Posted on 11 December
2009 Por André Tavares * - A COP 15, iniciada
no dia 7 de dezembro, corresponde a um passo definitivo
nas negociações internacionais sobre
mudanças climáticas. Já em
1992, no Rio de Janeiro, as discussões relacionadas
às mudanças climáticas começaram
a ganhar corpo. O problema foi reconhecido pelos
diferentes países do planeta e um primeiro
passo em direção a sua solução
foi dado com a Convenção-Quadro as
Nações Unidas sobre a Mudança
do Clima. Desde então, anualmente são
realizadas reuniões para definir diretrizes
para um acordo climático mundial.
Em 1997, foi assinado o Protocolo
de Quioto, primeiro acordo com metas de redução
de gases de efeito estufa. Em 2007, mais um passo
importante foi dado - o Plano de Ação
de Bali, estabelecido na COP-13, realizada na Indonésia.
Neste Plano, foram traçados caminhos para
possibilitar o acordo. Pode-se dividi-los em cinco
pontos cruciais e indissociáveis que devem
orientar as negociações na COP-15:
(1) visão compartilhada, pois é fundamental
que os países entrem em um consenso quanto
ao objetivo global de reduções; (2)
mitigação, no qual serão detalhadas
as metas para reduzir as emissões de gases
de efeito estufa (GEEs); (3) adaptação,
definindo mecanismos de auxílio e proteção
aos países mais vulneráveis aos efeitos
das mudanças climáticas; (4) transferência
de tecnologias, para facilitar o acesso pelos países
em desenvolvimento de tecnologias de baixa emissão
e; (5) apoio financeiro, por parte dos países
mais ricos.
A chamada “visão compartilhada” representa
sua visão de longo prazo, o objetivo último
de todos os países reunidos. No Protocolo
de Quioto, a visão compartilhada determinava
manter a interferência humana a níveis
que não levassem a mudanças perigosas
nos sistemas climáticos mundiais. A indefinição
inerente a esta afirmação (quando
é que começa a ser perigoso?) resultou
na necessidade de determinar qual a meta de redução
de emissões do planeta como um todo.
Há vários anos, diversas organizações,
incluindo o WWF-Brasil, defendiam 2º C como
o aquecimento máximo depois do qual mudanças
perigosas aconteceriam nos padrões climáticos
mundiais. Esta meta já consta em vários
pronunciamentos oficiais de reuniões prévias,
como, por exemplo, do G20 (grupo das 20 maiores
economias do mundo) e, muito provavelmente constará
no documento final acordado em Copenhague. Mas,
o WWF-Brasil deseja que o texto também estabeleça
as metas em termos de reduções por
parte dos diferentes blocos de países. Para
não ultrapassar os 2º C, as emissões
mundiais precisam reduzir-se em 80% até 2050.
Mais ainda, os países desenvolvidos precisam
reduzir suas emissões em 25-40% até
2020 e os maiores países em desenvolvimento
precisam reduzir o crescimento de suas emissões
em 30%.
A reunião em Copenhague representa um marco
definitivo em todo este processo de negociação.
Dela é preciso sair um resultado bastante
ambicioso que possibilite uma mudança radical
nos padrões de produção e consumo,
para que enfim, após 17 anos de conversas,
ações verdadeiramente fortes possam
ser tomadas em direção a um desenvolvimento
de baixo carbono.
(*) Analista de Programa de Conservação
Júnior do WWF-Brasil
+ Mais
Investir em tecnologias limpas
é lucrativo
Posted on 11 December 2009 - Copenhague,
Dinamarca - As tecnologias para a geração
de energia limpa estão despontando como um
caminho que traz inovação, sustentabilidade
e lucratividade. Com isso, está em vias de
se tornar o terceiro maior setor industrial mundial,
segundo relatório da Rede WWF, divulgado
hoje em Copenhague.
A construção de
uma indústria forte em tecnologias limpas
pode transformar um país em liderança
mundial. Já é possível observar
o pioneirismo de alguns países neste aspecto,
como é o caso da Dinamarca, com a energia
eólica, e do Brasil, com o biocombustível,
que já lideram o conhecimento sobre essas
tecnologias sustentáveis, além da
Alemanha, que já vem desenvolvendo com sucesso
iniciativas para a produção de energia
eólica e solar.
O relatório da Rede WWF
prevê que os ganhos das indústrias
que desenvolvem essas tecnologias devem movimentar
1.600 bilhões de euros em 2020, atrás
apenas da indústria de produtos eletrônicos
e automóveis, ocupando o terceiro lugar no
ranking industrial. Para se ter uma idéia
comparativa, já em 2007, as tecnologias de
energia limpa movimentaram 630 bilhões de
euros, mais que a indústria farmacêutica.
A receita das vendas de produtos
de eficiência energética em 2007 foi
mais de cinco vezes a receita dos produtos de energia
renovável. Porém, isso deve se alterar
significativamente em 2020, com a taxa de crescimento
das energias renováveis em 15% ao ano, que
representa três vezes mais do que os ainda
respeitáveis 5% das vendas de produtos e
processos ligados à eficiência energética.
“Avaliando estes dados, chega-se
à conclusão óbvia de que os
governos e a iniciativa privada devem investir em
tecnologias limpas – com subsídios e recursos
diretos, respectivamente. Primeiro porque se trata
da segurança energética do planeta.
Segundo porque é lá, na energia limpa,
onde estará o dinheiro. Claramente, a partir
de uma perspectiva nacional, há muito a ganhar
e nada a perder ao investir em energia limpa“, analisa
Denise Hamú, secretária geral do WWF-Brasil.
Os bancos centrais podem ajudar,
incentivando a inclusão do "risco carbono"
no modelo financeiro. O acesso ao capital de risco
também tem sido um fator para o sucesso da
energia limpa nos países, que já estão
buscando a liderança no desenvolvimento desse
tipo de tecnologia. O relatório sublinha,
também, a importância de se desenvolver
um forte mercado interno para essas tecnologias.
Isso permite às empresas experimentar, ganhar
experiência e rapidez ao percorrer a curva
de aprendizado, dando-lhes uma vantagem competitiva
e dotando-as de referências e exemplos de
projetos.
Os governos podem apoiar tais
mercados domésticos com subsídios,
energias renováveis, metas e políticas
de contratos. Isso poderia beneficiar muitos países,
como o grupo da União Européia, que
se classificou em 18º lugar no ranking do PIB,
atrás da Alemanha, mesmo em termos absolutos,
e do Reino Unido, que ficou com a 19° posição.
Ilustrando as oportunidades perdidas, a Austrália,
que desperdiçou uma vantagem inicial de seus
técnicos em energia solar, está classificada
em 28°. A China é o quarto país
classificado em termos de vendas absolutas e sexto
em vendas relativas ao seu PIB.
Para o WWF-Brasil, renunciar a
estas oportunidades por causa do velho hábito
de se utilizar combustíveis fósseis
poluentes, em razão das fortes pressões
do lobby da indústria tradicional é
uma demonstração de que se está
agindo contra os interesses mundiais.
Sobre o WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma organização
não governamental brasileira dedicada à
conservação da natureza com os objetivos
de harmonizar a atividade humana com a conservação
da biodiversidade e de promover o uso racional dos
recursos naturais em benefício dos cidadãos
de hoje e das futuras gerações. O
WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília,
desenvolve projetos em todo o país e integra
a Rede WWF, a maior rede independente de conservação
da natureza, com atuação em mais de
100 países e o apoio de cerca de 5 milhões
de pessoas, incluindo associados e voluntários.