Notícia - 5 mai 2010
Aldo Rebelo envia mensagem
para quem assina a petição em favor
de nossas florestas. Arrogante, o texto insinua
que ele é o árbitro ideal para dizer
o que é bom para o Brasil.
Na noite da última terça-feira,
4 de maio, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) soltou
nova leva de sua mensagem respondendo à petição,
enviada por quase 50 mil brasileiros a partir do
site do Greenpeace, exigindo que ele deixe em paz
nossas florestas. Aldo, relator da Comissão
Especial na Câmara em que meia dúzia
de deputados em fim de mandato tramam para desfigurar
o Código Florestal Brasileiro, sentiu a pressão
do ativismo on-line.
No entanto, sua resposta saiu
pela culatra. Seu tom, entre arrogante e paternalista,
serviu para incentivar os brasileiros que não
querem mudanças no Código Florestal
a enviar a petição para o deputado.
Nas últimas 24 horas, mais de 3 mil pessoas
juntaram-se a outras milhares que já mandaram
a petição para o gabinete de Aldo.
Ontem à noite, a reação furibunda
de Aldo figurava entre os assuntos mais comentados
no Twitter. Ela deixou muita gente irritada.
Aldo menospreza a inteligência
de quem assinou a petição. Insinua
que são pessoas desinformadas, suscetíveis
à confusão e à manipulação,
incapazes de pensar por si próprias. Quem
não está com ele é um idiota.
Ou, então, defende interesses estrangeiros.
Aldo ouviu essa ladainha no passado. Era como a
ditadura militar desqualificava seus adversários,
Aldo inclusive. Felizmente, nenhum ciberativista
que assinou a petição pelas florestas
tentou excluí-lo do debate pelo fato de o
deputado professar uma ideologia nascida na Europa
e reciclada pelos chineses.
Aldo se esquece de onde veio.
Bate no peito e jura que ele é que sabe o
que ser brasileiro. Se é assim, ele poderia
ser ao menos um pouco mais coerente e devolver os
R$ 300 mil que recebeu da mineradora Caemi - que
conta com 50% de participação da japonesa
Mitsui -, para irrigar seus cofres de campanha em
2006. Ou então parar de se comportar como
empedernido nacionalista.
Sobre o trabalho da comissão,
Aldo tenta passar a noção de que ele
foi criterioso, realizando 19 audiências públicas
e ouvindo mais de 300 pessoas. O que Aldo não
conta é que metade dessas audiências
sequer tem registro público. Aquelas que
têm demonstram que a comissão deu preferência
a escutar a opinião de quem quer desfigurar
o Código Florestal. Ela deu voz a 63 representantes
do agronegócio, todos críticos do
Código Florestal.
Dos pequenos produtores e trabalhadores
rurais, que Aldo jura defender, a comissão
ouviu 37 representantes. Apenas 2 líderes
indígenas foram convocados para prestar depoimento.
De ambientalistas, a comissão não
chamou para escutar sequer uma dezena e meia. Nada
surpreendente. Aldo e sua turma de ruralistas na
comissão não gostam de quem defende
a natureza brasileira. O deputado, nos últimos
meses, dedicou ao Ministério do Meio Ambiente
e Ministério Público os mesmos adjetivos
que vem dispensando ao Greenpeace. Em bom português,
disse que não passam de lacaios do imperialismo
americano e europeu.
O deputado também usa sua
resposta para banalizar o debate sobre o Código
Florestal. Entre os exemplos que invoca para justificar
a necessidade de alterá-lo – corrigi-lo,
como prefere seu pedantismo – diz que ele pode levar
à cadeia um sujeito que pegar uma minhoca
na beira de um rio.
Não se sabe de ninguém
que tenha sofrido tal sanção. Mas
sabe-se que, detrás da alteração
do Código Florestal orquestrada pelo deputado
e seus colegas ruralistas na Comissão, está
a anistia aos desmatadores, a redução
das áreas de preservação permanente
e a alteração da reserva legal.
Nem por isso, insiste Aldo, ele
deveria ser tachado de ruralista. Mas tem muito
ruralista que, graças a ele, anda pensando
em virar comunista. "Eu sou do PMDB. Provavelmente,
pelo contato que eu tenho com o Aldo Rebelo, logo
irei para o PCdoB", disse o deputado Moacir
Micheletto (PMDB-SC), membro da Comissão
Especial e sócio de carteirinha da bancada
da motosserra na Câmara. Ela está adorando
a performance de Aldo Rebelo.
Sobre o Greenpeace, Aldo não
consegue achar nada de muito substancial para dizer
a não ser que somos uma ONG holandesa, financiada
por interesses externos. Ele erra nos dois tiros.
O Greenpeace não é holandês.
Nasceu no Canadá e hoje é uma ONG
global, com 42 escritórios espalhados pelo
mundo. E não vive de dinheiro de governos,
partidos ou empresas. Depende de doações
individuais, que garantem a independência
e autonomia de suas campanhas em favor do meio ambiente.
No Brasil, o Greenpeace tem quase
50 mil doadores e recebe o apoio de 320 mil ativistas
on-line. Todos, ao contrário do que supõe
Aldo, brasileiríssimos e engajados na defesa
do que sobra das florestas que inspiraram o uso
do verde na bandeira nacional. Assine a petição
que anda irritando tanto o deputado Aldo Rebelo.
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'O problema do país não
são as leis'
Notícia - 6 mai 2010
Advogado especializado em direito ambiental afirma
que é dever dos proprietários rurais
preservarem a natureza, como determina a Constituição
brasileira de 1988.
O advogado Anthony Brandão,
professor da Universidade de Brasília (UnB)
e analista processual da Procuradoria Geral da República,
acompanha o ataque ruralista ao Código Florestal
com preocupação. Segundo ele, o código
é o principal instrumento da sociedade para
converter o que a Constituição determina
– a preservação ambiental – em realidade.
"O problema desse país não são
as leis. São as pessoas que não querem
incorporar suas obrigações para que
não haja limite ao lucro", afirma.
Uma comissão especial,
dominada por ruralista, prepara um ataque ao Código
Florestal. Seu relator, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP),
promete mudanças que podem abrir caminho
para a derrubada de mais florestas no Brasil. Peça
ao deputado que ajude a proteger, não destruir,
a natureza.
Brandão participou, nesta
segunda-feira (3), de um seminário promovido
pelo Greenpeace, o WWF Brasil e a SOS Mata Atlântica
sobre Código Florestal. Confira a entrevista:
Uma parcela dos proprietários
rurais afirma que é responsabilidade do governo
preservar, não deles. Eles estão certos?
Anthony Brandão: Esse argumento
de "não sou obrigado" não
vale. Não existe propriedade sem ônus.
A Constituição estabelece o direito
à propriedade, que precisa atender à
função social. Essa é uma cláusula
pétrea, que só pode mudar com uma
nova Constituição ou uma revolução.
A não ser que aconteça uma coisa ou
outra, o Estado tem de dar efetividade a esse dever.
Além disso, se o Estado tivesse unicamente
essa responsabilidade, teria de desapropriar terrenos
para preservar a natureza.
O que é função
social da propriedade?
Na social democracia, todo mundo
tem direito a acumular riquezas, desde que não
prejudique a coletividade. Nas cidades, a função
social é regulada pelo plano diretor. No
campo, o artigo 186 da Constituição
estabelece que é preciso preservar o meio
ambiente. É a Constituição
que traz essa obrigação, e o Código
Florestal é seu principal instrumento. Há
outras normas, mas o código é a primeira
ponte entre a Constituição e a realidade.
A Constituição é
de 1988. Quem desmatou antes e não preservou
a natureza é anistiado?
Quando uma nova Constituição
é instaurada, é preciso se adequar
à nova realidade. É como a abolição
da escravidão: não importava quanto
dinheiro o fazendeiro tivesse jogado nisso antes
– a partir daquele momento, acabou. É claro
que os valores sociais evoluem, as ocupações
não são ilícitas, mas tem de
se adequar. O proprietário que não
preservou antes não vai ser responsabilizado
criminalmente pelo o que aconteceu antes, mas o
será se não se adaptar.
O que é obrigação
do proprietário rural?
Garantir a conservação
das áreas de proteção permanente
(APPs), na margem dos rios e topos de morros, por
exemplo, e manter a reserva legal. Isso não
só para garantir a biodiversidade mas também
para garantir processos ecológicos, essenciais
para o ciclo da água, do nitrogênio
e para a produção de alimentos. A
nossa ética é a lógica econômica
também na hora de se fazer a gestão
dos recursos naturais. As pessoas precisam pensar
em reserva legal também como uma despensa
– não só de madeira mas também
onde se protege o solo.
Um dos argumentos econômicos
de quem quer mudar o Código Florestal é
que ele engessa a produção de alimentos
e de riquezas para o país.
Não é preciso desmatar
nem mais um pedaço de pau para produzir alimentos
no Brasil. E até que ponto o que esses caras
fazem reverte em riqueza para o país? É
possível duplicar a produção
com reserva legal e APP. O problema desse país
não são as leis. São as pessoas
que não querem incorporar suas obrigações
para que não haja limite ao lucro. O que
se pensa é: "Se posso detonar tudo e
ganhar com isso, por que fazer diferente?"
Qual é sua opinião
sobre o Código Ambiental de Santa Catarina,
em análise no Superior Tribunal Federal?
Ele é um instrumento tão efetivo quanto
o Código Florestal?
Esse Código Ambiental é
uma tristeza. Santa Catarina, antes de ser uma unidade
da federação, está ligado a
um bioma e a uma bacia que não seguem essas
fronteiras. Reduzir a mata nas margens dos rios,
por exemplo, tem impacto em outros locais. O que
acontece ali – poluição, assoreamento
– acaba no mar ou em outro rio.
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Código: mitos e realidade
Notícia - 4 mai 2010
O Greenpeace, o WWF Brasil e a SOS Mata Atlântica
promoveram nesta segunda-feira (3) o seminário
"O Código Florestal: preservado: condição
para o desenvolvimento brasileiro".
Focado na capacitação
de jornalistas sobre a lei ambiental brasileira
– assunto em debate no Congresso Nacional –, o evento
reuniu 42 profissionais de agências de notícia,
jornais e revistas nacionais e internacionais. O
objetivo do seminário foi promover o diálogo
entre jornalistas que cobrem questões ambientais
e cientistas de áreas relevantes para o debate
como clima, biodiversidade, economia e agricultura
familiar.
Considerada uma das leis ambientais
mais avançadas do mundo, o Código
Florestal é ameaçado pela bancada
ruralista, que pretende agir em causa própria,
modificar a lei e com isso garantir que as motosserras
ajam livremente devastando as florestas brasileiras.
O debate sobre as possíveis
mudanças no código está acontecendo
na Comissão Especial na Câmara dos
Deputados – a qual, diga-se de passagem, é
dominada por parlamentares ruralistas. O responsável
pela relatoria é o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP),
que pode entregar a qualquer momento sua avaliação.
O Greenpeace tentar barrar a destruição
das matas evitando que o resultado do relatório
seja negativo para o ambiente. Você pode nos
ajudar assinando uma petição que será
enviada para o deputado.
Hoje, na reunião da Comissão
Especial do Código Florestal, Aldo disse
que entregará o relatório em 1º
de junho e tentou se justificar com o público
dizendo que escutou gente suficiente para traçar
uma opinião. Disse, por exemplo, que escutou
o Ibama e o Imazon - o que não aconteceu.
O deputado também se recusa a escutar os
milhares de ciberativistas que já assinaram
a petição.
Conteúdo
Paulo Adário, diretor da campanha de Amazônia
do Greenpeace, abriu o seminário falando
sobre o ataque sistemático que a bancada
da motosserra faz ao Código Florestal, e
como trabalhar com as cadeias produtivas – como
o Greenpeace faz no caso de gado e soja – ajuda
a garantir uma ação eficaz na proteção
do ambiente e da biodiversidade.
Carlos Alberto Scaramuzza, superintendente
de conservação do WWF Brasil, apresentou
uma pesquisa desmontando um dos principais argumentos
dos ruralistas: que o código impede a produção
agrícola e engessa o crescimento no Brasil.
A pesquisa focou cinco cidades cuja economia é
baseada na agricultura e mostrou que a preservação
das áreas de proteção permanente
(APP) não impediram a produção
agrícola eficiente nesses locais.
O cientista Gerd Sparovek, da
Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz),
ligada a USP, mostrou um levantamento inédito
sobre terras agricultáveis no Brasil. O resultado
é que a legislação ambiental
não inviabiliza a agricultura. Segundo o
estudo, há terra fértil suficiente
somente nas áreas de pasto para dobrar a
atual produção de grãos no
Brasil. A pesquisa analisa o território brasileiro
– quanto de florestas ainda apresenta e quanto já
foi alterado – e demonstra que existe um déficit
de APPs e reserva legal em várias regiões,
que precisam ser sanadas, mas que os terrenos já
modificados são mais que suficientes para
garantir o crescimento do agronegócio nacional.
O analista da Procuradoria Geral
da República Anthony Brandão, professor
da UnB (Universidade de Brasília), falou
como o Código Florestal em si não
é um problema, mas como o governo falha em
implementá-lo e fiscalizar sua aplicação.
"Não adianta falara que reserva legal
não presta se nem implementada ela foi. Vamos
primeiro testar antes de falar que o código
não funciona", disse.
O jurista Carlos Marés,
procurador-geral do Paraná, afirmou que o
Código Ambiental protege a sociedade e seus
interesses ao estabelecer um limite de destruição
das florestas. "Não é possível
aplicar um conceito do século 19 de 'limpeza
de terreno' em pleno século 21", disse.
Ele explicou que o fato de um terreno ser considerado
particular não exime seu proprietário
de responsabilidades com o coletivo, como a preservação
ambiental. "É próprio da modernidade
estabelecer limites ao pleno uso da liberdade. Isso
acontece em qualquer país do mundo, em relação
aos mais diferentes bens."
O desmatamento da floresta amazônica
traz impactos negativos em âmbito regional
e nacional, mostrou o cientista do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais), Gilvan Sampaio.
A derrubada das árvores e a conversão
do solo em plantação ou pasto alteram
a dinâmica das chuvas na região, em
primeiro lugar, e reduz o volume de umidade essencial
para a existência do Pantanal e para a agricultura
no Sudeste. A situação só se
agrava com o efeito estufa.
João de Deus, diretor do
Departamento de Florestas do Ministério do
Meio Ambiente e professor da UFSC (Universidade
Federal de Santa Catarina), falou sobre a responsabilidade
compartilhada entre governo e proprietários
rurais sobre a preservação da natureza.
"Existe um interesse maior coletivo que não
pode ser subjugado pelos interesses particulares."
Luiz Zarref, dirigente da Via
Campesina e do MST, negou um argumento normalmente
usado pelo deputado Aldo Rebelo para justificar
sua intenção de mudar o Código
Florestal. "Todo mundo usa o argumento dos
pequenos: Confederação Nacional da
Agricultura, Ministério da Agricultura..."
De acordo com Zareff, os produtores familiares –
eles sim responsáveis por produzir alimentos
para os brasileiros, segundo censo recente do IBGE
– podem se beneficiar do manejo correto de reservas
legais e APPs, uma vez que é possível
produzir nessas áreas. Em 2008, o setor florestal,
com extrativismo correto, gerou R$ 3,9 bilhões.
Luiz Carlos Estraviz Rodrigues, também professor
da Esalq, completou essas informações
e mostrou, com exemplos práticos, como a
legislação ambiental não impede
a utilização das áreas preservadas
para obtenção de renda.
Maria José Brito Zakia,
consultora na área socioambiental, relatou
como foi definida a expansão das APPs, com
base em um amplo estudo científico produzido,
construído por diversos pesquisadores que
debateram e formularam a proposta que se tornou
uma das bases do atual Código Florestal.
Jean Paul Metzger, doutor em ecologia
pela Universidade Paul Sabatier de Toulouse (França)
e professor da USP (Universidade de São Paulo),
apresentou estudo que recomenda a existência
de corredores amplos de florestas para garantir
a biodiversidade da fauna e da flora. A pesquisa
prova que, ao contrário do que dizem os ruralistas,
é preciso proteger as APPs para garantir
a variabilidade genética das espécies.
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'Mentalidade arcaica permanece'
Notícia - 13 mai 2010
Professor da UFRJ e historiador ambiental, José
Augusto Pádua volta ao Brasil Colônia
para mostrar como o setor ruralista parou no tempo
e desmata como se fazia antigamente.
Nos tempos coloniais, as florestas
não passavam de grandes embaraços.
Seu destino era certo: ser derrubadas em prol da
agricultura e o desenvolvimento. Cinco séculos
e muitas machadadas mais tarde, sobraram 7% de mata
atlântica em território nacional. E
o binômio que fez muita floresta cair naquela
época agora avança sobre a Amazônia.
Se antes a ignorância justificava
o desmatamento, hoje há estudos de sobra
mostrando que as matas brasileiras são muito
mais que uma bela paisagem. Apesar de os tempos
serem outros, há quem ignore os avisos e
prefira a ignorância. No Congresso, a bancada
da motosserra move mundos e fundos para derrubar
o Código Florestal brasileiro, lei criada
em 1934 e reformulada em 1965.
Em entrevista ao Greenpeace, o
professor da UFRJ e historiador ambiental José
Augusto Pádua explica que a mentalidade de
muita gente parou na história: "Não
tem sentido, em pleno século 21, ver a Amazônia
como um embaraço gigantesco."
Nos seus estudos sobre a história
ambiental brasileira, você fala de um tempo
em que terra com floresta era terra suja. Esse tempo
acabou?
José Augusto Pádua:
A sensação que os colonizadores tiveram,
ao chegar aqui, foi de uma terra aberta, sem fronteiras.
Um oceano sem fim por onde podiam avançar.
Esse mito da natureza sem limites se associou à
depreciação da vegetação
nativa. O que valia era açúcar, café.
A floresta não tinha valor. Hoje em dia,
com tudo o que se conhece sobre ecologia, importância
climática e da biodiversidade, essas ideias
deveriam estar completamente superadas. Mas não
estão. A mata atlântica parecia inesgotável
e hoje está aí, reduzida a menos de
10%. E hoje as pessoas ainda dizem que vão
limpar a terra para plantar. A natureza, então,
é suja?
O modelo atual de produção
no campo traz sequelas dessa época?
Nossa colonização
deixou marcas muito profundas, claras na maneira
destrutiva como nos relacionamos com a floresta.
O modelo predatório e de expansão
horizontal aplicado hoje se baseou na disponibilidade
de terra, na possibilidade de se apropriar de área
florestada para desmatar e conduzir uma atividade
econômica. Os poderosos recebiam terras de
sesmarias ou ocupavam. Com o uso predatório,
essas propriedades ficavam imprestáveis em
pouco tempo e eles requeriam ao Estado novas áreas
para avançar, argumentando que a terra estava
estragada. Muitas vezes nem pediam, iam avançando.
Avançando sobre terras
como ainda hoje acontece.
Sim. Essa mentalidade arcaica
permanece. Argumentos daquela época são
usados até hoje, como o de que com conservação
vai haver falta de alimentos. Esse tipo de argumento
precisa ser desmistificado. Ainda vemos uma produção
nômade, avançando para os lados, como
se o espaço disponível para a agropecuária
fosse pequeno. Não faz sentido abrir nem
mais um hectare de floresta. É um absurdo
essa choradeira de que não tem terra disponível
para explorar. Setecentos mil quilômetros
quadrados é tamanho mais que suficiente.
Poderíamos ter a pecuária usando áreas
muito menores e bem mais produtivas. Alguns setores
mais modernos já estão nesse caminho.
Mas, para isso, seria preciso cuidar do solo, educar
as pessoas. É mais barato queimar e seguir
em frente, e a área antes usada fica parada,
aberta e degradada.
Há quem diga que o Código
Florestal está atrasado.
Pelo contrário. A atual
legislação é fundamental e
aponta para o futuro. Não dá para
continuar usando a floresta da maneira como ela
era usada. Não podemos repetir na Amazônia
o que foi feito na mata atlântica. Temos de
acabar com essa mentalidade colonial de crescimento
para os lados. A floresta não tem, necessariamente,
de ser destruída passo a passo para dar lugar
à agricultura e à pecuária.
Não tem sentido, em pleno século 21,
ver a Amazônia como um embaraço gigantesco.
A legislação brasileira
demorou a olhar para as florestas?
Existe muito material do período
colonial sobre natureza no Brasil, mas a grande
maioria isola os elementos da floresta. Havia muita
coisa sobre espécies de árvores, de
animais, pois era algo mais voltado para o uso econômico
delas. Desde essa época existiam legislações
para maximizar o uso dos recursos naturais valiosos.
Não era uma questão de preservar a
floresta para a saúde do território.
O Código Florestal de 1934 foi a primeira
tentativa nesse sentido, apesar de também
trazer, ainda, uma visão econômica
para uma melhor gestão dos recursos. O código
veio avançando de lá para cá.
Hoje, ele tem uma concepção ecológica
bem mais forte.