Há exatos seis anos muitos
agricultores paranaenses viam o artigo 2º do
Código Florestal Brasileiro (Lei n° 4.771/1965)
como uma ameaça à
economia da sua propriedade. Em um estado agrícola,
perder áreas destinadas à produção
para plantar árvores era algo incompreensível,
tanto para pequenos, como para os grandes agricultores.
Com isso, orientações
sobre a importância da recomposição
ou manutenção das matas ciliares –
vegetação presente ao longo das margens
dos rios e ao redor de nascentes e considerada Área
de Preservação Permanente – como benefício
para produção ou apenas em cumprimento
a Lei eram desconsideradas pelos agricultores.
Foram plantadas 100 milhões
de árvores, recuperadas 4 mil nascentes apenas
na região Oeste do Paraná e 132 mil
agricultores beneficiados. Estes são alguns
resultados obtidos pelo Programa Mata Ciliar, lançado
em 2004 pelo Governo do estado e que hoje, já
é considerado um dos maiores Programas de
recuperação de cobertura florestal
do planeta.
O secretário do Meio Ambiente
e Recursos Hídricos, Rasca Rodrigues, afirma
que uma das maiores preocupações do
governador Requião ao assumir o Governo era
reverter o processo histórico de degradação
da cobertura florestal. “O reflexo da perda de florestas
era constatado na queda da qualidade da água
dos rios, sumiço de nascentes, extinção
de espécies nativas e pequenas propriedades
produzindo menos, em função da erosão
do solo”, disse.
Em 2004 o Governo lançou
um desafio ao Paraná: a recomposição
das matas ciliares. O Programa Mata Ciliar surgiu
com a meta de plantar 90 milhões de árvores
às margens dos principais rios, Unidades
de Conservação, reservatórios
de usinas hidrelétricas e mananciais de abastecimento.
Foram investidos cerca de R$ 20 milhões na
reestruturação dos 20 viveiros do
IAP que até o ano de 2004, produziam 3 milhões
de mudas de espécies exóticas, anualmente.
“Hoje produzimos 20 milhões
de mudas de 85 espécies nativas em um ano.
Todas elas recomendadas pela Embrapa nas sete regiões
bioclimáticas do Paraná”, afirma Rasca
Rodrigues. Para descentralizar a produção
foram adquiridos outros 422 viveiros, doados a prefeituras,
Copel, Sanepar, APAES, Colégios Agrícolas,
Clubes de Serviço, penitenciárias
e Cooperativas.
O Programa recompõe a mata
ciliar plantando mudas de espécies nativas
em áreas desmatadas ou isolando áreas
parcialmente degradadas, para que a vegetação
se recomponha naturalmente. O Programa também
fornece cercas de arame para que pequenos agricultores
isolem as matas ciliares em áreas de criação
de gado. “Outro fator importante para o sucesso
do Mata Ciliar está no processo contínuo
de educação ambiental, controle e
fiscalização”, afirma o coordenador
estadual do Programa Mata Ciliar, Paulo Roberto
Caçola.
Em campo, 1,8 mil técnicos
do Governo ou cedidos por prefeituras, Organizações
Não-Governamentais, Cooperativas e entidades
parceiras fazem o trabalho de convencimento e cadastro
dos agricultores inseridos no maior programa de
recomposição de mata ciliar do mundo.
Um dos grandes parceiros do Programa
Mata Ciliar é a Organização
das Cooperativas do Paraná (Ocepar). O presidente
do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski,
relata que ao longo dos anos as Cooperativas têm
promovido cada vez mais ações voltadas
a melhoria da qualidade ambiental.
“A água é um insumo
básico para a produção de alimentos
e a mata ciliar desempenha papel fundamental na
conservação deste precioso recurso
natural. Por isso, os mais de mil profissionais
que atuam na área técnica das cooperativas
paranaenses estão comprometidos em orientar
e assessorar os agricultores para que tenhamos,
o mais rápido possível, 100% das matas
ciliares preservando nossos rios”, afirma João
Paulo.
RECORDE – Com tamanha mobilização
os resultados e bons exemplos foram surgindo. Cerca
de 300 entidades envolvidas, 30.122 mil hectares
de novas mudas semeadas no campo, 4.982 mil quilômetros
de cercas , 17.488 hectares de áreas abandonadas
para regeneração natural e 132 mil
pessoas que integram o Programa em todo o Paraná.
Já índice de sobrevivência das
mudas é de 55% .
“Passamos por três momentos
em relação ao meio ambiente: no primeiro,
o agricultor se preocupava com o quanto perderia
com a preservação ambiental; no segundo,
o agricultor preocupou-se com a multa por não
respeitar o código florestal e, agora, chegamos
ao momento em que o agricultor está tendo
consciência da importância da preservação
para a economia da propriedade”, disse o presidente
da Coooperativa Agroindustrial de Cascavel, Dilvo
Grolli.
A exemplo de outros municípios
paranaenses, na regional do IAP de Guarapuava –
que atende a 34 municípios - os plantios
acontecem através de parceria com instituições
públicas e privadas.
De acordo com o chefe do escritório
regional da Sema e do Iap, Idelfonso Costa, desde
2003 foram distribuídas 9 milhões
de mudas de espécies nativas na região.
“O mais importante é que conseguimos contabilizar
a participação de 733 mil pessoas
nos plantios em comemoração ao Dia
da Água, Dia do Meio Ambiente, Dia da Árvore
e Dia do Rio. Uma marca histórica para a
região de participação social”.
Outra conquista do Programa Mata
Ciliar - em uma das maiores regiões agrícolas
do estado - foi a assinatura, em 2006 de um Protocolo
de Intenções com a Cooperativa Agrária
Mista de Entre Rios, para o fornecimento de mais
de 100 mil mudas para recuperação
de Mata Ciliar em área dos seus associados
e da própria Cooperativa. Já a recuperação
da Mata Ciliar de abrangência da Usina Santa
Clara incluiu o plantio de mais de 200 mil mudas
de espécies nativas.
Exemplo - Bons exemplos e iniciativas
em prol do meio ambiente não faltam na história
do Programa Mata Ciliar que a cada ano ganha reforços.
Um deles é o Projeto Água Viva da
Coopavel, que desde 2004 recuperou 4,2 mil nascentes
de água em 3,6 mil propriedades rurais da
região Oeste.
Segundo Grolli, o projeto surgiu
com um objetivo central que era melhorar a qualidade
da água e a consciência dos agricultores
sobre o meio ambiente. “Tínhamos um objetivo
claro que é a preservação das
nascentes e, enquanto tiver uma nascente precisando
ser recuperada, o Programa irá continuar”.
O associado da Copavel, Sedenei
João Lupatini, comemora os resultados da
recuperação da nascente em sua propriedade
“A vazão da fonte de água aumentou
de 2 mil litros por segundo para 2,5 mil litros
por segundo. Além disso, eu e minha família
ganhamos em saúde, qualidade de vida e estamos
melhorando a produtividade de aves, suínos
e pecuária de leite, reduzindo o número
de doenças provocadas pelo consumo de água
contaminada”, afirmou.
E como uma boa ação
leva a outra, no último mês de novembro
a Cooperativa Agroindustrial de Mandaguari lançou
o Projeto Olho D’Água que irá recuperar
as minas e nascentes em propriedades de 22 municípios
da região, com orientação técnica
da Sema, Iap e Emater. Todos os agricultores que
tiverem uma nascente poderão se cadastrar
no Projeto e serão capacitados. A única
contrapartida do proprietário será
a mão de obra já que a empresa Nortox
entrará com materiais e logística.
“Mais um fruto do Programa Mata Ciliar em prol da
qualidade de vida das futuras gerações”,
disse o secretário Rasca Rodrigues.
Como Participar - Através
do site www.mataciliar.pr.gov.br ou www.iap.pr.gov.br
é possível encontrar informações
sobre os viveiros e onde as mudas podem ser obtidas,
endereços e telefones dos viveiros do Paraná.