Panorama
 
 
 

RITUAL INDÍGENA É AMEAÇADO PELA
CONSTRUÇÃO DE PCHS EM MATO GROSSO

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2010

26/05/2010 - O Yaõkwá, ritual dos índios Enawenê Nawê, do norte do Mato Grosso, pode ser inscrito no livro de Registro de Celebrações, conforme publicado no Diário Oficial da União, de 25 de maio A celebração de 2009 foi prejudicada pela falta de peixes atribuída às mudanças climáticas e à construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Rio Juruena. A Funai teve de comprar os peixes para a realização do ritual. Em 2010, não foi muito diferente.

Informação publicada no Diário Oficial da União em 25 de maio informa a intenção do Iphan em reconhecer o ritual Yaõkwá, do povo indígena Enawenê Nawê, do norte do Mato Grosso, como patrimônio cultural do Brasil.

Em se tratando de um ritual ameaçado, a inscrição no livro de Registro de Celebrações vem em boa hora. Iniciativa do Iphan em parceria com a Operação Amazônia Nativa (Opan) e a Vídeo nas Aldeias registrou em vídeo, o Yaõkwa, o ritual indígena mais longo na Amazônia brasileira. Com base na pesca no Rio Juruena, o ritual quase não aconteceu no ano passado porque os peixes desapareceram. De acordo com os índios, o sumiço se deu por alteração no período de chuvas, que se estendeu além do normal, e os peixes não subiram o rio depois da piracema. Não foi escassez como já aconteceu em outras ocasiões. No ano passado, os peixes desapareceram.

Além das alterações climáticas, os índios atribuem o fato à construção de uma Pequena Central Hidrelétrica Telegráfica (PCH) no Rio Juruena, uma das previstas no Complexo Hidrelétrico do Juruena, que naquela época nem estava em funcionamento ainda.

Barragem construída no Rio Juruena para o ritual de 2009

Em 2009, os Enawenê esperaram dois meses pela subida dos peixes e como isso não aconteceu, a Funai conseguiu que a construtora da PCH, o Consórcio Juruena, pagasse R$ 20 mil reais para comprar três toneladas de tambaqui de criatório, para que se iniciasse a parte mais importante do ritual.

Este ano, os Enawenê Nawê não fizeram a barragem. Desta vez por luto em razão da morte de um de seus líderes, e novamente a Funai comprou o peixe. Entretanto, apesar de o período de chuvas deste ano ter sido normal, os peixes continuam minguando. “Os indígenas saem para pescar e voltam reclamando que não tem peixe e que as águas do rio estão muito sujas”, relata a indigenista da Opan, Juliana de Almeida, que trabalha com os Enawenê.

Especialistas em barragens, os Enawenê iniciam o ritual na época das cheias em janeiro, quando coletam o material necessário à construção das waiti (as barragens) que se estendem de um lado a outro do rio. Utilizam tramas de cestos e troncos para filtrar a água do rio. No ano passado, o ritual teve de ser compactado.

A construção das PCHs no Juruena provocou conflitos entre os índios, as construtoras e o governo do Mato Grosso. Por conta disso, 120 índios ocuparam e incendiaram o canteiro de obras da PCH Telegráfica em outubro de 2008, instalado na cidade de Sapezal, a 430 quilômetros de Cuiabá. Mas em março de 2009, acabaram assinando com outros povos indígenas daquela região um acordo de compensação envolvendo um milhão e meio de reais pela construção de oito PCHs naquele rio. O Plano de Compensação foi duramente criticado e ridicularizado por especialistas.

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Ruralistas fazem pressão para votar Código Florestal ainda em junho

28/05/2010 - A bancada ruralista na Câmara dos Deputados já iniciou as pressões para forçar o presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), a colocar em discussão e votação, ainda neste mês, o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que modifica o Código Florestal e altera a lei dos crimes ambientais. Segundo o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), membro da bancada , Temer teria assumido esse compromisso. Apesar de incisiva, a afirmação de Colatto foi negada pelo presidente da Casa.

Lideranças do PT e do PSDB acham difícil que o relatório sobre as alterações no Código Florestal seja votado às pressas. Em entrevista ao ISA, o líder Fernando Ferro (PT-PE), afirmou não acreditar que o relatório de Aldo Rebelo seja discutido e votado em junho. “Estamos com agenda sobrecarregada de medidas provisórias e para que esse relatório seja levado a voto tem de fazer parte de um amplo acordo entre as lideranças”, disse o parlamentar.

“Se o relator conseguir essa façanha, ótimo, estaremos juntos, e então não haverá problema. Caso contrário, sem consenso, haverá obstrução de um lado e de outro. Temos de trabalhar para que prevaleça o interesse maior do país e da sociedade. Queremos uma legislação que valha por muito tempo e ajude a promover o desenvolvimento sustentável do país.”

O líder do PSDB, João Almeida (PSDB-BA), também em entrevista ao ISA, afirmou que não apenas duvida da votação do relatório em junho, como joga esse prazo para bem mais adiante: “Acredito que vá ficar para depois da eleição. É a normalidade da tramitação quando se trata de matéria desse quilate.”

Mesmo a data da apresentação do relatório parece não estar decidida, de acordo com afirmação feita nesta quinta-feira, dia 27, pela assessoria de imprensa de Rebelo.

Havia a previsão de que o relator divulgaria o documento na próxima terça-feira, 1º de junho. De acordo com a assessoria dele, a previsão é de que isso ocorra entre a primeira e a segunda semana de junho, até o dia 10.

O desmentido de Temer

A polêmica do disse-desdisse de Temer foi criada na quarta-feira (26/5) pelo deputado Valdir Colatto, que postou mensagem em seu twitter noticiando um acordo que teria sido firmado com o presidente da Casa. Segundo Colatto, Temer havia prometido à bancada ruralista que o projeto do Código Florestal seria votado em plenário ainda em junho.

Por conta dessa informação, o líder do Partido Verde, Edson Duarte (PV-SP), levantou uma questão de ordem durante a sessão para cobrar a veracidade da mensagem. Duarte perguntou a Temer:

“O senhor teria dado a garantia de que no mês de junho, mês do Dia Internacional do Meio Ambiente, incluiria na pauta de votação desta Casa o famigerado e secreto Código Florestal Brasileiro, a sua mudança e a sua destruição?”

Surpreso com a revelação de seu encontro com os ruralistas, o presidente Temer reagiu: “Fui procurado pelos integrantes da comissão que cuidou do Estatuto Florestal me pedindo se poderia trazer para a pauta. Eu disse que questões dessa natureza eu submeto às lideranças. Se os líderes aceitarem, eu levo à pauta. Se não aceitarem, não levo à pauta. Não prometi pautá-la ditatorialmente.”

Panelaço ruralista

A pressão dos ruralistas vai além da abordagem direta ao presidente da Câmara. O deputado Moreira Mendes (PPS-RO), da Frente Parlamentar da Agropecuária, disse, também na quarta-feira (26/5) à jornalista Carolina Bahia, do Canal Rural, que eles estão organizando uma manifestação de produtores rurais em Brasília. “A Frente pretende reunir 50 mil manifestantes para fazer um panelaço a favor das mudanças no Código Florestal”, afirmou a jornalista.

Durante a reportagem de Carolina, no programa Mercado & Cia, o apresentador João Batista Olivi, que ainda não sabia da negativa de Temer, comentou: “O deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), que é presidente dessa Comissão (que prepara mudanças no Código Florestal) disse que o panelaço ia acontecer no dia da votação na Comissão de Reforma do Código, para forçar o Michel Temer a colocar em votação. Agora, se ele já vai colocar, então o panelaço será pela votação em Congresso.”

O líder petista Fernando Ferro disse que pressões como o panelaço anunciado pelos ruralistas são legítimas. “Mas tem pressão para modificar e para não modificar. Vamos reconhecer as críticas e ponderações, mas vamos decidir com o zelo e o cuidado que uma matéria como essa requer. Temos de ouvir os reclamos de todos os lados. Mas não podemos legislar à base de panelaço.”

O advogado Raul do Valle, coordenador adjunto do Programa de Política e Direito do ISA, destaca que o próprio Aldo Rebelo, no amplo espaço que conquistou na mídia desde que assumiu a função de relator da comissão, admitiu várias vezes a existência de numerosos pontos polêmicos nas propostas: “Por causa desses conflitos, seria um absurdo colocar o projeto em votação, mesmo na comissão especial, antes do segundo semestre”, afirma. “É necessário que todos os parlamentares, e não apenas os poucos que tiveram o privilégio de conhecer o relatório antecipadamente, possam se apropriar do conteúdo de um projeto tão importante".

O advogado ainda sugere que o debate não se restrinja ao parlamento. "A sociedade também tem o direito de analisar e discutir a proposta em tempo razoável. Não se rasga uma lei de quarenta anos em troca de um substitutivo forjado às pressas. A menos que estejamos vivendo uma ditadura ruralista".

O Código Florestal e as ONGs
O Código Florestal é o principal instrumento normativo para proteger a vegetação nativa brasileira e garantir a produção dos serviços ambientais básicos ao nosso dia-a-dia. Organizações da sociedade civil já têm se manifestado há algum tempo contra tentativas de derrubar a proteção às florestas e em repúdio a modificações que fragilizam a legislação. No final do ano passado, por exemplo, foi divulgada nota de ONGs contra o Decreto nº 7.029, de 10 de dezembro de 2009, que instituiu o Programa Federal de Apoio à Regularização Ambiental de Imóveis Rurais, denominado "Programa Mais Ambiente". A adesão ao programa suspende a cobrança das multas aplicadas em decorrência de infrações ambientais, além de estender por mais três anos o prazo para regularização de Reservas Legais.


 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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