Relatores
denunciam violações aos direitos humanos
no licenciamento de Belo Monte (PA)
05/04/2010 - Será lançado
nessa quarta-feira, dia 7 de abril, o relatório
da Missão Xingu: Violações
de direitos humanos e impactos socioambientais no
licenciamento da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte, dos relatores do Direto Humano ao Meio Ambiente
da Plataforma DhESCA, Marijane Lisboa e Guilherme
Zagallo. O documento recomenda, entre outras coisas,
a suspensão imediata do leilão da
usina, anunciado para 20 de abril de 2010, e a anulação
da Licença Prévia concedida ao projeto
de Belo Monte. As violações serão
discutidas na Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados, que convocou cinco
ministros para debate.
O documento será divulgado
durante a reunião da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados, às
14h em Brasília (plenário 9 do anexo
II da Câmara), na qual serão debatidos
os impactos sociais, ambientais e econômicos
da implantação das Usinas Hidrelétricas
Belo Monte, no estado do Pará, e de Estreito,
no estado do Maranhão. Cinco ministros foram
convidados para a reunião e já está
confirmada a presença dos relatores, de representantes
do MAB (Movimento de Atingidos por Barragens) e
da Sub-Procuradoria Geral da República.
Em 2009, a Relatoria do Direito
Humano ao Meio Ambiente da Plataforma Brasileira
de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais
e Ambientais (DhESCA) recebeu inúmeras denúncias
sobre as violações a direitos e pedidos
de acompanhamento do processo de licenciamento da
Usina de Belo Monte, no Pará. Em novembro,
os relatores realizaram uma missão especial
na Volta Grande do Xingu para verificar os impactos
que já estão send(o causados pelo
projeto da usina na região. Audiências
públicas foram realizadas, entre os dias
5 e 7 de novembro de 2009, pela Relatoria em conjunto
com o Ministério Público Estadual
e Federal na Vila Ressaca e na Terra Indígena
Arara (Saiba mais).
Denominado Missão Xingu:
Violações de direitos humanos e impactos
socioambientais no licenciamento da Usina Hidrelétrica
de Belo Monte o relatório faz diversas recomendações,
entre as quais a suspensão imediata do leilão
de Belo Monte, anunciado para 20 de abril de 2010;
a anulação da Licença Prévia
concedida ao projeto de Belo Monte; a rejeição
total do Estudo de Impacto Ambiental apresentado
pela Eletronorte e a suspensão de qualquer
empréstimo ou financiamento do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
até que se verifique a viabilidade socioambiental
e financeira da obra.
É destacado no texto que
“apesar das mudanças realizadas no projeto
inicial, o projeto atual da usina de Belo Monte
contém graves falhas e impactos irreversíveis
sobre a população que vive às
margens do Rio Xingu”. Os relatores indicam que,
entre as violações observadas, uma
das mais graves é a violação
do direito constitucional de consulta prévia,
tendo em vista que os 24 grupos étnicos da
Bacia do Xingu não foram ouvidos durante
o licenciamento e, mesmo assim, a usina hidrelétrica
teve sua viabilidade atestada pela Fundação
Nacional do Índio (Funai). As Oitivas Indígenas,
obrigatórias pela legislação
brasileira e pela Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho
(OIT), ratificada pelo Brasil em 2002, garante aos
indígenas o direito de serem informados de
maneira objetiva sobre os impactos da obra e de
terem sua opinião respeitada.
O relatório aponta ainda
que a Licença Prévia foi emitida pela
presidência do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) à revelia da avaliação
dos próprios técnicos do órgão,
que assinaram um parecer contrário à
liberação das licenças para
a construção da usina (Parecer 114/09),
no qual afirmam que o EIA não conseguiu ser
conclusivo sobre os impactos da obra. Outro ponto
citado pelos relatores refere-se à participação
da sociedade no processo de licenciamento, que teria
sido prejudicada nas quatro audiências públicas
realizadas pelo Ibama em setembro do ano passado.
As audiências “não apresentaram condições
para a efetiva participação da população
e dos grupos diretamente afetados”. Segundo o relatório,
os questionamentos da sociedade civil e do corpo
de cientistas que produziu um Parecer Independente
ao Estudo de Impacto Ambiental de Belo Monte, que
demonstra a inviabilidade da obra, tampouco foram
levados em consideração pelas instâncias
do governo responsáveis pelo licenciamento.
O que é a Plataforma DhESCA?
A Plataforma Brasileira de Direitos
Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais
(Plataforma DhESCA Brasil) surgiu como um capítulo
da Plataforma Interamericana de Direitos Humanos,
Democracia e Desenvolvimento (PIDHDD), que promove,
há cerca de 20 anos, a troca de experiências
entre organizações da sociedade civil
de diversos países pela implementação
dos direitos humanos. No Brasil, é uma articulação
nacional de 34 movimentos e organizações
da sociedade civil que desenvolve ações
de promoção, defesa e reparação
dos Direitos Humanos Econômicos, Sociais,
Culturais e Ambientais, visando fortalecer a cidadania.
Uma das principais atividades articuladas pela Plataforma,
desde 2002, são as Relatorias Nacionais em
Dhesca, um instrumento para a construção
e fortalecimento de uma cultura de direitos humanos,
com o apoio e a parceria do programa de Voluntários
das Nações Unidas e da Secretaria
Especial de Direitos Humanos do Ministério
da Justiça. Inspiradas nos Relatores da ONU,
elas funcionam como um mecanismo de monitoramento
da situação dos direitos humanos no
País, em que relatores visitam locais onde
existam violações aos direitos humanos,
investigam denúncias e publicam relatórios
com recomendações aos poderes responsáveis.
Além de realizar investigações,
seminários e relatórios, o projeto
oferece formulários para a denúncia
de violação aos direitos humanos.
+ Mais
Ministério Público
Federal ajuiza ações para anular licença
prévia de Belo Monte
08/04/2010 - Procuradores do MPF
afirmam que se a usina for construída como
está previsto pode secar 100 km de rio e
comprometer a água e o alimento das populações.
Duas ações civis
públicas (ACPs) ajuizadas hoje (8/4) na Justiça
Federal de Altamira pedem a anulação
da licença prévia da usina hidrelétrica
de Belo Monte, concedida pelo Ibama. Os procuradores
da República que analisaram o empreendimento
apontam afronta à Constituição,
às leis ambientais e às resoluções
do Conselho Nacional de Meio Ambiente entre os oito
problemas encontrados no licenciamento até
agora. O MPF também quer o cancelamento do
leilão marcado para o próximo dia
20, porque o governo desobedeceu uma das exigências
do Conama para licitação de usinas
hidrelétricas, que determina que o projeto
só pode ir a leilão depois que for
emitida licença de instalação.
Nos dois processos, o MPF pediu a notificação
judicial de oito pessoas jurídicas potencialmente
interessadas no empreendimento, como o BNDES e as
maiores empreiteiras do País, incluindo Camargo
Corrêa e Norberto Odebrecht, já que
as ações foram assinadas antes da
desistência anunciada ontem pelas empreiteiras.
Quando forem divulgados oficialmente os participantes
do leilão, novas notificações
serão expedidas para todos.
Para o coordenador adjunto do
Programa Política e Direito Socioambiental
do Instituto Socioambiental (PPDS/ISA), Raul Silva
Telles do Valle, a iniciativa do MPF é muito
importante: “O governo não pode ser o primeiro
a desrespeitar as regras estabelecidas. Se há
tanto interesse em que essa hidrelétrica
saia, e se há tanto tempo se fala nela, por
que não fizeram estudos adequados? O que
não pode é jogar para baixo do tapete
os graves problemas apontados pela equipe técnica
e dizer para a sociedade que está tudo bem".
+ Mais
Construção da usina
de Belo Monte é denunciada à ONU
01/04/2010 - Documento entregue
nesta quinta (1º/4) às Nações
Unidas denuncia que falhas no processo de licenciamento
foram ignoradas por pressão política;
mais de 100 movimentos sociais, associações,
organizações e sindicatos assinam
a denúncia; há situações
de ameaças de morte a opositores do empreendimento.
Movimentos e organizações
sociais e de direitos humanos encaminharam à
ONU nesta quinta-feira, 1º de abril, um documento
sobre as ilegalidades e arbitrariedades no processo
de licenciamento da usina hidrelétrica de
Belo Monte. Assinado por mais de 100 entidades,
que representam mais de 40 comunidades em 11 municípios,
o documento denuncia as iminentes violações
de direitos humanos que a hidrelétrica acarretará,
a pressão política exercida para que
as graves falhas do projeto fossem ignoradas, bem
como as ameaças e intimidações
sofridas por aqueles que questionam as irregularidades
do licenciamento. Leia o documento na íntegra.
De acordo com o projeto do governo,
a usina hidrelétrica de Belo Monte será
construída na região amazônica,
próximo ao município de Altamira,
no Pará. A obra terá dimensão
semelhante à construção do
Canal do Panamá e formará dois reservatórios
de 516 km² que vão impactar toda a região
da bacia do rio Xingu, uma área que abarca
30 Terras Indígenas legalmente constituídas,
além de quatro reservas extrativistas e oito
unidades de conservação ambiental.
No dia 1º de fevereiro de
2010, o Ibama concedeu a licença prévia
para a construção da usina. O documento
enviado hoje à ONU denuncia irregularidades
que foram ignoradas pela diretoria do Ibama, como
a falta de consulta prévia às comunidades
atingidas e as fragilidades dos Estudos de Impacto
Ambiental do empreendimento.
A pressão política
para que a obra seja autorizada independentemente
das irregularidades no projeto ficou evidente. Apenas
dois dias antes da concessão da licença
prévia, a equipe técnica do próprio
Ibama havia assinado uma nota em que afirmava expressamente
que “não há elementos suficientes
para atestar a viabilidade ambiental do projeto”;
dois dias depois, a Advocacia Geral da União
ameaçou processar procuradores federais do
Pará que questionassem a licença na
Justiça, em uma atitude considerada arbitrária
e intimidadora pela cúpula do Ministério
Público Federal.
“Para nós está claro
que interesses de governo e de grandes grupos econômicos
estão se sobrepondo ao que dizem a lei e
os tratados internacionais dos quais o Brasil é
signatário”, afirma Antonia Melo, uma das
lideranças do Movimento Xingu Vivo Para Sempre,
coletivo que reúne mais de 150 organizações,
movimentos sociais e associações de
moradores da região.
Ameaças de morte
Melo é uma das pessoas
ameaçadas em função da oposição
à construção da usina. “Já
não saio de casa, mal ando com meus filhos
pela rua”, conta. Por trás das ameaças
a Antonia e a outros ativistas – como Dom Erwin,
arcebispo do Xingu – estariam funcionários
da empresa Camargo Correa e fazendeiros e políticos
que controlam os meios de comunicação
da região. “Em 2008, até mesmo funcionários
da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) já tentaram me intimidar, mas denunciamos
a atuação dos agentes para o Ministério
Público Federal”.
ONU
O documento foi encaminhado para
as seguintes relatorias da ONU: direitos dos povos
indígenas; direito à moradia; direito
à alimentação; direito à
saúde física e mental; defensores
de direitos humanos; pessoas desalojadas; independência
de magistrados e advogados. As organizações
signatárias da denúncia pedem que
a ONU solicite informações ao governo
brasileiro sobre o empreendimento, que os Relatores
da ONU realizem uma visita in loco ao Pará,
e que o Brasil reconsidere a construção
da usina. Caso a obra seja iniciada, o Brasil pode
ser responsabilizado internacionalmente pelos crimes
ambientais e pelas violações de direitos
humanos causadas pela hidrelétrica.
+ Mais
Campanha contra Belo Monte ganha
apoio de James Cameron
01/04/2010 - O diretor do filme
Avatar, responsável pela maior bilheteria
da história do cinema (US$ 2 bilhões),
disse nesta quarta-feira (31/3), durante coletiva
de imprensa em Manaus, que irá propor um
movimento internacional contra a usina planejada
para ser construída no Rio Xingu. Ele esteve
na região e ficou impressionado com o que
viu. Afirmou também que deve voltar ao Brasil
em breve.
O movimento contra a construção
da usina de Belo Monte, na Volta Grande do Rio Xingu,
no Pará, acaba de ganhar um novo aliado:
o cineasta canadense James Cameron, diretor do filme
Avatar, campeão de bilheteria da história
do cinema. Em entrevista coletiva em Manaus, nesta
quarta-feira, 31 de março, depois de uma
visita de três dias à região
onde a usina deverá ser construída,
Cameron anunciou que vai propor uma campanha internacional
contra a obra. Disse que deverá encontrar-se
em Los Angeles com o cantor britânico Sting.
Vale lembrar que Sting participou em 1989 do I Encontro
dos Povos da Floresta, em Altamira, cuja pauta era
Belo Monte. Em novembro do ano passado, quando esteve
no Brasil, o cantor reencontrou-se com o cacique
kayapó Raoni, ambos personagens daquele encontro
histórico 20 anos antes. Na pauta, novamente
a construção de Belo Monte. Saiba
mais.
Cameron foi convidado a conhecer
a região onde será construída
a hidrelétrica porque Avatar, o filme que
ele dirigiu e cuja história escreveu, se
passa no planeta Pandora, habitado pelos Na’vi,
humanóides, que entram em conflito com seres
humanos. Estes querem explorar minérios provocando
a destruição da fauna e da floresta
características de Pandora. O minério
que os humanos querem explorar poderá revolucionar
a produção de energia.
Apesar de questionamentos sobre
a viabilidade socioambiental de Belo Monte, cujos
estudos de impacto ambiental não apontaram
soluções a problemas cruciais que
afetarão as populações que
habitam a região, o governo brasileiro aprovou
a licença ambiental no dia 1º de fevereiro
último. Saiba mais. A licença não
oferece nenhuma garantia de que a obra é
viável do ponto de vista socioambiental,
uma vez que a avaliação técnica
do Ibama, que afirmou que “não há
elementos suficientes para atestar a viabilidade
ambiental do empreendimento”, foi desconsiderada
no ato do licenciamento.
Os impactos de Belo Monte
Há que se levar em conta,
ainda, o atropelo com que o Ibama concedeu a licença
prévia, desconsiderando as observações
da equipe que fez o Parecer Técnico 06/2010,
que não aceitava a solução
proposta para alguns dos impactos socioambientais
que afetarão a região. Outra questão
crucial diz respeito à qualidade da água.
Estudo realizado por especialistas da Universidade
de Brasília (UnB), a pedido do Ibama, e entregue
poucos dias antes da emissão da licença,
afirma que a modelagem utilizada no Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) é equivocada e insuficiente
para fazer prognósticos futuros de como ficará
a qualidade da água. Afirma também
que, ao contrário do que diz o estudo elaborado
pela Eletrobrás, é alta a probabilidade
de que a água ao longo de 144 km do Rio Xingu
fique “podre” (eutrofizada) e abaixo dos parâmetros
mínimos exigidos pela Resolução
357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),
o que deveria impedir a expedição
da licença.
Além desses impactos, a
região da Volta Grande do Rio Xingu, um trecho
de cerca de 100 km, onde moram centenas de famílias
ribeirinhas e indígenas, deverá viver
uma “eterna seca” caso a obra seja construída,
pois grande parte da água do rio será
desviada para os canais a serem construídos.
A licença contrariou a decisão da
equipe técnica do Ibama, que afirma que a
quantidade de água que a Eletrobrás
propõe liberar para esse trecho – e que foi
aceita pela diretoria do órgão - é
insuficiente para manter o modo de vida dessas pessoas,
pois, com as alterações profundas
no ciclo natural, não haveria mais como pescar
ou navegar. “O desvio de menos água para
os canais, deixando mais água para o trecho
da Volta Grande, significa menos água para
geração de energia aumentando a ociosidade
das instalações”, explica o assessor
do ISA, Marcelo Salazar. Todas essas considerações
constam da notificação extrajudicial
entregue dia 24 de março pelos movimentos
sociais de Altamira, ao BNDES, que vai financiar
cerca de 80% do empreendimento. Leia aqui o documento
na íntegra.
Durante sua visita à área
onde Belo Monte será construída, James
Cameron foi recebido na Terra Indígena Arara
da Volta Grande e participou de uma reunião
com cerca de 80 líderes indígenas
representando 13 aldeias de nove Terras Indígenas
da região. "Vim aqui para aprender mais
sobre o projeto de Belo Monte e agora estou entendendo
melhor, posso ir embora e contar para as pessoas
do mundo o que presenciei aqui. Sou artista e não
um líder político, mas posso conversar
com pessoas de todo lugar sobre o que ouvi aqui
hoje”, disse Cameron às lideranças
presentes na TI. “Vi todos aqui mostrarem grande
poder, poder que está na habilidade de trabalharem
juntos. Vocês já têm grande conexão
com a Terra, sabem como viver nesse mundo, tem peixe,
o rio, rio que dá vida, vocês têm
a floresta, algo que o mundo em que vivo não
pode entender". O cineasta recebeu presentes
das lideranças e foi conduzido por todos
até a beira do Rio Xingu com cantos e danças.
Ele encontrou-se também com líderes
de organizações da sociedade civil
brasileira na cidade de Altamira, que será
afetada por inundações caso a usina
seja construída.