21/12/2009 - A queima da cana-de-açúcar
no estado de São Paulo deve ser gradativamente
eliminada até 2017, de acordo com o Protocolo
Agroambiental do Setor Sucroenergético, assinado
em 2007 entre o governo do estado e a União
da Indústria de Cana-de-Açúcar
(Unica).
O acordo reforça uma legislação
ambiental já rigorosa com relação
às queimadas, mas que ainda não tem
o apoio de um método eficiente que permita
o monitoramento da forma de colheita, ou seja, se
ela é feita com ou sem o uso de fogo.
Por conta disso, pesquisadores
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT),
em São José dos Campos (SP), identificaram
e mapearam o modo de colheita da cana-de-açúcar
nos municípios produtores paulistas.
Um dos objetivos do estudo, publicado
na revista Engenharia Agrícola, foi mapear
as áreas de cana colhida com e sem o uso
do fogo no ano-safra 2006/2007 a partir de imagens
de sensoriamento remoto, a fim de estimar o percentual
de área colhida sem queima.
Pela primeira vez, as imagens
de sensoriamento remoto foram utilizadas para monitorar
a colheita da cana. Segundo os resultados do estudo,
cujas imagens foram adquiridas de abril a dezembro
de 2006, 33,5% da área total foi colhida
sem o uso do fogo contra 66% em que se utilizou
o recurso.
Em relação à
área mecanizável, o estudo identificou
que 34,7% foram colhidos com uso do fogo e o restante
sem. De acordo com Daniel Alves de Aguiar, um dos
autores do trabalho, a identificação
da área mecanizável não permite
concluir se o produtor usa máquinas ou não:
ela se refere apenas à declividade, isto
é, diz respeito à área onde
existe a possibilidade de colheita com maquinário
necessário.
“Ela se refere à área
que tem uma declividade do terreno menor ou igual
a 12%. Se for maior do que isso, a máquina
não consegue colher e os produtores terão
um prazo mais extenso para se adaptar ao protocolo
e à legislação”, explica Aguiar.
De acordo com o protocolo, o prazo
para o fim das queimadas nas áreas que permitem
o uso de máquinas agrícolas é
2014 e para as não mecanizáveis é
2017. “Mas mesmo nas áreas não mecanizáveis
os produtores terão de se adaptar. Ou eles
passam a colher manualmente sem queima ou terão
que esperar uma nova tecnologia que permita a colheita
em áreas com declividade maior. Senão
terão que deixar de cultivar cana nessas
áreas”, disse Aguiar.
Segundo a pesquisa, a área
de cana colhida sem queima foi avaliada em 1,1 milhão
de hectares no período estudado. E, apesar
de ainda parecer pouca – perto dos 3,24 milhões
de hectares do total –, a área atendeu à
legislação ambiental que, para o ano
de 2006, previa que 30% da área de cana fosse
colhida sem queima.
São Paulo produz quase
dois terços do açúcar e álcool
do País, segundo dados da Unica. O cultivo
da cana ocupa mais da metade das lavouras do estado,
excluídas as pastagens. O estudo indicou
que entre os 10 municípios com maior área
de cultivo de cana, Piracicaba, Paraguaçu
Paulista, Jaboticabal, Guaíra e Araraquara
se destacaram por produzirem menos de 40% do total
com uso de fogo em 2006.
Já Barretos e Jaú
(quinto e sexto maiores produtores) queimaram cerca
de 80% e 92% de suas áreas colhidas, respectivamente.
Batatais, Lençóis Paulista e Morro
Agudo queimaram entre 60% e 80%. Entre as cidades
que colheram toda sua área sem o uso do fogo
destacam-se Agudos e Paulistânia, com cerca
de 1 mil e de 480 hectares, respectivamente.
Desde o período em que
foi feito o estudo, o cenário parece ter
melhorado consideravelmente em São Paulo.
Segundo a Unica, este ano pelo menos 50% dos canaviais
paulistas serão colhidos sem uso do fogo.
O balanço do segundo ano de vigência
do Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético,
divulgado em novembro, apontou um índice
de mecanização no cultivo da cana
no estado de 54%, contra 34% de antes do compromisso.