31 mai 2010
“Estamos preparados para o pior” garante Carol Browner,
conselheira para políticas energéticas
e mudanças climáticas do governo Obama.
Pessimismo prevalece também no tom da declaração
de Bob Dudley, diretor geral da British Petroleum
(BP), após assumir que a última tentativa
de contenção do vazamento de óleo
do Golfo do México, usando uma técnica
de injeção de lama e lixo sólido
chamada Top Kill, fracassou. “Estamos decepcionados.
Não fomos capazes de controlar o fluxo do
poço”, concluiu Dudley.
Passado mais de um mês desde
o desastre, não há cálculos
do tamanho do impacto do vazamento nos ecossistemas
do Golfo do México. Se tomarmos como exemplo
outros derramamentos semelhantes, a dimensão
é assustadora. Recente estudo em cima do
desastre com a plataforma Exxon Valdez, por exemplo,
concluiu que a vida selvagem do Alasca ainda está
ingerindo o óleo derramado 20 anos atrás.
O que esperar, então, de um vazamento que
já passou do dobro do tamanho do Alasca e
que promete se estender por meses?
Mikael Freitas, da Campanha de
Oceanos do Greenpeace no Brasil, lista algumas preocupações:
“O atum azul do Atlântico Norte, em risco
eminente de extinção e outras espécies
de tubarão também ameaçadas
desovam no Golfo do México entre abril e
junho. Tartarugas marinhas migram para as águas
mais quentes ao sul do Mississipi nesta época
do ano. As populações de baleias e
golfinhos próximas à área do
vazamento sofrem riscos ainda mais diretos, visto
que precisam ir até a superfície para
respirar, correndo sérios riscos de ingestão
do óleo durante sua respiração”.
Além das espécies
marinhas, o Pelicano Marrom, ave símbolo
da Louisiana e outras aves migratórias têm
hábito de se alimentar na região próxima
ao derramamento. Sem contar o impacto para a pesca
de peixes, camarões. “Fazendas de ostras
também estão na mira, visto que as
ostras, extremamente sensíveis, são
organismos que se alimentam filtrando a água
do mar”, complementa Mikael.
Tão logo confirmou a falha
na última tentativa, a BP anunciou outra
investida de contenção. Uma nova perfuração
no poço desviará grande parte do vazamento
e diminuirá a pressão, para uma posterior
tentativa de contenção total, usando
uma nova “rolha”. A previsão, desta vez mais
modesta, é de que o processo demore por volta
de dois meses. “Parece que as futuras gerações
conhecerão o Golfo como o “Mar Negro”. Marco
da incompetência de uma empresa pretensiosa,
do descaso com as questões ambientais, e
de uma sociedade sedenta pelo lucro e pela exploração
criminosa dos recursos naturais”, diz Mikael.
“Precisamos saber o que pensa
o governo brasileiro em relação ao
pré-sal, quando vêem o tamanho do problema
nas mãos da BP. Este é um sinal mais
do que claro de que o homem não tem conhecimento,
nem capacidade, de continuar explorando recursos
fósseis”, complementa.
O Greenpeace defende o estabelecimento
de Áreas de Marinhas Protegidas, o fim da
exploração de combustíveis
fósseis e o estabelecimento de uma matriz
energética limpa e renovável, que
garanta um futuro seguro não só para
a humanidade, mas para todas as formas de vida que
ainda resistem.