(13/04/2010)
Você sabe o que os caprinos – bodes e cabras
– têm em comum com o combustível que
você abastece o carro? Pode parecer estranho,
mas ao contrário do que se pode imaginar,
esses animais representam um grande potencial para
a indústria do biocombustível. Quer
saber como? A Embrapa Agroenergia (Brasília/DF)
em parceria com a Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral/CE),
a Universidade Católica de Brasília
(UCB) e a Universidade de Brasília (UnB),
estão desenvolvendo pesquisas para a produção
de enzimas a partir do rúmen de caprinos.
O projeto Metagenoma, como é
chamado o estudo financiado pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), começou em março de 2008,
e já é considerado um dos melhores
indicadores de que o futuro dos biocombustíveis
de 2ª geração está cada
vez mais perto. Com o desenvolvimento dessas tecnologias,
o Brasil dará um salto na produção
de etanol. O etanol de 2ª poderá ser
produzido a partir de qualquer matéria-prima
que tenha em sua composição material
lignocelulósico. A pesquisadora da Embrapa
Agroenergia, Betânia Quirino, responsável
pelo trabalho explica que qualquer planta possui
celulose na sua composição e a celulose
é um polímero de glicose que pode
ser fermentado para produzir etanol. “O foco da
nossa pesquisa é encontrar enzimas que consigam
degradar essa matéria-prima para então
utilizar o método tradicional de fermentação
usando levedura. Com a pesquisa, poderemos também
usar o bagaço de cana e outras plantas que
possuam celulose para produzir etanol”, salienta
Betânia.
O começo
Á primeira vista, é
difícil imaginar o que as cabras da raça
moxotó têm a ver com a produção
de etanol. Mas, para um grupo de pesquisadores dessas
instituições, os animais são
fundamentais a um dos mais promissores estudos na
área de produção de biocombustíveis.
O início de tudo está
no rúmen dos caprinos, ou seja, a primeira
parte do estômago dos ruminantes. Dentro do
rúmen, existem vários tipos de bactérias
que ajudam na digestão do pasto. O alimento
é atacado pelas enzimas das bactérias,
que fazem a “quebra” das fibras, em unidades de
glicose que pode ser fermentada e convertida em
etanol. Identificar e caracterizar essas enzimas
são os grandes desafios desse trabalho, salienta
Quirino. “Em dois anos, já conseguimos identificar
quatro tipos de enzimas”, diz.
As pesquisas estão sendo
desenvolvidas no laboratório da UCB e os
resultados têm animado a equipe de pesquisadores,
professores e estudantes de mestrado e doutorado.
Mas, se os laboratórios e os equipamentos
de alta tecnologia estão em Brasília,
é do sertão nordestino que vem a matéria-prima,
a origem da inspiração da equipe.
“Escolhemos os caprinos da raça
moxotó, espécie nativa brasileira,
que fazem parte dessa unidade de conservação
pelo fato deles terem uma alimentação
peculiar e única que é a vegetação
do semi-árido nordestino”, ressalta a mestranda,
Isabel Cunha. Além disso, a identificação
de enzimas nestes animais é inédita,
pois a maioria dos trabalhos em outros países
é com bovinos.
Cristine Barreto, professora da
UCB, explica que a primeira fase do estudo foi descrever
a diversidade dos microorganismos. “Descobrimos,
através da metagenômica, que conhecemos
no máximo 20% da diversidade bacteriana presente
no rúmen desses animais”. Isso significa,
constata Cristine, que existe ainda muito a ser
explorado em termos de buscas de novas enzimas.
Isabel complementa. “Para explorarmos o potencial
dessa diversidade microbiana fizemos a coleta do
rúmen de caprinos na Embrapa e com material
total do rúmen. Extraímos o DNA para
gerar uma biblioteca metagenômica e fazer
uma exploração de novas enzimas com
o intuito de aplicar em indústrias sulcroalcooleiras”.
Na safra de 2008/2009, o Brasil
produziu 24,3 bilhões de litros de etanol,
sendo 83% destinados ao mercado interno. Segundo
a ANP, em 2009, foram comercializados no País
22,82 bilhões de litros de etanol, um aumento
de 16% em relação ao ano anterior.
Atualmente, o álcool comercializado nos postos
de gasolina vem do caldo de cana-de-açúcar.
Os avanços tecnológicos que serão
gerados por essa e outras pesquisas deverão
contribuir para que o Brasil mantenha sua liderança
no mercado mundial, pois o etanol poderá
ser produzido a partir de outras matérias-primas.
Para explicar a produção
de enzimas a partir do rúmen dos caprinos,
a Embrapa Agroenergia contou com a parceria da Embrapa
Informação Tecnológica, que
produziu um vídeo que está no site
da Embrapa Agroenergia www.cnpae.embrapa.br.
Embrapa Agroenergia
Daniela Garcia Collares