22/04/2010 - Os recifes de coral
costumam ser chamados de "as florestas tropicais
do mar". É o ecossistema marinho costeiro
de maior biodiversidade do planeta. Eles oferecem
habitação, alimento e proteção
contra predadores para uma enorme variedade de plantas
e animais; dentre eles, os vermes endolíticos,
os ouriços, as esponjas, as gorgônias,
os moluscos, os crustáceos, as lagostas e
até os peixes. Eles também garantem
a sobrevivência das populações
que vivem nas zonas costeiras, como fonte de recursos
pesqueiros, sendo ainda atrativo para a indústria
do turismo subaquático.
Mas como as florestas tropicais,
as concentrações de corais correm
o risco de extinção. A ação
predatória do homem e a poluição
estão entre as ameaças à sobrevivência
desses organismos. O aumento da temperatura do planeta
e dos oceanos, também é apontado pelos
especialistas como um dos principais responsáveis
pelo branqueamento, enfraquecimento e morte dos
corais.
O mundo perdeu 19% dos seus recifes
de coral desde 1950 e outros 15% estão seriamente
ameaçados de desaparecer ao longo das próximas
duas décadas. As informações
estão na publicação Status
dos Recifes de Coral do Mundo (edição
2008); estudo divulgado, a cada dois anos, pela
Rede Mundial de Monitoramento de Recifes de Coral
(GCRMN, na sigla em inglês), que reúne
informações sobre a situação
de 96 países. Este foi o primeiro ano que
o Brasil mereceu um capítulo especial.
Diante do fracasso dos esforços
internacionais no combate ao aquecimento global
até agora, os cientistas dizem que a melhor
estratégia no momento é reduzir os
impactos locais (como poluição e pesca
predatória) para que os recifes tenham mais
chance de resistir. Por isso, consideram os monitoramentos
de grande importância para avaliar a situação
dos corais nas diferentes regiões onde se
encontram.
A preocupação mundial
com a saúde dos recifes data da última
década. O Brasil se juntou à GCRMN,
em 2002, quando passou a adotar um dos protocolos
utilizados. O método de avaliação
foi adaptado às condições nacionais
e aplicado no País. O trabalho, financiado
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), teve
a parceria de universidades, instituições
de pesquisa, operadoras de mergulho, voluntários
e apoio de unidades de conservação.
Nos oito anos de análise,
o diagnóstico inicial detectou eventos de
branqueamento sincronizado, acontecendo ao mesmo
tempo, em escalas de até dois quilômetros
de distância. Recifes que estão distantes
um do outro. “Isso revela que é um efeito
global e não local, ou seja, os recifes brasileiros
são sim também afetados pelas mudanças
climáticas e o aumento da temperatura. Então,
temos que ficar atentos”, alerta a professora do
Departamento de Oceanografia da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), Beatrice Ferreira.
Ela coordenou o monitoramento
dos recifes de coral na costa brasileira. Apesar
das preocupações quanto ao branqueamento,
que ocorre pela ausência de algas que vivem
em simbiose com os corais, para os quais fornecem
nutrientes, avaliação no Atlântico
Sul teve o seu lado positivo. “Verificamos áreas
de recifes com cobertura coralínea elevada,
em torno de 30%, que é uma cobertura boa
em relação a outras áreas estudadas
no Caribe”, revela.
A pesquisadora também ressalta
o papel ecológico dos peixes na manutenção
dos recifes. “Eles formam uma cadeia alimentar e
mantém o equilíbrio dos recifes fazendo
pastagens. Mesmo diante de todos os problemas que
existem nas unidades de conservação,
foi observado que dentro destes locais, reservas
biológicas onde a pesca é proibida,
tem uma abundância de peixes e de outros indicadores
melhores em relação às áreas
onde se permite pescar”, informa.
Recifes do Brasil
No Brasil, estão localizadas
as únicas formações coralíneas
do Atlântico Sul. Comparando com outras regiões
do mundo, como o Indo-Pacífico e o Caribe,
têm uma variedade pequena de corais recifais
de águas rasas. Na costa brasileira, há
registros de ocorrência de 16 espécies
de corais escleractínios recifais, distribuídas
em 10 gêneros e oito famílias.
No litoral da Bahia, estão
os mais proeminentes recifes de corais do País
e de todo o Oceano Atlântico Sul Ocidental,
o qual abriga apenas 1% dos recifes de corais de
todo o Mundo. Assim, além de serem raros,
os recifes da Bahia, e, particularmente, os recifes
da região de Abrolhos, são os mais
exuberantes de toda a costa nacional, pois apresentam
o maior número descrito de espécies
de corais.
No Brasil, os corais se distribuem
por cerca de 2.400 quilômetros de costa, do
norte do Maranhão ao sul de Santa Catarina.
Essa distância corresponde à extensão
da Grande Barreira de Corais, na Austrália,
considerada a maior formação recifal
de mundo, com dimensões astronômicas
(é possível observar a Grande Barreira
do espaço). No entanto, enquanto os recifes
do Brasil se distribuem de forma descontínua,
na Austrália, os recifes ocupam uma área
contínua, de 350 mil km².
Com informações do projeto Coral Vivo,
do Museu Nacional da Universidade do Rio de Janeiro
(UFRJ)