04 Maio 2010
Estima-se que 400 a 600 espécies
estejam potencialmente em risco à medida
que o petróleo da Deepwater Horizon se espalha
e atinge a costa da Louisiana, nos Estados Unidos.
Gland, Suíça - Desastres recentes
com vazamentos ou plataformas de petróleo
em alto mar - inclusive a presente catástrofe
envolvendo a empresa Deepwater Horizon no Golfo
do México - reforçam a necessidade
de uma mudança mundial para uma energia mais
segura e mais limpa, declarou hoje (03.05.2010)
a rede ambientalista WWF.
Um mundo que busca uma quantidade
cada vez maior de petróleo e gás nas
águas profundas e em locais cada vez mais
difíceis e delicados precisa incluir, nessa
equação, o fato de que se movimenta
num território com maior probabilidade de
acidentes e que, quando eles ocorrem, a resposta
é mais difícil e as conseqüências
maiores.
“A infraestrutura bem desenvolvida
do Golfo do México, assim como o acesso aos
métodos tecnologicamente mais avançados
para responder ao vazamento, constitui o melhor
conjunto possível de circunstâncias
para enfrentar um desastre dessa ordem”, disse William
Eichbaum, vice-presidente para o Ártico e
Políticas Marinhas do WWF-Estados Unidos.
“Apesar de todas essas vantagens, no entanto, a
crise está cada vez pior,” concluiu.
Estima-se que 400 a 600 espécies
estejam potencialmente em risco à medida
que o petróleo da Deepwater Horizon se espalha
e atinge a costa da Louisiana, nos Estados Unidos,
num dos piores momentos para as aves migratórias.
A área atingida é local de hibernação
ou descanso para quase três quartos das aves
aquáticas dos Estados Unidos. E este momento
é o pico do período em que as aves
migram e fazem seus ninhos, quando os primeiros
filhotes se aventuram nas lagoas e pântanos
situados na trajetória dessa mancha de óleo.
A área do vazamento de
petróleo é uma das principais áreas
de desova do Atum Azul do Atlântico Ocidental
e essa espécie volta agora para sua restrita
estação de desova. A ameaça
recai também sobre uma das maiores indústrias
de frutos do mar dos Estados Unidos, responsável
por cerca da metade do camarão silvestre
desembarcado e 40% das ostras - que também
se encontram em fase reprodutiva.
"A devastação
ecológica e econômica em curso no Golfo
do México serve para lembrar que a exploração
de petróleo em alto mar é, na realidade,
profundamente perigosa e de que deveríamos
pensar duas vezes antes de liberar esse desenvolvimento
em águas ainda mais delicadas e traiçoeiras”,
declarou o diretor geral da Rede WWF Internacional,
James Leape.
Em meio aos indicativos recentes
do fracasso da indústria petrolífera
na abordagem de esperar o melhor, mas planejar para
o pior, a Rede WWF detalhou como as avaliações
de impacto ambiental e os planos de contingência
para vazamentos de óleo e a exploração
de petróleo no inóspito Mar de Chukchi
consideram “insignificante” o risco de aumento da
mancha e deixam de analisar os impactos potenciais
ou a reação ao plano.
O óleo é altamente
tóxico para o meio ambiente marinho e costeiro
e seu impacto sobre a vida silvestre pode permanecer
durante décadas. Ainda é possível
encontrar óleo do pior vazamento em área
marinha dos Estados Unidos - o desastre da Exxon
Valdez em 1989 -- que ainda causa impacto. A empresa
Deep Horizon, que segundo estimativas vaza cerca
de 5 mil barris de óleo por dia, está
determinada a superar a quantidade de óleo
da Exxon Valdez no início desta semana.
No final de 2009, o WWF se envolveu
na avaliação de riscos ambientais
e danos do aumento da exploração da
Montara no Mar do Timor.
Por meio de menos do que um décimo
da escala do desastre no Golfo do México
(estimado em 400 barris diários contra os
atuais 5 mil) e em função de sua localização
em mares muito mais rasos (cerca de 90 metros ou
300 pés em contraste com os cerca de 1.500
metros ou 5 mil pés), o vazamento exigiu
quatro tentativas e 73 dias para fechar.
O óleo se espalhou por
90 mil quilômetros quadrados no mar e alcançou
as águas da Indonésia e o Triângulo
dos Corais, que é uma área prioritária
mundial para a conservação do meio
ambiente.
A exemplo do que aconteceu no
Golfo, o vazamento de Montara atingiu baleias e
golfinhos, áreas de desova do atum, tartarugas
e aves marinhas.
“Infelizmente, nunca chegaremos
a conhecer o real prejuízo provocado à
vida silvestre”, disse o diretor de Conservação
do WWF-Austrália, Gilly Llewellyn, que viajou
de barco até o Mar Timor durante a ocorrência
do vazamento para poder preencher o vácuo
da informação oficial e por parte
da empresa envolvida.
“Simplesmente não houve suficientes esforços
de monitoramento para se ter uma idéia do
impacto total. Nós achamos que o vazamento
afetou milhares, ou mesmo dezenas de milhares de
criaturas marinhas, como as aves marítimas,
baleias e golfinhos que entraram em contato com
esse óleo derramado,” continuou Llewellyn.
Cientista marinho familiarizado
com o Golfo do México, Llewellyn disse que
a riqueza biológica costeira do estado de
Louisiana provém da complexa mistura de ilhas
nos bancos de areia e pântanos lodosos. “Pode-se
limpar a areia, mas não se pode limpar o
lodo”, disse Llewellyn. “Se o óleo atingir
o lodo, os efeitos podem ser muito duradouros”.