28 de Dezembro de 2009 - Da Agência
Brasil - Antônio Cruz/Abr
- Brasília - Consumidores apontam que orgânicos
são mais saborosos e nutritivos
Brasília - A preocupação
com a saúde e com o impacto ambiental é
o principal fator que leva o consumidor a buscar
produtos orgânicos. É o que aponta
o pesquisador Francisco Vilela Resende, da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Unidade
Embrapa Hortaliças.
Resende diz que o interesse em
alimentos sem resíduos de agrotóxicos
e de produtos químicos é cada vez
maior.
Ele ressalta, porém, que
não existem pesquisas conclusivas da Embrapa
comparando a quantidade de nutrientes e sais minerais
nos alimentos orgânicos e nos convencionais.
Algumas pesquisas da empresa, no entanto, mostram
que os orgânicos têm mais vitamina C
e antioxidantes.
O pesquisador explica que o método
de produção do alimento também
influencia na qualidade nutricional. “Se você
tem um alimento produzido em sistema orgânico,
que tem maior qualidade agregada, mas não
é manuseado de forma correta, ele vai perder
qualidade.”
Além disso, a comparação
entre orgânicos e convencionais deveria ser
feita com alimentos produzidos na mesma área,
mas, de acordo com Resende, é impossível
produzir os dois tipos de alimento no mesmo terreno.
Para os consumidores, não
é apenas a ausência de agrotóxicos
que determina a preferência por orgânicos.
Eles também destacam a durabilidade e o sabor
diferenciado dos alimentos. “Duram muito mais, são
mais saborosos, mais crocantes e têm melhor
textura”, afirma a consumidora Teresa Cristina Oliveira,
de Brasília.
“Consumo orgânicos porque
sou agrônoma e sei o mal que fazem os agrotóxicos,
não só para quem consome, mas também
para a natureza em geral”, diz Muriel Saragoussi,
que aderiu aos orgânicos há 20 anos.
Na casa do militar Fábio
de Matos, só se consomem alimentos orgânicos.
Ele percorre quatro lugares todo os sábados
para compor a feira da semana. Matos diz que sua
saúde melhorou desde que começou a
consumir alimentos orgânicos, há quatro
anos.
“Concluí que talvez as
doenças que aparecem na televisão
fossem por causa de alguma coisa que as pessoas
estavam consumindo. A gente sabe que a má
alimentação causa um monte de problemas.
Eu percebi claramente que minha saúde melhorou.”
No dia a dia, alguns consumidores
combinam produtos orgânicos com alimentos
convencionais, como a professora Kátia Cardoso.
“Não dá para fugir totalmente [dos
produtos convencionais]. Nem todas as frutas são
orgânicas”, diz.
De acordo com o pesquisador Francisco
Resende, da Embrapa Hortaliças, a oferta
de frutas orgânicas ainda é restrita
porque “falta estímulo para os produtores”.
Ele explica que a plantação de frutas
é um investimento de longo prazo porque converter
a terra de produção convencional para
orgânica leva dois anos e o resultado do plantio
também é mais demorado.
No caso das hortaliças,
carro-chefe dos orgânicos, a conversão
demora um ano e é possível ter resultados
em 30 dias, segundo ele.
+ Mais
Orgânicos - Produtores formam
associações para facilitar a venda
e trocar experiências
28 de Dezembro de 2009 - Da Agência
Brasil - Marcello Casal Jr/Abr - Brasília
- Há 20 anos, a Associação
de Agricultura Ecológica promove, aos sábados,
feira de orgânicos na entrequadra 315/316
Norte
Brasília - No mercado de
alimentos orgânicos, as associações
de produtores vão além da simples
intermediação de vendas.
Além de dar a seus associados
orientação sobre o manejo e a venda
dos alimentos, elas garantem a certificação
dos produtores, que dividem os custos desse serviço.
Os membros da Associação
de Agricultura Ecológica (AGE) do Distrito
Federal, por exemplo, aprenderam juntos os princípios
da produção orgânica. Com 20
anos de atuação, a AGE tem atualmente
17 associados, sendo 12 deles ativos (os que levam
produtos para vender nas feiras).
Os associados da AGE só
comercializam os alimentos que produzem em feiras.
Eles estimam em R$ 15 mil por semana o total vendido
pelo grupo. Depois de retirada a porcentagem da
associação e dos gerentes de pontos
de venda, o valor obtido é dividido entre
os produtores.
O gerente da AGE, Marilberto Zavão
Lima, diz que não tem dificuldade para vender.
“A dificuldade é ter produto para vender.”
Deusmar Alves, produtor do Sítio
Mangabeira, que trabalha com orgânicos há
16 anos, conta que aprendeu o que sabe na AGE e
que há muita troca de informações
com a Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural (Emater-DF).
“Hoje a Emater cresceu muito,
abriu muito espaço para o crescimento da
agricultura orgânica, mas, no início,
a gente tinha mais informações só
entre nós mesmos produtores.” Ela destaca
o tipo de auxílio que os produtores recebem
da associação e a ajuda que prestam
uns aos outros. “Nosso lado técnico hoje
é bastante informal. Quando um produtor tem
dificuldade já vem procurar saber com outro
o que está certo, o que está errado.”
Também filiado à
AGE, Jorge Artur Chagas produz orgânicos há
25 anos. Segundo ele, no início, a associação
não tinha ajuda do Poder Público.
“Os programas agropecuários são bastante
voltados para o modelo convencional, ainda hoje
há dificuldade”, afirma Chagas, que defende
a venda sem intermediários. “A venda nas
feiras é o ideal para a produção
local. O consumidor sabe o que está comendo,
conhece o produtor e o sítio.”
O Sítio Gerânio,
de Francisco Marcolino, produz orgânicos desde
1988. “Percebemos a importância do alimento
orgânico ao ver os males causados pelo convencional
– entre os próprios produtores, muitos passavam
mal de tanto usar veneno, tanto produto químico.
Aí, a gente viu a necessidade de não
mexer mais com esse tipo de produto.”
Por motivo semelhante, José
Ibaldi, dono da Chácara Santa Cecília,
decidiu converter sua produção para
orgânicos em 1998. “Não estava me sentindo
bem usando produtos químicos, sobretudo agrotóxicos.
Aquilo não estava me agradando, e também
aos empregados que trabalhavam comigo, porque me
pareceu prejudicial à saúde do pessoal
todo.”
Para iniciar a nova atividade,
Ibaldi conversou com outros produtores, visitou
propriedades e fez cursos na Emater. A empresa reuniu
um grupo de produtores para discutir comercialização
de orgânicos e daí surgiu a ideia de
criar o Supermercado Orgânico da Centrais
de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF),
em 2001.
Em dezembro do mesmo ano, uma
associação de produtores orgânicos
começou a funcionar na Ceasa, inicialmente
em um estacionamento. Quatro anos depois, eles foram
para um galpão e atualmente contam com apoio
de um mercado na Ceasa que funciona durante dois
dias na semana. As vendas semanais ficam em torno
de R$ 15 mil.
Há também barracas
que vendem produtos orgânicos em diversos
pontos da cidade. Uma delas funciona semanalmente,
há cerca de seis anos, em frente ao Ministério
do Meio Ambiente, por meio de parceria entre os
funcionários e produtores do Assentamento
Colônia I.
Dora Sugimoto, que presidia a
Associação dos Trabalhadores do Ministério
do Meio Ambiente, conta que a ideia surgiu em 2003,
quando fez um trabalho sobre economia solidária
com alunos da Escola Técnica de Unaí,
a convite da Universidade de Brasília (UnB).
Ela sugeriu, então, que os funcionários
agissem como se fossem consumidores. Eles fizeram
então uma visita ao assentamento e doaram
sementes orgânicas aos agricultores.
“Uns 40 dias depois, eles apareceram
com os produtos, e nós pensamos: ‘agora temos
que fazer a nossa parte’.” Foi daí que surgiu
a feira, lembra Dora, que consome orgânicos
desde essa época. “Você economiza na
farmácia a diferença que gasta num
preço mais diferenciado.”