Publicação traz
informações socioambientais e propõe
estratégias de conservação
da biodiversidade da região, que abrange
área decretada Reserva da Biosfera pela Unesco;
Espinhaço está sob forte pressão
humana
Belo Horizonte, 08 de março
de 2010 — A Cadeia do Espinhaço, na região
centro-leste de Minas Gerais e Bahia, é o
tema da última edição da revista
científica Megadiversidade, lançada
pela ONG Conservação Internacional
(CI-Brasil). A publicação apresenta
a descrição e a caracterização
dessa região única, de extrema importância
biológica devido à grande biodiversidade
e endemismos que abriga. Parte da Cadeia do Espinhaço
foi declarada como Reserva da Biosfera em 2005 pela
Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (Unesco) e sua implementação
será beneficiada a partir do uso das informações
contidas na revista. Com base no conhecimento científico
levantado, como distribuição de espécies
da fauna e da flora locais e as ameaças à
biodiversidade, os autores propõem estratégias
de conservação para a região.
São 18 artigos que trazem um panorama geral
do conhecimento disponível sobre o Espinhaço,
além de discutirem estratégias de
conservação.
“A discussão sobre as ameaças
deve ser orientada com base no conhecimento científico
e precisa envolver vários setores da sociedade”,
diz Paulo Gustavo Prado, diretor de Política
Ambiental da CI-Brasil, ressaltando que essa edição
da revista é extremamente relevante para
colocar em pauta a conservação da
Cadeia do Espinhaço.
Segundo Prado, as regiões
montanhosas do Espinhaço estão localizadas
em uma área de alta pressão humana,
causada principalmente pela mineração.
“A região do Quadrilátero Ferrífero
está inserida na Cadeia do Espinhaço
e atrai para a área inúmeras iniciativas
de exploração mineral”, explica ele.
“Caso não sejam desenvolvidas estratégias
que conciliem medidas de conservação
e desenvolvimento econômico, várias
paisagens podem desaparecer, assim como espécies
ainda não conhecidas”, completa.
Ciência para a conservação
– Essa edição da Megadiversidade é
resultado de um seminário organizado pelo
Instituto Biotrópicos em parceria com a Conservação
Internacional e a Fundação Biodiversitas,
realizado há quatro anos na Serra do Cipó
(MG). Intitulado “Diagnóstico do status do
conhecimento da biodiversidade e da conservação
do Espinhaço”, o evento envolveu mais de
cem especialistas de 40 instituições
de pesquisa. O volume começa com a contextualização
do que é o Espinhaço, discutindo principalmente
o aspecto geográfico e histórico da
região, como uma divisora dos biomas Mata
Atlântica, Cerrado e Caatinga, formada por
um mosaico de diferentes paisagens.
Os artigos sobre a vegetação
abordam os campos rupestres encontrados nos topos
acima de 900 metros de altitude e, de modo particular,
os campos rupestres ferruginosos do Quadrilátero
Ferrífero, características que fizeram
com que o paisagista Burle Marx se referisse à
serra do Espinhaço como o “Jardim do Brasil”,
uma vez que ali há mais de 1.600 espécies
de flores.
Os aspectos gerais da vegetação,
como a Caatinga, ao norte, e as fitofisionomias
florestais também são apresentados,
seguidos por artigos que detalham alguns importantes
elementos da flora regional, como gramíneas,
bromélias, pteridófitas, sempre-vivas,
cactáceas e leguminosas.
Artigos sobre a fauna trazem a
compilação de informações
sobre grupos de vertebrados e de abelhas. Para alguns
grupos, como anfíbios anuros, mamíferos
e peixes, o conhecimento ainda é incipiente
e os autores mostram a necessidade da realização
de estudos mais aprofundados e de inventários
na região. Para outros, como aves, os autores
retratam o alto endemismo na região, ou seja,
o grande número de espécies que só
existem no Espinhaço.
A edição contém
ainda um artigo sobre a compilação
e a espacialização de pesquisas realizadas
no Parque Nacional da Serra do Cipó, localizado
ao sul da porção mineira do Espinhaço.
Esse conjunto de informações pode
ser aplicado ao manejo das unidades de conservação,
indicando lacunas de conhecimento e orientando atividades
práticas na região.
Ao final do volume, um artigo
relata os resultados de um exercício obtido
durante o seminário realizado na Serra do
Cipó. “O encontro foi importante para a identificação
de áreas prioritárias para a conservação
na Cadeia do Espinhaço. Utilizamos ferramentas
de Planejamento Sistemático para Conservação,
conforme orientação do Plano de Trabalho
com Áreas Protegidas, elaborado na Sétima
Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica (COP7)”, explica
Alexsander Azevedo, um dos editores convidados e
pesquisador do Instituto Biotrópicos.
“Além de conter informações
biológicas importantíssimas, a revista
apresenta um exercício de planejamento da
conservação que subsidia a discussão
de desafios e oportunidades de conservação
na região”, diz Azevedo. “Essa edição
representa um esforço prático de planejamento
que pode ser replicado para demais regiões
do Brasil”, conclui.
A revista pode ser acessada no
site da Conservação Internacional
(CI-Brasil), pelo link http://www.conservation.org.br/publicacoes/index.php?t=4
CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL
(CI-Brasil)
A Conservação Internacional foi fundada
em 1987 com o objetivo de promover o bem-estar humano
fortalecendo a sociedade no cuidado responsável
e sustentável para com a natureza, amparada
em uma base sólida de ciência, parcerias
e experiências de campo. A Conservação
Internacional está presente em 43 países
e no Brasil tem sede em Belo Horizonte (MG). Outros
escritórios estão estrategicamente
localizados em Brasília (DF), Belém
(PA), Salvador (BA) e Caravelas (BA). Para mais
informações, visite www.conservacao.org
INSTITUTO BIOTRÓPICOS
O Instituto Biotrópicos é uma organização
não governamental de cunho científico
e socioambiental. Fundada em 2003 e atualmente com
sede em Diamantina-MG, a ONG exerce forte atuação
em pesquisa sobre a biodiversidade e desenvolvimento
de projetos socioambientais. A instituição
também atua em gestão e planejamento
para a conservação da natureza. Mais
informações no site www.biotropicos.org.br
FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS
A conservação da biodiversidade brasileira
é a missão primordial da Fundação
Biodiversitas, organização não
governamental que promove ações de
caráter técnico-científico
no país desde 1989. A Biodiversitas é
um centro de referência no levantamento e
aplicação do conhecimento científico
para a conservação da diversidade
biológica. Seus projetos visam à interação
entre o meio ambiente e o ser humano, buscando meios
de conciliar a conservação da natureza
e o desenvolvimento econômico e social. Mais
informações no site www.biodiversitas.org.br