28 de Dezembro de 2009 - Danilo
Macedo - Repórter da Agência Brasil
- Valter Campanato/Abr - Brasília - Joe Valle,
dono da Fazenda Malunga, mostra a estudantes a metodologia
que usa no plantio e beneficiamento de produtos
orgânicos
Brasília - A procura por alimentos orgânicos
vem crescendo mais rápido do que a oferta
no Brasil. Apenas 1,8% dos agricultores adota esse
modelo de produção
no país, segundo o Censo Agropecuário
2006, divulgado em setembro deste ano pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Existem no Brasil 5,2 milhões de propriedades
rurais.
A dificuldade na compra de orgânicos
é sentida pelos próprios consumidores,
que têm que chegar bem cedo às feiras
e supermercados para conseguir esse tipo de produto
com qualidade e sem ter que enfrentar filas.
Os produtores, por sua vez, alegam
que a falta de assistência técnica
é a principal barreira para superar a escassez
da oferta de orgânicos no mercado.
A falta de investimentos do governo
no apoio técnico aos produtores, principalmente
por meio das empresas de Assistência Técnica
e Extensão Rural, ocasionaram o surgimento
de um modelo diferente de orientação
oferecido pelas empresas privadas de fertilizantes
e defensivos agrícolas. E, por não
usarem substâncias químicas na lavoura,
os agricultores orgânicos acabam excluídos
desse modelo.
“O desenvolvimento da agricultura
orgânica passa, necessariamente, por uma assistência
técnica pública”, afirmou à
Agência Brasil o coordenador de Agroecologia
do Ministério da Agricultura, Rogério
Dias. No governo, ele atua como uma espécie
de coordenador de ações de estímulo
à produção de orgânicos.
“Se ela [agricultura orgânica] é interessante,
precisa de políticas públicas, e não
apenas de produtores investindo sozinhos em seu
desenvolvimento”.
O diretor de Política Agrícola
e Informação da Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab), Silvio Porto, também
destaca a importância do assessoramento técnico
para o desenvolvimento do setor. Para ele, o atendimento
aos produtores ainda é insuficiente.
“São poucos os técnicos
que têm formação nessa área.
Temos uma enorme limitação de assessoramento
e falta uma política que, efetivamente, induza
o desenvolvimento da agroecologia.”
O financiamento de núcleos
de agroecologia em instituições federais
de ensino, programado pela Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica do Ministério
da Educação, poderá contribuir
para a redução do problema, com a
formação de profissionais especializados
e a difusão de pesquisas sobre o tema. Essa
é a expectativa da coordenadora da secretaria,
Caetana Resende.
“Queremos casar as duas coisas:
formação de recursos humanos para
dar assistência a essa produção,
e levar aos produtores o que já existe [em
termos de informação], para que eles
possam escolher que tipo de produção
vão ter dentro de sua propriedade”, explicou.
De acordo com o Censo Agropecuário,
o agricultor que se dedica a essa prática,
na maior parte dos casos, é proprietário
das terras que cultiva (77,3%). Ainda conforme o
censo, 41,6% têm o ensino fundamental incompleto
e dois em cada dez não sabem ler nem escrever.
O secretário de Inclusão
Social do Ministério de Ciência e Tecnologia,
Joe Valle, que trabalha com orgânicos há
mais de 20 anos, aponta outra barreira: o despreparo
de funcionários de instituições
financeiras que operam com linhas de crédito
para o setor rural. “Já temos, em vários
lugares, linhas de crédito específicas
para orgânicos, mas falta conhecimento dos
funcionários dos bancos.”
+ Mais
Orgânicos - Setor espera
grande desenvolvimento a partir do ano que vem
28 de Dezembro de 2009 - Luiz
Augusto Gollo - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - A edição
de agosto da Revista Orgânica, que circula
no Rio de Janeiro, mostrou a dimensão alcançada
pela alimentação orgânica na
principal potência industrial do planeta,
os Estados Unidos.
“A primeira-dama Michelle Obama
vai cultivar uma horta orgânica nos jardins
da Casa Branca, sede oficial do presidente norte-americano.
Da horta, sairão vegetais, ervas e legumes,
como espinafre, acelga, couve, tomates pequenos
e pimentas, diretamente para a cozinha, para alimentar
a família Obama e também para refeições
em eventos oficiais”, diz a publicação.
“Na realidade, a preocupação
deles com alimentação saudável
ficou bem clara na campanha eleitoral do presidente
norte-americano. Este foi um tema recorrente, bem
como a questão ambiental e o desenvolvimento
sustentável. Infelizmente, por aqui a história
é muito diferente”, comenta o coordenador
da feira de produtos orgânicos da Glória,
no Rio, Renato Martelleto.
A feira coordenada por Martelleto
é a mais antiga da capital fluminense e,
ao completar 15 anos de existência em outubro,
passou a ter uma diversidade maior de alimentos
ofertados. As barracas também passaram por
uma reforma no seu desenho. Atualmente, 13 produtores
são responsáveis pelo abastecimento
de produtos, vindos da área rural de cidades
da Serra dos Órgãos fluminense.
“Estive agora no Brejal, em Petrópolis,
e fiquei triste com a situação dos
produtores, sem condições financeiras
para a colheita e o transporte até as feirinhas
onde vendem. Se a Feira da Glória acabasse
hoje, pelo menos 20 famílias do Brejal não
teriam como sobreviver”, relata. Martelleto se queixa
do pouco acesso dos pequenos produtores às
medidas de estímulo criadas pelos governos,
muitas, vezes, por razões burocráticas.
A questão da certificação
obrigatória dos produtos orgânicos
a partir de 2011, com a vigência da Lei dos
Orgânicos, trará uma nova realidade
ao mercado, na opinião não só
de Martelleto como de outros interessados no assunto.
Engenheira agrônoma da Associação
de Agricultores Biológicos do Rio de Janeiro
(Abio), Lúcia Helena Almeida comemora uma
mudança que considera essencial no novo marco
regulatório.
“A Abio poderá certificar
e orientar os produtores, o que hoje não
pode fazer. Uma coisa é certificar o produto
como orgânico, vendo que é cultivado
morro abaixo e não dizer nada. Outra coisa
é ensinar o produtor a plantar em outro lugar,
evitando a erosão. Isso é sustentabilidade,
é princípio do desenvolvimento sustentável”,
explica.
A aplicação da lei
dará à produção orgânica
brasileira uma personalidade institucional que não
tem, praticamente reabrindo o mercado que já
existe, mas de maneira precária. Como costuma
enfatizar o coordenador de Agroecologia do ministério
da Agricultura, Rogério Pereira Dias, “o
consumidor que ter confiança no produto”,
e o selo de certificação contribuirá
para reforçar esse sentimento, na opinião
dos participantes do processo.
Outra consequência da certificação
obrigatória será o acesso mais fácil
ao mercado externo, onde ela é pré-requisito
para qualquer produto. Já estão em
andamento, por exemplo, negociações
com importadores alemães de orgânicos
para adequar a certificação nacional
aos moldes europeus.
Coordenador do Grupo Executivo
de Agroindústria da Federação
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
(Firjan), o economista Antônio Salazar vê
o mercado consumidor cada dia mais consciente como
uma das origens da legislação mais
rigorosa.
“Não só os produtos
orgânicos estão em desenvolvimento.
Os produtos convencionais também estão
e a prova é que a agricultura procura utilizar
cada vez menos defensivos, embora eles sejam necessários
numa produção em larga escala. E a
pesquisa científica, que leva aos transgênicos,
busca exatamente produtos imunes às pragas
e doenças evitadas pelos defensivos. Na minha
opinião, é falsa a dicotomia entre
transgênicos e orgânicos”.
Para ele, a produção
e a comercialização de orgânicos
“são o resgate de uma prática antiga
da humanidade”. Mas o economista ressalta que o
setor tem espaço limitado de expansão.
“Não acredito que a produção
orgânica alcance a escala da necessidade de
alimentos no mundo de hoje. É claro que são
produtos mais saudáveis e a iniciativa da
família Obama é emblemática.
Mas nem sei se há espaço no terreno
da Casa Branca para uma produção capaz
de abastecer a mesa dos eventos oficiais”, comenta.
A Firjan desenvolve projetos de
fruticultura no norte e noroeste do estado, tradicionais
produtores, respectivamente, de cana-de-açúcar
e de gado. A proposta da federação
é criar um polo produtor de frutas para o
mercado interno e para exportação.
Salazar comemora a primeira colheita de pêssegos,
no norte fluminense, num total estimado de 400 toneladas,
neste ano.