04 de Fevereiro de 2010 - Greenpeace
projeta mensagens a favor de uma revolução
energética, baseada em energias renováveis,
durante Fórum Europeu de Energia Nuclear,
realizado em Praga, na República Tcheca.
São Paulo (SP), Brasil — Quem tem medo do
escuro pode abraçar as energias renováveis.
Um novo estudo do Greenpeace,
feito em parceria com o Conselho Europeu de Energias
Renováveis (Erec, na sigla em inglês),
mostra como as redes elétricas do mundo poderiam
ser transformadas para suportar uma matriz elétrica
com 90% de energia renovável em 2050.
A transformação,
alcançada com um nível modesto de
investimento, é uma grande oportunidade de
negócio para empresas de tecnologia e permitiria
cortes gigantescos nas emissões de gases
do efeito estufa.
“Renováveis 24h – a infra-estrutura
necessária para salvar o clima” é
parte do cenário [R]evolução
energética, cenário traçado
sobre como garantir o fornecimento de energia no
futuro de forma amigável com o clima do planeta.
Um ponto referente à Europa,
detalhado no relatório, faz eco nas necessidades
brasileiras. Uma comparação de 30
anos de dados meteorológicos com as curvas
anuais de demanda da Europa demonstra que, com a
rede elétrica em uso, há apenas uma
chance de 0,4% – ou 12 horas por ano – que a alta
demanda ocorra quando a geração solar
e eólica é baixa. O reforço
proposto para a rede retiraria esta pequena incerteza,
garantindo um fornecimento constante.
O estudo explica como redes elétricas
inteligentes (smart grids, em inglês) locais
e regionais poderiam ser conectadas de forma eficiente
com uma super rede (super grid) de alta voltagem[1],
para garantir um fornecimento ininterrupto e confiável
de eletricidade, sem ativar usinas térmicas
a carvão ou nucleares.
No Brasil, o alto potencial de
renováveis (solar, eólica e biomassa)
certamente garantiria a mesma oferta confiável
de energia projetada para a Europa pelo relatório.
Por enquanto, a experiência
de 2009, quando um blecaute atingiu quatro regiões
do país, evidenciou a necessidade de investir
em redes inteligentes e reforçar as existentes.
Hoje não se pode confiar nas linhas de transmissão
de Itaipu nos picos de consumo de energia, decorrentes
do forte calor e da recuperação da
produção industrial.
“Apesar da abundância de
chuvas e dos níveis elevados dos reservatórios,
opta-se por acionar as termelétricas fósseis,
a fim de evitar o risco de sobrecarga nas linhas
de transmissão das hidrelétricas”,
afirma Ricardo Baitelo, coordenador da campanha
de energias renováveis do Greenpeace. “Como
efeito colateral, sofremos tanto com as emissões
de gases-estufa dessas usinas quanto com seu custo
elevado.”
Devem ser gastos cerca de R$ 80
milhões com as termelétricas durante
a temporada de calor, segundo o Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS).
“Com redes inteligentes, nós
basicamente combinamos internet com eletricidade”,
comenta o especialista em energia do escritório
internacional do Greenpeace, Sven Teske. “Reforçar
as redes inteligentes é uma grande oportunidade
de negócios, especialmente para companhias
de tecnologia. Na Europa, o investimento anual necessário
ficaria em torno de € 5 bilhões, ou seja,
menos de € 5 por ano por casa. Para destravar o
investimento necessário em uma estrutura
que seja amigável com o clima, precisamos
urgentemente de políticas que apóiem
a transição para uma oferta de eletricidade
100% renovável”, afirma Teske.
“O mercado global de energia renovável
poderia crescer em índices de dois dígitos
até 2050, e se equiparar ao tamanho atual
da indústria fóssil. Hoje em dia,
o mercado global está na casa dos US$ 120
bilhões e dobra de tamanho a cada três
anos”, diz Christine Lins, secretária-geral
do Erec. “O mercado global de renováveis
caminhará lado a lado com o desenvolvimento
de redes inteligentes, quando a participação
de energia eólica e solar fotovoltaica passar
de um terço do total de energia gerada.”
O relatório “Renewable
24/7” pode ser lido http://www.greenpeace.org/eu-unit/press-centre/reports/EU-energy-revolution-report
e em www.erec.org.
Mais informações:
[1] Smart Grids ou redes inteligentes
enviam de eletricidade dos pontos de geração
até os consumidores utilizando um sistema
de monitoramento com tecnologia digital. Este sistema
permite a integração de fontes energéticas
descentralizadas como solar e eólica, assimilando
sua entrada no sistema nos períodos de vento
e sol. Permite também o controle do consumo
de aparelhos e eletrodomésticos em residências
e edifícios, informando os consumidores em
tempo real sobre seu consumo e até desligando
alguns equipamentos em períodos de alta demanda
energética. Tudo isto é possibilitado
através de linhas de transmissão de
alta eficiência, que reduzirão as taxas
de perdas do sistema elétrico. Desta forma,
o sistema economiza energia, reduz custos e aumenta
a confiabilidade e a transparência do consumo
de energia.
Os Super Grids ou super
redes usam linhas de corrente contínua de
alta tensão (HVDC) para transportar grandes
quantidades de energia a grandes distâncias,
com alta eficiência. Este sistema permitirá
que a energia eólica do sul e solar do nordeste
do país seja distribuída para outras
regiões, evitando a sobrecarga das linhas
de transmissão de grandes centrais de geração
de energia.