(22/12/2009) Você se lembra
do tatu-bolinha? Também conhecido como tatuzinho-de-jardim,
o bichinho é comum em canteiros e faz parte
das descobertas e brincadeiras de muitas
crianças. Ou, pelo menos, fazia, já
que está cada vez menos comum a convivência
com plantas e animais diversos na infância.
De toda forma, o tatu-bolinha
não ficará esquecido. Ele se tornou
o principal personagem de um projeto de educação
ambiental desenvolvido pelo pesquisador da Embrapa
Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Walter Matrangolo.
As atividades tiveram início em 2005 e envolvem
cursos para professores, produção
de história em quadrinhos, trabalhos pedagógicos
com uso de terrário, palestras e teatro de
bonecos.
Apresentado durante o VI Congresso
Brasileiro e II Congresso Latino Americano de Agroecologia,
o “Projeto de Ecoalfabetização Tatu-Bolinha”
foi bastante elogiado pelos participantes, que reuniram-se
em Curitiba no mês de novembro.
Walter explica que o projeto foi
idealizado para ampliar a discussão relativa
à biodiversidade. “O objetivo é disseminar
os princípios de ecologia, para que haja
um impulso consciente em direção às
práticas agroecológicas”, afirma.
E por que usar o tatu-bolinha?
O pequeno crustáceo pode parecer sem importância,
mas atua no processo de decomposição
de matéria orgânica. “Ele reduz o tamanho
das folhas secas e facilita a ação
de fungos e bactérias, que fazem a ciclagem
de nutrientes mais rápido”, explica o pesquisador.
Ou seja, os tatuzinhos ajudam a acelerar a disponibilidade
de nutrientes no solo para uso pelas plantas. “Se
houver um ambiente sem micro-organismos para fazer
decomposição, não adianta ter
matéria orgânica que o solo ficará
infértil”, comenta Walter. “Por isso, quando
agrotóxicos baixam a biodiversidade de um
local, passa-se a depender de adubos químicos”,
completa.
Como parte do projeto, houve uma
pesquisa no Laboratório de Criação
de Insetos da Embrapa Milho e Sorgo em que foi avaliada
a capacidade das fezes do tatu-bolinha na retenção
de água. Cada grama foi capaz de absorver
2,483 mililitros, constatando que as fezes funcionam
como “microesponjas” e ajudam a reter a água.
“Na verdade, são compostos orgânicos,
resultado da alimentação com folhas,
que aumentam a conservação de umidade
no solo”, explica o pesquisador.
As atividades do projeto demonstram
que os tatuzinhos são organismos que também
afetam processos, como o ciclo da água, a
ciclagem dos nutrientes e a conservação
do solo. Isto é, as ações desenvolvidas
apresentam a importância da biodiversidade.
O bichinho, que virou personagem de história
em quadrinhos e teatro de bonecos, é usado
para trabalhar os princípios da alfabetização
ecológica.
Professores de escolas públicas
da região de Sete Lagoas assistiram a uma
contação de história sobre
o tatu-bolinha, abordando tópicos de ecologia.
A iniciativa foi divulgada pelo jornal do Projeto
Manuelzão, da Universidade Federal de Minas
Gerais, e teve repercussão até fora
do estado. Motivou uma escola de Diadema, interior
de São Paulo, a investir num projeto sobre
o tema direcionado a crianças. A professora
Eliane Parente, do Instituto Educacional Stagium,
incentivou os estudantes a buscarem tatuzinhos e
realizarem pesquisas voltadas para as ciências
naturais.
Este ano, terrários com
tatu-bolinha foram utilizados como ferramenta de
sensibilização em atividades de educação
ambiental com estagiários da Embrapa Milho
e Sorgo e estudantes de Ensino Fundamental e Médio
que visitam a Empresa no Programa Embrapa e Escola.
Walter Matrangolo ressalta a importância das
ações: “valorizar a biodiversidade
e suas funções ecológicas traz
inúmeros benefícios. O tatu-bolinha
pode contribuir para a educação ambiental
por dispor de características intrínsecas
que podem ser utilizadas para atrair a atenção
para as Leis Naturais”.
Marina Torres
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Pesquisa aponta vantagens de combustível
renovável em relação ao diesel
(28/12/2009) A Embrapa Soja e
a Universidade Estadual de Londrina acabam de concluir
uma pesquisa que compara o uso de combustíveis
renováveis em substituição
ao diesel de petróleo. “O resultado surpreendente
mostra que temos uma mistura capaz de substituir
os combustíveis fósseis com maior
nível de eficiência, menor desgaste
ao motor e menor emissão de poluente no ambiente”,
comemora o pesquisador Márcio Turra de Ávila,
da Embrapa Soja, que orientou o trabalho de mestrado
do estudante de Agronomia, José Luiz Bernardo
Borges.
Segundo Ávila, o estudo
avaliou o desempenho do diesel em comparação
a uma mistura de combustíveis renováveis,
em motores estacionários. A mistura conta
em sua composição com 50% de biodiesel
de óleo de soja; 40% de etanol e 10% de óleo
de soja. Tanto o diesel quanto a mistura de biocombustíveis
foram usados para movimentar motores ligados a geradores
de eletricidade. “Mantivemos acesas 18 lâmpadas
de 150 watts, durante 150 horas de funcionamento
(que é o equivalente a algo em torno de 15
mil km rodados)”, explica Ávila.
A partir da comparação
entre os dois produtos, a pesquisa avaliou a eficiência
térmica dos motores (conversão da
energia química do combustível em
trabalho mecânico). “A eficiência do
motor que usou a mistura de combustíveis
renováveis foi até 10% superior”,
conta o pesquisador. “Isto mostra que a mistura
testada pode ser uma boa opção em
regiões que não tem acesso à
eletricidade”, diz. O custo para aquisição
do motor e do gerador de eletricidade fica em torno
de R$ 2.500,00.
Segundo Ávila, o estudo
analisou também a emissão de material
particulado (contido na fumaça que sai do
escapamento dos veículos pesados). Enquanto
a mistura renovável emitiu apenas 10 miligramas
desse material poluente, em cinco minutos de coleta,
o diesel produziu 28 miligramas, quase três
vezes mais. “Este é um dado muito importante,
pois pesquisas realizadas pela Universidade de São
Paulo revelam que cerca de 20 pessoas morrem, diariamente,
na capital paulista em decorrência de problemas
cárdio-respiratórios ocasionados por
material particulado emitido por ônibus e
caminhões”, afirma Ávila.
O próximo passo da pesquisa será fazer
a comparação entre os dois combustíveis
em motores veiculares. “Nossa idéia é
fazer a mesma experiência em tratores usados
nos trabalhos de campo de alguns centros de pesquisa
da Embrapa”, conclui.