americana.
David Stang disse, em entrevista
à Agência Brasil, que saiu, mais uma
vez, da Califórnia, nos Estados Unidos, em
busca de justiça para a morte de sua irmã
na região de Anapu, no sudoeste do Pará.
Segundo David, a família
Stang conhece bem os fatos e não tem dúvidas
de que Rayfran foi mandado pelos fazendeiros Regivaldo
Pereira Galvão e Vitalmiro Bastos de Moura
para cometer o assassinato. Para ele, está
claro que Rayfran das Neves foi o executor, mas
também participaram do crime os mandantes
e os intermediários dessa ação.
“Só queremos justiça
para o que houve com minha irmã. Nossa família
mão entende o porquê da liberdade dos
mandantes. Cadê a Justiça deste país?”.
A missionária Dorothy Stang
foi morta com seis tiros em Anapu, a 300 quilômetros
da capital paraense, em fevereiro de 2005. Ela participava
da Comissão Pastoral da Terra e trabalhava
em constante diálogo com lideranças
camponesas, políticas e religiosas, na busca
de soluções para conflitos relacionados
à posse e à exploração
da terra na região.