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ALDO REBELO RECUA, MAS RELATÓRIO MANTÉM AMEAÇAS ÀS FLORESTAS

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2010

29/06/2010 O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do Projeto de Lei 1876/99, que reforma o Código Florestal, anunciou nesta terça-feira, 29 de junho, que fará mudanças em seu parecer. Desde que foi divulgado, em 8 de junho, a proposta do relator vem sendo duramente criticada por parlamentares, organizações socioambientalistas e especialistas em meio ambiente, nas academias e órgãos públicos.

O deputado adiantou à Comissão Especial do Código Florestal que pretende tornar mais claro em seu texto que a hipótese de dispensa de reserva legal para pequenas propriedades, prevista em seu relatório, valerá apenas para aquelas com até 4 módulos rurais. Ele lembrou que, mesmo nesses casos, a dispensa da reserva legal não será para a derrubada de mata remanescente, mas para a legalização de áreas já desmatadas.

O relator ainda explicou que haverá uma moratória de cinco anos, com o objetivo de regularizar áreas produtivas já consolidadas; e, após esse período, os limites das áreas de reserva legal da legislação em vigor hoje serão restabelecidos. A moratória também será acompanhada da suspensão da prescrição de multas por desmatamento.

Caminho aberto para novos desmatamentos e anistia

Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), os recuos no relatório de Aldo Rebelo são fruto da mobilização feita pelo movimento ambientalista em parceria com parlamentares que defendem a atual legislação ambiental brasileira. Mas, a seu ver, não elimina a ameaça às florestas garantida no texto original. “Apesar das mudanças anunciadas, no entanto, o eixo central do novo Código proposto pelo relator deixará o caminho aberto para novos desmatamentos, além de anistiar aqueles que, nas últimas décadas, cometeram crimes ambientais”, afirma Valente.

De acordo com o parlamentar, o substitutivo proposto por Rebelo vai fragilizar a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81), o Código Penal Ambiental (Lei 9.605/98), o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (9.985/00), o Zoneamento Econômico-Ecológico (Decreto 4.297/02), o Controle de Poluição de Atividades Industriais (Decreto-Lei 1.413/75) e a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97).

Na última quinta-feira, o deputado do PSOL apresentou um voto em separado ao relatório oficial da Comissão, pedindo o arquivamento do parecer de Aldo Rebelo. Leia o texto do voto em separado.

“Por enquanto, o relator apenas anunciou as mudanças que pretende fazer. Precisamos conhecer o texto em detalhes, porque nesta Comissão há muita diferença entre o que se fala e o que se faz”, criticou Ivan Valente.

“No meio ambiente, há um interesse coletivo maior que não pode ser subjugado por interesses particulares. Os impactos do desmatamento da floresta tropical e de outros biomas do território brasileiro são conhecidos e altamente negativos. Toda essa vegetação foi derrubada pela sanha de um setor que há tempos abandonou sua consciência social e ambiental e que agora será anistiado caso o relatório final do deputado Aldo Rebelo seja aprovado”, concluiu.

Nova reunião dia 6 ou 7

A próxima reunião da Comissão Especial do Código Florestal acontece no dia 6 ou 7 de julho. A previsão é a de que o relatório final seja votado pela Comissão Especial em um desses dias. A votação em plenário da Câmara, no entanto, deve ficar para depois do recesso eleitoral.

Aldo Rebelo disse que vai excluir de seu substitutivo o parágrafo que prevê a retirada do Código Florestal do trecho que classifica as florestas como "bens de interesse comum". Ele explicou que o princípio já está previsto na Constituição, o que tornaria dispensável a menção na legislação infraconstitucional, mas, em razão das críticas, ele não vai propor a alteração da lei nesta parte.

Outra mudança anunciada por ele é a previsão de mecanismos de proteção para plantas exóticas já integradas a vegetação brasileira, como a mangueira, inclusive com a possibilidade de uso dessas espécies na recomposição de áreas desmatadas.

Durante a exposição do relator, representantes de grupos ambientalistas protestaram com cartões vermelhos contra as mudanças. A maior parte das organizações ambientalistas apontam retrocesso na legislação ambiental, caso o substitutivo de Aldo Rebelo seja aprovado.
ISA, Julio Cezar Garcia.

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PSOL apresenta voto em separado na Comissão do Código Florestal

25/06/2010 O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) protocolou nesta quinta-feira, 24 de junho, um voto em separado ao relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que propõe mudanças no Código Florestal brasileiro. O voto rejeita o texto oficial e será apreciado pelos integrantes da Comissão Especial responsável pelo assunto, que tem maioria de integrantes ligada ao agronegócio.

O documento de Ivan Valente defende a manutenção da atual legislação, além de criticar a descentralização da legislação para estados e municípios e rebater algumas premissas que teriam orientado a proposta do relator. Na avaliação do líder do PSOL, o relatório final da Comissão Especial parte de premissas equivocadas e se apropria de forma distorcida de conceitos e fatos históricos para defender mudanças na legislação ambiental brasileira que, caso aprovadas, levarão o país a cometer um enorme retrocesso em termos de proteção do meio ambiente e da biodiversidade brasileira.

"A primeira premissa equivocada", afirma Valente, "é a existência de uma ameaça internacional que, utilizando-se de financiamento de organizações não governamentais ambientalistas, pretenderia impedir o Brasil de ampliar suas fronteiras agrícolas e, assim, manter sua competitividade no mercado exterior."

Valente lembra que não é a primeira vez que o deputado Aldo Rebelo se utiliza de um "fantasma da invasão estrangeira" para se colocar ao lado dos ruralistas: "Desta vez, no entanto, foi muito longe. Comparar a invasão holandesa e a vinda de Maurício de Nassau para o Brasil na época da colonização com o financiamento de ONGs por organizações holandesas para, finalmente hoje, alcançarem o objetivo fracassado séculos atrás comprova apenas a criatividade presente no relatório." E continua Valente: "Além de provocativo, agressivo e desrespeitoso, o texto é fantasioso ao criar uma luta imperialista contra moinhos de vento para justificar as alterações no Código Florestal. Não somos nós que nos ajoelhamos durante tanto tempo ao comércio internacional via cartilha da OMC. Pelo contrário. Esta sempre foi a política dos partidos que, agora, defendem o relatório da Comissão Especial”, disse o deputado.

O voto em separado (leia aqui o texto na íntegra) propõe-se a corrigir os equívocos do texto original.

Dos 18 membros, 13 votam favoráveis ao relatório de Rebelo, na avaliação de Valente. O voto em separado pode até se tornar relatório, em substituição ao de Rebelo, caso o documento do relator seja rejeitado na Comissão, o que é improvável.

A reunião está marcada para terça-feira, dia 29, mas pode ser adiada para o dia 5 de julho, segunda-feira. Isto porque manifestações contrárias ao texto do relator, inclusive do próprio Ministério do Meio Ambiente e do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), levaram o deputado Rebelo a acenar com a possibilidade de voltar a ouvir técnicos e a modificar o documento, que foi elaborado com assessoria da bancada ruralista. Até o presidenciável José Serra (PSDB) disse na sabatina do jornal Folha de S. Paulo que é contra a votação do relatório nesta legislatura, por causa das profundas divergências que suscitou na sociedade e na mídia.

"Por conta dessas divergências é que a sessão pode ser levada para o dia 5", afirma Valente, líder do PSOL na Câmara.
ISA, Julio Cezar Garcia.

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Aldo Rebelo apresenta relatório e deputados criticam parcialidade

09/06/2010 “O boi deveria ser o animal de estimação dos brasileiros.” Com esse princípio, recitando poesias, atacando os ambientalistas e fazendo citações com uma elasticidade que abrigava de Karl Marx ao papa Bento 16, de Malthus a Josué de Castro, do Padre Vieira a José Bonifácio e de Geraldo Vandré a Luiz Gonzaga, o deputado Aldo Rebelo (PC do B/SP) finalmente começou, nesta terça-feira, dia 8 de junho, a apresentar ao público mais amplo – porque os ruralistas já conheciam – o projeto para modificar o Código Florestal brasileiro.

A leitura será retomada nesta quarta-feira, 9 de junho, às 14 horas. O relatório foi elaborado com assessoria da advogada Samanta Piñeda, consultora jurídica da Frente Parlamentar da Agropecuária, que, segundo a imprensa, recebeu R$ 10 mil pelo trabalho.

Foram quase quatro horas de devaneios históricos. Por volta das 18 horas – a sessão tinha começado às 14h30, – o próprio relator, diante do visível desconforto da platéia, definiu o documento como enfadonho.

O interesse pela leitura havia lotado dois plenários, um deles apenas com telão e som. Apesar de Rebelo não chegar ao ponto essencial do texto – o deputado Edson Duarte (PV-BA) definiu a fala do relator como "uma aula de história e não uma leitura de relatório" – cópias do documento foram distribuídas durante a sessão e permitiram às organizações socioambientalistas comprovarem o que temiam. Alguns deputados também.

"Esse relatório é parcial, malfeito e representa um retrocesso absoluto na legislação ambiental", afirmou Sarney Filho (PV-MA). Para ele, a comissão constituída para analisar as propostas de mudanças "é desigual e francamente a favor do agronegócio."

O deputado Ivan Valente (Psol-SP), reclamou da não realização de audiências aprovadas pela comissão especial que visavam reunir opiniões mais amplas sobre o tema. "Incluímos até os presidenciáveis e as propostas deles,a Procuradoria Geral da República e outros especialistas. Mas a bancada do agronegócio é muito forte nesta comissão. Eles simplesmente suspenderam todas as audiências públicas e vieram direto ao relatório agora."

O texto do projeto é longo. Ao contrário do anunciado, não traz qualquer grande novidade no sentido de aprimorar a lei. Praticamente todas as mudanças vão no sentido de flexibilizá-la, sem trazer qualquer medida para que ela possa proteger melhor os rios, os morros, a biodiversidade.

O advogado Raul do Valle, do ISA, leu o relatório e destaca os principais pontos que preocupam a sociedade:

a) Possibilidade de anistia para desmatamentos ilegais em APPs ocorridos até julho de 2008: os governos estaduais poderão definir, com base em "estudos técnicos", áreas com atividades "consolidadas" - mesmo que tenham sido abertas há dois anos – onde não será necessário recompor a vegetação nativa.

b) Desoneração de Reserva Legal para imóveis com até quatro módulos fiscais: independentemente de ser agricultor familiar, todo imóvel com menos de quatro módulos estaria desonerado de ter RL, o que abriria a brecha para que grandes fazendas fossem artificialmente desmembradas em várias matrículas para que ficassem isentas de ter áreas protegidas. Isso significaria, na Amazônia, uma imensa brecha para aumentar o desmatamento legalizado e no restante do país, o fim da possibilidade de recuperação de biomas já extremamente ameaçados, como a Mata Atlântica.

c) Permissão para que os municípios passem a autorizar desmatamento: o que hoje é feito pelos governos estaduais – com problemas graves em alguns casos, como o do Mato Grosso – passaria aos municípios, locais onde a pressão econômica para autorizar os desmatamentos, sobretudo nas áreas de fronteira agrícola, são muito maiores.

d) Congelamento da obrigação de recuperar até a realização de Programas de Regularização Ambiental pelos estados: a partir da publicação da lei ninguém mais teria que recuperar nada, e inclusive os termos de compromisso de recuperação assinados com os órgãos ambientais perderiam validade, até que, porventura, os governos estaduais façam programas de regularização, que por sua vez podem diminuir o tamanho das APPs, da RL ou mesmo desobrigar os proprietários de recuperar essas áreas.

e) Proibição de desmatamento, por cinco anos, em áreas de floresta: essa medida, adotada para "equilibrar" a proposta, além de vir desacompanhada de qualquer outra que venha lhe dar alguma efetividade, o que a torna pura ficção, ainda permite que nas áreas de cerrado ou pantanal, onde o ritmo de desmatamento é maior, este possam continuar. Além disso, quem tiver protocolado pedido para desmatamento antes da publicação da lei teria "direito adquirido a desmatar".

Deputado acusa parcialidade

Logo depois da suspensão da sessão de terça-feira, o deputado Ivan Valente disse que não tinha previsão sobre os prazos para discussão e votação do relatório em plenário. "Vai depender do governo. O governo está aceitando as pressões dos ruralistas. Na minha opinião, o governo está acovardado frente a isto aqui. O Ministério do Meio Ambiente desapareceu do debate. A pressão dos ruralistas é para que seja votado antes do processo eleitoral para chantagear o governo em muitas questões. Muitos deputados da comissão são do PMDB, como o Valdir Colatto, o Micheletto, que têm força para pressionar o governo para fazer exigências dentro do PMDB."

Valente disse que estranhou a contratação de uma consultora ligada ao agronegócio para ajudar na elaboração do relatório. "Eu pedi a oitiva dela aqui na comissão porque nesse episódio faltou impessoalidade. Ela tem lado, tem compromissos. Nessa condição, ela veio aqui para fazer o relatório do agronegócio. E foi paga por isso com dinheiro público. Ela não é uma cientista, ela é uma pessoa que trabalha para a frente da agropecuária, para a CNA. Sinto muito que o relator tenha aceito esse tipo de proposta."

Para o deputado do Psol, só uma grande mobilização pode mudar o panorama. "Só se houver pressão de opinião pública, da imprensa da sociedade civil a partir do relatório real e não das entrevistas do relator, e com essa pressão criar-se uma situação de fato para impedir a votação ou prorrogar o prazo de votação para melhor debate sobre as propostas."

O deputado Edson Duarte (PV-BA) afirmou que a bancada ruralista deve usar até do expediente de obstrução do plenário para forçar votação e aprovação do relatório. "Estamos em época de copa do mundo, festas juninas, período eleitoral, o que significa problemas de quórum na Câmara. Mas a bancada rural tem a força de pautar e garantir quorum suficiente para a matéria ser votada." O deputado do PV baiano entende que as lideranças partidárias precisam se definir diante da questão: "O presidente Michel Temer, que é do PMDB, patrocinou hoje (terça, dia 8) uma sessão em homenagem ao meio ambiente. E quem está patrocinando aqui este relatório, este desmonte da legislação ambiental, é também o PMDB. Qual é a posição do partido? O Moacir Micheletto (PMDB-PR e presidente da Comissão Especial do Código Florestal)representa o PMDB.”

Para o deputado, a flexibilização da lei proposta pelo relatório é o fato mais grave. "Permite conveniências locais. Principalmente as conveniências políticas e pressões econômicas. E sem falar de penduricalhos, como anistia, moratória, permissão de recomposição de áreas com espécies exóticas." E não é só, segundo ele: "O mais grave é o faz-de-conta do debate. Esse debate não está sendo feito com a sociedade. Essas audiências públicas foram montadas para legitimar uma decisão que já estava pronta. Esse relatório é um acordo, um acerto entre o relator e a bancada ruralista", disse Duarte.

O argumento que defende a necessidade de mudar o código para aumentar a produção agropecuária também é criticado pelo parlamentar baiano: “Esse discurso é um pepino pode sair pela culatra. Eles podem flexibilizar a legislação para aumentar a produção e não ter a quem vendê-la por causa do boicote que as nações do mundo farão ao produto brasileiro, em decorrência do desmatamento que o Código vai permitir.”

A leitura do relatório continua hoje, no plenário 9 da Câmara, a partir das 14 horas.
Acesse o site www.sosflorestas.com.br, que amplia as informações sobre o debate em torno do Código Florestal.
ISA, Julio Cezar Garcia.

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Comissão adia votação do Código Florestal e ONGs pedem definição de presidenciáveis

15/06/2010 Pedido de vista coletivo ao parecer do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) nesta segunda-feira, 15 de junho, levou o presidente da Comissão Especial do Código Florestal, Moacir Micheletto (PMDB-PR), a suspender a sessão e convocar nova reunião para discussão e votação do relatório na segunda-feira, dia 21, às 14 horas.

A reunião começou às 9 horas, sem quórum, mas em meia hora os ruralistas conseguiram colocar na sala dez dos 18 deputados, o que garantiu o início da sessão, segundo a assessoria de imprensa do Partido Verde.

A pressão dos ruralistas para que o novo texto seja aprovado antes das eleições e a informação vazada ontem de que a bancada do agronegócio pode propor uma barganha com o governo ¬ aprovar o relatório em troca da aprovação do projeto do Pré-Sal –, deixou parlamentares e organizações socioambientalistas preocupados.

“A ofensiva deles pela votação e aprovação ainda este mês está evidente”, disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) em entrevista ao ISA. “Já marcaram na segunda-feira exatamente para a sessão rolar das duas da tarde às 10 da noite. A não ser que venha um pedido do governo para adiar ou uma pressão muito forte do movimento social”, afirmou Valente.

Logo depois do pedido de vistas, 13 organizações, entre elas o Instituto Socioambiental (ISA), encaminharam aos candidatos à Presidência da República um documento em que expõem os danos que resultarão da aprovação do relatório e solicitam deles um posicionamento conclusivo e público.

“A falta de posição pública e clara dos candidatos será interpretada como conivência diante desta ameaça, que pode comprometer por completo a política nacional de mitigação das mudanças climáticas com impactos para além do próximo mandato presidencial, afirma a carta aos candidatos. (Veja a íntegra do documento no quadro abaixo.)

“Barganha não é impossível”

O deputado Ivan Valente disse que o único temor dos ruralistas é que o governo peça à base de apoio o adiamento da votação do relatório de Aldo Rebelo. “Diante desse quadro e´que não acho impossível que eles estejam jogando com a possibilidade da barganha, utilizando-se a votação do Pré-Sal como moeda de troca nas conversas”, afirmou.

“O próprio ministério do Meio Ambiente declarou que é contrário ao relatório do Aldo. Para governo interessaria jogar isso para depois das eleições. Só assim é que se explica essa conversa da barganha, para que o governo não peça adiamento.”

Sobre o pedido das ONGs de definição dos candidatos à Presidência, ele considera correto: “Muito oportuno isso. É claro que os candidatos têm de se manifestar. É um assunto que envolve projeto de nação, modelos agrícola e agrário brasileiros, interesses econômicos muito poderosos e, sobretudo, um projeto de futuro para a Amazônia. Eles estão moralmente obrigados a se definir publicamente diante desse quadro.”

A Câmara dos Deputados criou em 2009 a Comissão Especial para propor a revisão do Código Florestal, presidida pelo deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), tendo como vice-presidente o deputado Anselmo de Jesus (PT-RO) e relator o deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP). O relatório final do deputado Aldo Rebelo foi apresentado no dia 9 de junho.

Entre vários retrocessos identificados na proposta como, por exemplo, contrariar o princípio constitucional da função social da propriedade (rural e urbana), o relatório propõe anistia nos cerrados e florestas da Amazônia a mais de 40 milhões de hectares de desmatamentos ilegais verificados depois de 1996. Essa anistia corresponde a 14,6 bilhões de toneladas de CO2 emitidas ilegalmente.

O relatório propõe ainda que cada estado brasileiro possa, a seu critério, reduzir em até 50% os limites definidos pela legislação federal nas áreas de preservação permanente, que correspondem às matas protetoras dos cursos d’água em margens de rios, lagos e nascentes. Estes mesmo espaços territoriais, não por acaso, são considerados pela Defesa Civil como áreas de risco em função dos eventos climáticos extremos, tais como cheias e trombas d’água, que já desalojaram milhares de famílias, principalmente na região Sul e Sudeste do país, nos últimos anos.

Outra medida grave proposta no relatório é a isenção da exigência de reserva legal para imóveis de até quatro módulos fiscais em todo território do país. Isso pode significar, somente na floresta Amazônica, a eliminação da reserva legal em até 70 milhões de hectares. Supondo que metade dessas áreas já esteja desmatada, ainda assim o projeto de lei retira a proteção legal de pelo menos 35 milhões de hectares de florestas.

Se aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República, estarão liberados legalmente cerca de 12,8 bilhões de toneladas de CO2 hoje estocados nas florestas da Amazônia. Isso corresponde a três vezes a meta brasileira de redução de emissões por desmatamento apresentada em dezembro de 2009 pelo Brasil em Copenhague.

A conclusão é que a proposta em debate praticamente anula os esforços da Lei de Política Nacional de Mudanças Climáticas (Lei Federal 12.187), aprovada em dezembro de 2009. A legislação estabelece uma meta nacional voluntária de redução de CO2 estimada entre 36,1% e 38,9 % das emissões projetadas até 2020, além de praticamente revogar por completo o código florestal.

Nesta terça, 15 de junho, foi concedida vista coletiva ao relatório a deputados membros da Comissão Especial do Código Florestal. O relatório será colocado em votação no próximo dia 21 de junho na comissão, onde parlamentares ruralistas têm ampla maioria.
Diante do exposto as organizações da sociedade civil abaixo signatárias solicitam um posicionamento conclusivo e público dos candidatos à Presidência da República a respeito do relatório do deputado Aldo Rebelo, antes de sua votação da Comissão Especial.

A falta de posição pública e clara dos candidatos será interpretada como conivência diante desta ameaça, que pode comprometer por completo a política nacional de mitigação das mudanças climáticas com impactos para além do próximo mandato presidencial.
Brasília, 15 de junho de 2010.

Apremavi
Fundação SOS Mata Atlântica
Grupo Ambientalista da Bahia - Gambá
Greenpeace
Grupo de Trabalho Amazônico
IMAZON
Instituto O Direito por um Planeta Verde - IDPV
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM
Instituto Socioambiental - ISA
Pesquisa e Conservação do Cerrado - Pequi
Preserve a Amazônia
Rede de Ongs da Mata Atlântica - RMA
WWF – Brasil
ISA, Julio Cezar Garcia

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ONGs contestam uso de estudo norte-americano contra Código Florestal brasileiro

23/06/2010 Onze organizações socioambientalistas brasileiras divulgaram nesta quarta-feira, 23 de junho, uma nota pública em que criticam o uso pela bancada ruralista na Câmara Federal – com a finalidade de pressionar pela alteração da legislação florestal brasileira – de um documento elaborado por entidades de agricultores norte americanos.

O estudo prevê a possibilidade de que grandes poluidores norte-americanos possam compensar suas emissões de gases do efeito estufa financiando a proteção de florestas em países tropicais. Para os deputados ruralistas brasileiros, essa proposta seria a prova de que a preservação de florestas, como defendem os ambientalistas, é uma bandeira dos concorrentes internacionais que não querem ver a expansão das áreas de agricultura do Brasil.

“Com isso, querem justificar a necessidade de aprovação de um projeto de lei que altera dramaticamente a legislação florestal brasileira”, afirma a nota divulgada pelas organizações, entre as quais se inclui o ISA.

As ONGs contestam as conclusões do estudo e o uso dele para justificar mudanças no código.
Nota pública:

Código Florestal, desmatamento zero e competitividade agrícola

Recentemente lançado nos Estados Unidos, o estudo “Fazendas aqui, florestas lá”, patrocinado pela organização National Farmers Union (União Nacional de Fazendeiros), principal sindicato rural norte-americano, e apoiado pela Avoided Deforestation Partners (Parceiros pelo Desmatamento Evitado) – uma aliança informal de pessoas e organizações que defendem o fim do desmatamento no mundo – foi feito para promover a aprovação da lei de mudanças climáticas, em tramitação no Senado americano.

Um dos dispositivos desse projeto de lei prevê a possibilidade de que grandes poluidores norte-americanos possam compensar suas emissões de gases do efeito estufa financiando a proteção de florestas em países tropicais. É o caso da Indonésia e do Brasil, onde o desmatamento torna esses dois países o terceiro e o quarto maiores poluidores do clima no planeta, respectivamente.

Elaborado com a intenção de convencer parte da bancada republicana – contrária à lei – a mudar de posição, sobretudo a pertencente a estados com grande produção agropecuária, o estudo defende que o investimento em mecanismos de desmatamento evitado em países tropicais elevaria os ganhos da agricultura norte-americana, não só diminuindo os custos com a mudança de tecnologia para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, mas, sobretudo, afastando a competição de produtores rurais desses países, que hoje competem diretamente com os americanos pelos mercados de commodities agrícolas. Segundo o estudo, os ganhos poderiam alcançar US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030 só com a diminuição da competição dos países tropicais.

Em função dessa conclusão infundada, esse estudo vem sendo usado, nos últimos dias, por diversos parlamentares e lideranças ruralistas brasileiros para defender a tese de que a proteção de florestas no Brasil é algo que contrariaria o interesse nacional. Com isso, querem justificar a necessidade de aprovação de um projeto de lei que altera dramaticamente a legislação florestal brasileira. Nessa história, no entanto, estão enganados os ruralistas norte-americanos e os brasileiros.

Em primeiro lugar, o estudo, que desconhece a realidade brasileira, é equivocado ao assumir que o fim do desmatamento por aqui significaria paralisar a expansão da produção de commodities agrícolas a preços competitivos. Segundo dados da Universidade de São Paulo/Esalq, temos pelo menos 61 milhões de hectares de terras de elevado potencial agrícola hoje ocupadas por pecuária de baixa produtividade e que podem ser rapidamente convertidas em áreas de expansão agrícola.

Com o fim da expansão horizontal da fronteira agrícola, há forte tendência de valorização da terra e de substituição dos sistemas de produção agropecuária de baixa produtividade (que garimpam os nutrientes e degradam o meio ambiente) por sistemas de produção mais intensivos e com maior produtividade. Estudos da Embrapa mostram que há um cenário ganha-ganha quando se incorpora tecnologias (recuperação de áreas de pastagens degradadas, agricultura com plantio direto, sistemas integrados de lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta) nas áreas atualmente ocupadas com agricultura e pecuária, aumentando a produção, reduzindo custos e emissões de gases do efeito estufa.

No caso do Brasil, onde 4/5 das terras agricultáveis são ocupadas por pastagens, tais ganhos são especialmente expressivos - de forma que poderíamos dobrar nossa produção de alimentos sem ter que derrubar novas áreas de floresta e ainda recuperando aquelas áreas onde o reflorestamento se faz necessário por seu potencial de prover serviços ecossistêmicos.

Portanto, o aumento da produção agrícola não passa necessariamente pelo aumento ou continuidade do desmatamento, como quer fazer crer o estudo norte-americano. Os produtores competitivos não são os que usam métodos do século XVIII, grilando terras públicas, desmatando e usando mão de obra escrava e sonegando impostos. Pelo contrário, são os que investem em tecnologia e mão de obra qualificada para o bom aproveitamento de terras com infraestrutura adequada. Por essa razão até mesmo a Confederação Nacional da Agricultura – CNA, afirma que não é mais necessário desmatar para aumentar e fortalecera produção agropecuária brasileira.

Não devemos esquecer que a preservação e a recuperação de florestas no Brasil interessam, antes de tudo, a nós mesmos. O fornecimento de produtos florestais, a regulação das águas e do clima, a manutenção da biodiversidade, são todos serviços ambientais prestados exclusivamente pelas florestas e indispensáveis à sustentação da agropecuária nacional.

Frente a isso, repudiamos não só as conclusões do estudo norte-americano, como a tentativa de usá-lo para legitimar propostas que, essas sim, atentam contra o interesse nacional, ao permitir o desmate de mais de 80 milhões de hectares e a anistia definitiva para aqueles já ocorridos, o que coloca em cheque a possibilidade de cumprirmos com as metas assumidas de redução de emissões de gases de efeito estufa e recuperar a oferta de serviços ambientais em regiões hoje totalmente desreguladas, algumas inclusive em desertificação.

Aumentar a produção agropecuária com base no desmatamento de novas áreas é uma lógica com data marcada para acabar, tão logo os recursos naturais se esgotem e o clima se modifique. Não podemos, nesse momento em que o Código Florestal pode vir a ser desfigurado pela bancada ruralista do Congresso Nacional, nos desviar da discussão que realmente interessa ao país, que é saber se precisamos ou não das florestas para o nosso próprio bem-estar e desenvolvimento.
ISA, Julio Cezar Garcia


 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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