06 de Abril de 2010 - São
Paulo (SP), Brasil — Os grandes frigoríficos
brasileiros apresentaram resultados menores do que
o acordado no mapeamento
de seus fornecedores na Amazônia. As empresas
pediram, prazo de mais três meses para completar
o trabalho.
Em reunião na sede da Associação
Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Carne (Abiec), em São Paulo, dois dos três
maiores frigoríficos do país, a Marfrig
e o Minerva, apresentaram ontem resultados menores
do que o prometido no compromisso assinado com o
Greenpeace em outubro de 2009. As empresas adotaram,
na época, um cronograma para cadastrar e
mapear todas as fazendas de seus fornecedores –
diretos e indiretos – na Amazônia. A primeira
fase do trabalho consistia em cadastrar e mapear
as fazendas que fornecem boi gordo para seus abatatedouros
situados no bioma Amazônia. O monitoramento
de toda a cadeia produtiva da pecuária é
fundamental para que os frigoríficos possam
assegurar a seus clientes e consumidores que os
produtos bovinos que comercializam não contribuem
para o desmatamento do maior patrimônio ambiental
do Brasil.
Apesar disso, as empresas mostraram
avanços significativos nos últimos
seis meses de trabalho e reiteraram o interesse
em não permitir que o desmatamento continue
manchando a sua cadeia de produção.
A Marfrig, por exemplo, informou ter cadastrado
os fornecedores de 80% de seu volume de abate, mas
ainda não tem os mapas de todas as fazendas.
A Abiec, que acompanha de perto o trabalho dos dois
frigoríficos, manifestou seu interesse em
expandir a adesão ao compromisso do desmatamento
zero a outros associados que atuam na região
Norte do país. A entidade e as empresas pediram
um prazo adicional de 3 meses para completar o cadastro
das fazendas e prometem ter os mapas em novembro.
A maior empresa processadora de
proteína animal do mundo, a JBS, encontrou-se
separadamente com o Greenpeace a e apresentou relatório
em que garante que até final de abril 80%
de seu volume de abate estará cadastrado.
Hoje, segundo informação da empresa,
esse número é de 43%. Para completar
o trabalho em todos os estados em que opera na Amazônia,
a JBS também pediu um prazo adicional de
3 meses. O desmatamento e as queimadas da Amazônia
fazem do Brasil o quarto maior inimigo do clima
no mundo. A pecuária ocupa 80% das áreas
já desmatadas na região.
Seis meses atrás, os presidentes
dos quatro maiores frigoríficos do Brasil
- JBS-Friboi, Bertin (que fundiu-se com a JBS),
Marfrig e Minerva - assinaram um compromisso público
para, num prazo de 180 dias, cadastrar seus fornecedores
diretos - as fazendas que vendem boi gordo para
seus frigoríficos - e completar num prazo
de até dois anos o cadastro e mapeamento
das fazendas que fornecem animais para as fazendas
de engorda.
Eles reagiam à pressão
do Greenpeace e de grandes redes de supermercados,
como Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar,
e produtoras de calçados, como Nike, Adidas
e Timberland, que deixaram claro aos grandes frigoríficos
brasileiros que não pretendiam continuar
comprando couro e carne suspeitos de causarem a
destruição da floresta.
Essa garantia, no entanto, os
frigoríficos ainda não têm como
dar aos seus clientes enquanto o processo de mapeamento
das fazendas fornecedoras, com coordenadas geográficas,
não for completado. Desde que eles assinaram
o compromisso contra o desmatamento na sua cadeia
de produção, no último dia
5 de outubro, cerca de 14 mil hectares de floresta
tombaram nas áreas de influência desses
frigorícos na Amazônia, o que corresponde
a pelo menos 40% do total desmatado nos quatro meses
analisados.*
“Numa região como a Amazônia,
onde a imensa maioria das fazendas não são
registradas junto aos órgãos oficiais
e a grilagem de terras, a sonegação,
a violência, o trabalho escravo e a invasão
de terras indígenas e áreas protegidas
são práticas comuns, a formalização
do setor da pecuária, inclusive o mapeamento
das propriedades rurais para que elas possam ser
monitoradas, é do interesse nacional”, disse
Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia,
do Greenpeace.
O Brasil é hoje o maior
exportador de carne do mundo e um grande consumidor
de proteína de origem animal. “Para manter
a liderança no mercado global, interessa
aos frigoríficos brasileiros assegurar que
o boi adquirido por eles não vem de um fazendeiro
que destrói a Amazônia ou contrata
trabalho escravo”, diz Adario.
“Interessa igualmente ao fazendeiro,
porque isso garante o escoamento de sua produção,
bem como ao governo, que pode mostrar um desenvolvimento
econômico aliado da inclusão social
e preservação ambiental e aos consumidores,
que não querem ser sócios da destruição
da Amazônia”, prossegue ele. “Mas sobretudo,
o fim do envolvimento da pecuária com o desmatamento
interessa ao planeta, porque parar com a derrubada
da floresta é a forma mais rápida
e barata de reduzir as emissões de gases
que provocam o aquecimento global.”
Segundo o Imazon, ONG que monitora
o desmatamento da Amazônia com seu sistema
SAD, de outubro de 2009 a janeiro de 2010 foram
desmatados pelo menos 38.400 hectares na Amazônia.
Cerca de 14 mil ha desmatados (40% do total) ocorreram
nas áreas de influência principal dos
abatedouros (um círculo com 200 km de raio).
Já o Sistema de Detecção de
Desmatamento em Tempo Real do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Deter/INPE), que não
divulgou dados recentes, aponta que 24.700ha foram
desmatados no bioma Amazônia entre outubro
e novembro de 2009. Desse total, 11,700ha (47,4%)
foram desmatados na área de influência
principal dos abatedouros.