17 Maio 2010
No dia 7 de Maio de 2010, a revista Science, uma
das mais importantes publicações científicas
do mundo, publicou uma carta assinada conjuntamente
por 255 membros da Academia Nacional de Ciências
dos Estados Unidos. Nela, os pesquisadores defenderam
a robusteza da ciência climática, destacando
as principais conclusões de estudos sobre
o tema:
1) o planeta está esquentando
devido ao aumento da concentração
de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre;
2) este aumento é devido majoritariamente
ao lançamento desenfreado de gases de efeito
estufa por parte do ser humano, sobretudo em decorrência
do uso de combustíveis fósseis e do
desmatamento; 3) mudanças naturais no clima
do planeta sempre ocorreram, mas hoje estão
sendo superadas por mudanças induzidas pelo
Homem; 4) o aquecimento do planeta causará
mudanças nos padrões climáticos
a ritmos acelerados e perigosos, como aumento do
nível do mar e alterações nos
ciclos hidrológicos; e 5) a combinação
complexa destas mudanças ameaça comunidades
e cidades costeiras, a disponibilidade de comida
e água, ecossistemas florestais e aquáticos
e muito mais.
O WWF-Brasil vê com muitos
bons olhos esta defesa por parte da classe científica,
injustamente assediada recentemente. Verdade que
parte das dúvidas sobre a ciência climática
decorre da falta de compreensão da população
a respeito dos processos científicos. “Não
existe uma teoria científica perfeita. Existe,
sim, uma série de evidências que corroboram
uma teoria até outra teoria melhor a substituir.
Para todos os fins práticas, a verdade é
ditada pelas teorias vigentes e, no caso da ciência
climática, esta verdade é ditada pelo
Painel Intergovernamental sobre Mudança do
Clima (IPCC) que congrega os maiores especialistas
sobre o tema em todo o mundo”, afirma Carlos Alberto
de Mattos Scaramuzza, superintendente de Conservação
do WWF-Brasil.
Mas, parte importante do problema
existe em decorrência de interesses escusos
pouco interessados em alterar o status quo. “O debate
científico sobre o clima do planeta não
pode ser contaminado por interesses políticos
ou econômicos. A ciência deve ser a
base para a sociedade tomar decisões. Corrompê-la
é corromper nossa capacidade de agir enquanto
ser humano racional”, afirma Carlos Rittl, coordenador
do Programa de Mudanças Climáticas
e Energia do WWF-Brasil. Se não agirmos imediatamente
implementando políticas que facilitam a transição
das sociedades em direção a uma economia
de baixo-carbono, as conseqüências serão
terríveis tanto para os ambientes naturais
quanto para os seres humanos.
A carta dos cientistas pode ser
acessada em: http://assets.wwfbr.panda.org/downloads/climate_statement.pdf
(em inglês).
+ Mais
Espécies usadas para alimentação
ou medicamento correm mais risco de extinção
17 Maio 2010
No dia 13 de maio, a Organização das
Nações Unidas lançou um relatório
que demonstra como os ecossistemas que sustentam
a vida no planeta e a economia global estão
em risco de rápida degradação
e colapso irreversível.
A terceira edição
do Panorama Global da Biodiversidade (GBO-3), produzido
pela Convenção sobre Diversidade Biológica
(CDB), confirma que os países falharam em
atingir as metas de redução na taxa
de perda de biodiversidade assumidas para 2010 e
aponta que uma perda ainda maior está por
vir se nada for feito.
Como conseqüência,
diversos biomas, como a Amazônia, podem atingir
um ponto de degradação irreversível,
resultado principalmente do desmatamento e mudanças
climáticas.
Baseado numa análise especial
de indicadores de biodiversidade realizadas por
um painel de especialistas, bem como em relatórios
de governos de países membros da CDB, o GBO-3
indica que nenhum dos 21 alvos subsidiários
associados às metas de biodiversidade para
2010 foram atingidos globalmente, apesar de algumas
metas terem sido cumpridas parcial ou localmente.
Vida humana e biodiversidade
Tendo em vista a preocupação com o
tema, a organização não governamental
Traffic e o grupo de especialistas em plantas medicinais
da Comissão de Sobrevivência de Espécies
da União Internacional para a Conservação
da Natureza (UICN - CSE) desenvolveram indicadores
para monitorar tendências na situação
de espécies selvagens usadas para alimentação
e medicação.
A análise desses indicadores
mostrou que os pássaros e mamíferos
usados para alimentação e/ ou fins
medicinais são geralmente mais ameaçados
do que os que não possuem um uso específico
pelo homem. A explicação é
que isso ocorre pela exploração desordenada
e excessiva desses animais ou pela redução
de habitats, ou ainda pela combinação
desses dois fatores.
“Independente das causas, a redução
da disponibilidade de recursos da vida selvagem
ameaça a saúde e o bem-estar das pessoas
que dependem diretamente deles para viver e se sustentar”,
aponta Thomasina Oldfield, pesquisadora e analista
da Traffic.
A situação do status
de conservação das plantas é
menos conhecido, no entanto, 80% das pessoas em
países em desenvolvimento dependem da medicina
tradicional amplamente baseada no uso das plantas.
De acordo com Danna Leaman, membro
do grupo de especialistas de plantas medicinais
da UICN, as plantas medicinais estudadas atualmente
parecem estar sofrendo maior risco de extinção
em partes do mundo onde pessoas dependem delas para
saúde e renda, como na África, Ásia,
Pacífico e América do Sul.
Sendo assim, o estudo conclui
que é urgente que sejam estabelecidas metas
mais rigorosas para 2020 e que os países
passem a dar a devida atenção à
biodiversidade.
“Tanto o relatório da ONU
como o estudo da Traffic chamam a atenção
para necessidade de se agir com mais rigor pela
conservação da biodiversidade. No
Brasil, a Amazônia e o Cerrado foram mencionados
no relatório como biomas que correm sério
risco de colapso. É um momento para as autoridades
refletirem e começarem a desenvolver ações
integradas, que envolvam contenção
do desmatamento, criação e implementação
de áreas protegidas e valorização
dos serviços ecológicos, para preservar
nossos ecossistemas”, aponta Cláudio Maretti,
superintendente de conservação do
WWF-Brasil.