25 Maio
2010
O diagnóstico apresentado por um grupo de
ONGs ao governador do Mato Grosso do Sul, André
Puccinelli, nesta quarta-feira, 26/05, em Campo
Grande, tem por objetivo o monitoramento de impactos
no Pantanal.
Estudo realizado por um consórcio
de ONGs que atuam no Pantanal, entre elas o WWF-Brasil,
mostra um Pantanal ainda conservado se comparado
a outros biomas, como Mata Atlântica, mas
vulnerável, principalmente em razão
dos impactos ocorridos na parte alta da Bacia do
Alto Paraguai (BAP). Enquanto a planície
inundável mantém 86,6% da sua cobertura
vegetal natural, no planalto da BAP, apenas 43,5%
da área possui vegetação nativa.
O diagnóstico denominado
Monitoramento das Alterações da Cobertura
Vegetal e Uso do Solo na Bacia Alto Paraguai foi
realizado pelas ONGS Ecoa-Ecologia e Ação,
Conservação Internacional, Fundação
Avina, SOS Pantanal e WWF-Brasil e teve o apoio
técnico da Embrapa Pantanal. O objetivo foi
fazer uma análise detalhada das mudanças
de cobertura vegetal e uso do solo, ocorridas na
Bacia do Alto Paraguai no período de 2002
a 2008.
O estudo teve como base inicial
dados do Projeto de Conservação e
Utilização Sustentável da Diversidade
Biológica Brasileira (Probio), do Ministério
do Meio Ambiente (MMA). O trabalho envolveu a análise
de mapas existentes e de novas imagens de satélite.
Os técnicos também fizeram visitas
de campo para coletar dados, entrevistaram especialistas
da área e compararam essas informações
com as imagens de satélite.
O resultado do diagnóstico
mostra que a planície inundável, onde
está o Pantanal ainda está bem conservada,
com 86,6% da sua cobertura vegetal natural. A situação
é bem diferente na parte alta da bacia hidrográfica,
onde apenas 41,8% da vegetação natural
permanecem com sua formação original.
O estudo também registrou um percentual maior
de desmatamento no planalto da BAP. De 2002 a 2008,
o lado brasileiro da BAP, onde está o Pantanal,
teve uma perda de 4% de sua vegetação
natural, contra 2,4% da planície.
Conversão para pastagens
O mapeamento apontou diferenças
na ocupação do solo entre o planalto
e a planície, onde está localizado
o Pantanal. Enquanto o planalto caracteriza-se pela
forte ocupação da agricultura e pecuária,
na planície, a pecuária de caráter
mais extensivo exerce menor pressão sobre
a cobertura vegetal original.
Os dados de 2008 mostram que a
pecuária é o uso antrópico
(pela ação humana) mais representativo
na BAP, respondendo por 11,1% da área antrópica
da planície e por 43,5% da área antrópica
do planalto. A agricultura, que ocorre em apenas
0,3% da planície, ocupa uma área de
9,9% do planalto.
Ciclo das Águas
O estudo ajuda a reforçar
a necessidade de olhar para o Pantanal com uma visão
de bacia hidrográfica e não apenas
a região alagável, a mais conhecida.
Isso porque, é na parte alta onde estão
as nascentes dos rios que abastecem o Pantanal.
O equilíbrio ambiental e os processos ecológicos,
responsáveis pela rica biodiversidade do
Pantanal são determinados por eventos, naturais
ou não, que ocorrem tanto na parte alta como
na planície da bacia hidrográfica.
A água que nasce nas partes
altas corre para baixo, para a planície inundável,
por isso qualquer impacto nessa área tem
reflexos no Pantanal. “É esse ciclo hidrológico
– com águas que sobem no período das
águas e baixam na estação seca
- que faz o Pantanal um bioma tão importante,
único, com uma das mais ricas biodiversidades
do mundo’, destaca a secretária-geral do
WWF-Brasil, Denise Hamú. Para Hamú,
entender e respeitar esse ciclo é fundamental
para a conservação do Pantanal e das
espécies que ele abriga.
Ferramenta de gestão e
monitoramento
O mapa da cobertura vegetal é
mais uma ferramenta para entender o Pantanal e a
relação entre o planalto e a planície
alagável e para ajudar os governos a adotarem
medidas para a conservação do Pantanal.
Para as instituições,
será um elemento importante para as ações
de conservação e para o diálogo
com o segmento produtivo. “Nosso objetivo é
discutir um modelo sustentável para o futuro
do Pantanal que combine desenvolvimento com a proteção
da natureza” afirma Denise Hamú.
A base de dados produzida pelo
estudo servirá de referência para o
monitoramento da cobertura vegetal e uso do solo
da BAP, sendo revisada e detalhada, incorporando-se
críticas e sugestões de entidades
parceiras a cada revisão. A intenção
das ONGs é contribuir para o aumento da compreensão
da dinâmica que ocorre na região e
que essa compreensão possa ser convertida
em ações de apoio à conservação
e ordenamento do uso sustentável da região.