19 de Dezembro de 2009 - São
Paulo (SP), Brasil — Os líderes mundiais
mostraram hoje sua incapacidade de colocar seus
interesses particulares – especialmente econômicos
– acima das necessidades
da humanidade. As milhões de pessoas que
dependiam de uma decisão ambiciosa que de
fato controlasse o aquecimento global foram abandonados
à sua própria sorte.
Os 120 chefes de Estado reunidos
em Copenhague, na COP15, falharam. Eles colocaram
suas prioridades domésticas acima de um compromisso
global. E quem vai pagar mais caro são justamente
os mais pobres e vulneráveis. “O acordo não
é justo, ambicioso, nem legalmente vinculante.
Os líderes falharam em evitar o caos climático.
Este ano o mundo enfrentou uma série de crises
e com certeza a maior delas é a crise de
liderança”, diz Marcelo Furtado, diretor-executivo
do Greenpeace no Brasil.
Os chefes de Estado abandonaram
a COP15 sem declarações públicas
e, principalmente, sem cumprir seu mais essencial
objetivo: evitar os efeitos perigosos das mudanças
climáticas. Um “acordo de Copenhague”, costurado
por 30 dos quase 200 países que integram
a Convenção do Clima, é fraco
e não representa nem um começo do
que é necessário para controlar as
alterações no planeta. Muitos países
da América Latina, da África e pequenas
ilhas se recusaram a se associar ao texto, em uma
clara demonstração de repúdio.
O tal “acordo” determina que os
esforços devem ser feitos para manter o aumento
da temperatura em menos de 2°C e coloca algum
dinheiro na mesa para começar a ajudar os
países mais pobres a se adaptarem ao aquecimento
global. Mas falha em seu cerne, ao não determinar
uma meta ambiciosa de corte das emissões
de gases-estufa. Sem isso, qualquer esforço
de adaptação é insuficiente.
O presidente americano Barack
Obama afirmou ontem, depois de abandonar a conferência,
que o acordo de Copenhague representava a esperança
de uma conclusão feliz de negociações
que estão apenas começando. Afinal,
segundo ele, conseguir um acordo com valor legal
é “difícil” e toma tempo.
A questão é que
o aquecimento global não espera as vontades
e as dificuldades enfrentadas pelos políticos.
A justificativa não convence suas vítimas.
Longe dos corredores acarpetados de Copenhague,
Washington, Genebra, Pequim e Brasília, as
populações mais vulneráveis
do planeta vão sofrer pela inação
desse grupo.
“A cidade de Copenhague foi palco
de um crime, com os culpados correndo para o aeroporto
perseguidos pela vergonha”, afirma Kumi Naidoo,
diretor-executivo do Greenpeace International. “Presidentes
e primeiros-ministros tiveram uma chance de uma
em um milhão de mudar o mundo para sempre
e impedir que o clima entre em colapso. Produziram
apenas um entendimento cheio de omissões.”
Um acordo com força de
lei, justo e ambicioso precisa ser fechado para
controlar as mudanças climáticas.
Os países desenvolvidos, que têm a
maior responsabilidade, precisam cortar em 40% as
emissões de gases-estufa em relação
a 11000 até 2020. Os países emergentes
também precisam fazer mais, com redução
da taxa de crescimento de suas emissões.
É preciso zerar o desmatamento das florestas
tropicais e criar um mecanismo que financie ações
de adaptação e mitigação
nos países pobres. Sem nada disso, o mundo
sai da COP15 deixando o presente e o futuro da humanidade
em perigo.
A sociedade cobrou com propriedade
a ida de seus presidentes para lá, para que
assumissem posições corajosas. Eles
foram, mas cumpriram apenas metade de seu papel.
“A ideia de pressionar para que os líderes
viessem para cá era justamente criar as condições
para que houvesse uma decisão. Decidiram
não decidir”, diz Paulo Adario, diretor da
campanha da Amazônia do Greenpeace. “Eles
deveriam ter vindo para cá com uma perspectiva
global. Chegaram com os dois olhos virados para
seus próprios quintais. Copenhague era o
momento de ser ousado, de ter visão global.
Comportaram-se como provincianos.”
A reunião de cúpula
terminou da mesma maneira que começou, sem
metas ambiciosas de corte de emissão, sem
recursos financeiros para longo prazo e sem um texto
consensual, com força de lei, que assegure
seu cumprimento junto à comunidade internacional.
“Temos de seguir em frente. Não apenas com
marchas nas ruas, mas engajando o setor privado,
o movimento social e os governos locais para transformar
nossa comunidade e criar mais pressão política
nos nossos governantes”, diz Furtado. “Afinal não
podemos mudar a ciência, mas podemos mudar
os políticos.”