26 mai 2010
Em café da manhã
organizado hoje na Câmara Federal, a Frente
Parlamentar Ambientalista concedeu espaço
para a apresentação de estudos de
dois importantes pesquisadores das florestas brasileiras.
O primeiro a se apresentar foi
o professor do departamento de solos da Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, Gerd Sparovek.
A pesquisa, desenvolvida em parceria com a Universidade
de Chalmers, na Suécia, mostra que não
é preciso enfraquecer a atual lei ambiental
para garantir o desenvolvimento da agricultura no
Brasil, argumento amplamente defendido pelos ruralistas.
Para Sparovek, mesmo com a aplicação
de todas as regras instituídas pelo atual
código florestal ainda sobrariam 104 milhões
de hectares de florestas nativas que poderiam ser
desmatadas. Só para se ter uma idéia
da grandiosidade do número, a área
equivale a quatro vezes o estado de São Paulo.
“Se esse for a desculpa para modificar a lei, ele
não é válido. Hoje o Brasil
tem a possibilidade de duplicar sua área
de agricultura e pecuária”, disse Sparovek.
Entre outras conclusões,
o estudo mostra que apesar da lei atual instituir
254 milhões de hectares de floresta como
reserva legal, existe hoje um déficit de
43 milhões de hectares. Já nas unidades
de conservação o déficit é
de cinco milhões de hectares, o equivalente
a 3% do que deveria ser preservado.
Faixa de mata ciliar precisa ser
maior
Em seguida Jean Paul Metzger, professor da USP e
doutor em ecologia pela Universidade Paul Sabatier
de Toulouse, França, apresentou pesquisa
que defende a ampliação das Áreas
de Preservação Ambiental (APPs). Enquanto
a lei brasileira exige que 30 metros das margens
de rios sejam preservados para garantir a conservação
da biodiversidade, o professor defende que o mínimo
é que haja preservação de pelo
menos 50 metros de floresta nativa em cada uma das
margens. “Tal como é hoje, é possível
garantir que apenas 55% das espécies sejam
preservadas”, disse.
O estudo também conclui
que a área a ser preservada para garantir
os corredores ecológicos não varia
de acordo com bioma, o que desmonta o argumento
de Aldo, que antecipou em entrevista ao jornal Valor
Econômico publicada na semana passada que
o relatório defenderá limites protegidos
diferenciados para cada tipo de terreno.
O café da manhã
foi a chance de Metzger expor seu estudo, considerado
de extrema relevância para as discussões
do código florestal. Esse direito lhe foi
negado recentemente pela comissão especial,
que apesar de ter aprovado o requerimento para Metzger
expor suas idéias, preferiu fazer vista grossa
e não convidá-lo a comparecer à
comissão.
O relator não foi
Há menos de uma semana para a entrega do
relatório que pretende definir o novo código
florestal, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator
da comissão especial que discute o tema,
se sentiu à vontade em não comparecer
à apresentação dos dois estudos,
considerados indispensáveis no debate da
modificação da lei ambiental brasileira.
Aldo não só não
apareceu ao café da manhã como também
se negou a comparecer a um jantar com os pesquisadores
que aconteceria na noite anterior à apresentação.
Em contrapartida outros ruralistas como os deputados
Paulo Piau (PMDB-MG) e o Celso Maldaner (PMDB-SC),
ambos membros da comissão especial compareceram
ao café.
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Grana radioativa
26 mai 2010
Quer saber quanto os bancos investem em energia
nuclear? Uma rede de organizações,
inclusive o Greenpeace, lança hoje o site
www.nuclearbanks.org, que detalha o envolvimento
de 45 bancos comerciais no financiamento de projetos
e companhias ligadas com o setor.
A energia nuclear coloca em risco
a segurança das pessoas e da natureza e é
desnecessária, uma vez que fontes renováveis,
como eólica e solar, podem suprir a necessidade
da sociedade. O investimento nesse campo é
incompatível com qualquer operação
dita sustentável, como uma série de
bancos gosta de colocar em seus anúncios.
O nuclearbanks.org detalha 867
transações, que envolvem 124 bancos,
cujo financiamento foi dirigido a mais de 70 companhias
nucleares. Entre 2000 e 2009, essas instituições
financeiras forneceram 175 bilhões de euro
ao setor nuclear. A proposta do site é servir
de plataforma para clientes e acionistas consultarem
se seus bancos fazem jus às chancelas ambientais
que pleiteiam.
Vinte projetos controversos já
podem ser visitados na página. Entre eles,
plantas de reatores na Índia, África
do Sul, diversas na Europa e Angra III, no Brasil.
Este, na mira de mira de bancos como o americano
Citi, além dos franceses BNP Paribas e Societé
Générale, tem financiamento do banco
estatal brasileiro, BNDES.
Angra III é parte de um
complexo de usinas nucleares situadas no litoral
do Rio de Janeiro, na cidade de Angra dos Reis.
Próximos das duas maiores cidades do país,
Rio e São Paulo, um acidente na usina teria
conseqüências desastrosas. “Projetos
controversos, arriscados, desnecessários
e onerosos como Angra III são empecilho para
um caminho rumo à solução climática”,
afirma André Amaral, Coordenador da Campanha
Nuclear no Brasil.
Para Jan Beránek, representante
da campanha no Greenpeace Internacional, investir
em reatores é um desperdício de tempo:
“Apesar de responder por um percentual mínimo
das necessidades energéticas mundiais, a
energia nuclear oferece enormes perigos ambientais,
de saúde e segurança. Além
disso, as emissões precisam ser reduzidas
nos próximos dez anos e os reatores levam
uma década, ou mais, apenas para serem construídos”,
diz Beránek.
Encabeçam a lista dos bancos
com mais projetos nucleares BNP Paribas (França),
Barclays (Inglaterra), Citi (USA), Societé
Generale (França), Crédit Agricole/Calyon
(França), Royal Bank of Scotland (Inglaterra),
Deutsche Bank (Alemanha), HSBC (Inglaterra/HongKong),
JP Morgan (USA) e o Banco da China. Juntos, eles
somaram 92 bilhões de euros de aporte à
indústria nuclear entre 2000 e 2009.