29/06/2010 - 11:11
O Brasil precisa aumentar
o número de pesquisadores que atuam em modelagem
climática. Essa é a opinião
de Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe/MCT), em São José
dos Campos (SP), que considera esse o maior desafio
para que o País continue crescendo na área.
Nobre, que também é
coordenador executivo do Programa da Fundação
de Apoio à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp) de Pesquisa sobre Mudanças
Climáticas Globais e membro do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização
das Nações Unidas (ONU), falou sobre
os desafios e obstáculos para o desenvolvimento
de modelos climáticos no País no Faculty
Summit 2010 América Latina, evento promovido
em maio, no Guarujá (SP).
Ele destacou a complexidade das
pesquisas climáticas, que envolvem variadas
áreas do conhecimento – como física,
química, biologia e hidrologia –, além
de detalhes como influências do solo, da vegetação,
dos oceanos e da própria atmosfera, entre
outros.
“Desenvolver um modelo computacional
para simulações climáticas
que considere cenários futuros e projeções
para vários anos é uma tarefa muito
complexa. Envolve uma imensa quantidade de variáveis
e depende de capacidade de processamento igualmente
grande”, disse Nobre.
Diante desses desafios, por que
o Brasil decidiu desenvolver um modelo próprio,
quando há muitos já prontos em outros
países? “O primeiro motivo é que precisamos
desenvolver a capacidade do País nessa área”,
destacou.
Segundo Nobre, formar novas gerações
de pesquisadores em clima e ter autonomia nessa
área é estratégico para um
País que baseia boa parte de sua economia
em agricultura e lidera a produção
de bioenergia, com destaque para o etanol da cana-de-açúcar.
Outro motivo é se manter na vanguarda da
modelização do clima. “Precisamos
desenvolver também as novas gerações
de modelos climáticos”, apontou.
A autonomia brasileira na área
também beneficia outros países, especialmente
os latino-americanos vizinhos, que partilham de
sistemas climáticos próximos. A troca
de informações seria útil também
para nações africanas. Esses fatos
justificariam a defesa de um aumento na colaboração
entre pesquisadores do “Sul”, incluindo a Índia.
No entanto, o desenvolvimento
nacional na modelagem climática está
limitado ao número de pesquisadores que se
dedicam à área. Hoje, o País
tem pouco mais de 50 profissionais especializados
na construção de modelos climáticos.
“O que temos hoje é uma
massa crítica mínima. Queremos triplicar
esse número dentro de 10 anos”, disse Nobre.
O pesquisador indica que deveremos dobrar esse número
dentro dos próximos cinco anos. Outros centros
avançados de modelagem climática de
países desenvolvidos em pesquisa em clima
têm um mínimo de 150 especialistas,
número que esse esforço nacional em
modelagem climática pretende alcançar
por volta de 2020.
Supercomputador climático
Com exceção do número
de pesquisadores, o Brasil já tem fatores
que o colocam em um lugar privilegiado na pesquisa
climática. “Temos quase 20 anos de experiência
no assunto, nossos modelos produzem previsões
de tempo e da tendência climática sazonal
com bons índices de acerto, e agora temos
também infraestrutura computacional”, disse
Nobre.
O pesquisador se refere ao supercomputador
recém-adquirido pelo Inpe, que tem velocidade
efetiva de 15 teraflops na aplicação
de modelagem e que deve entrar em operação
até o fim do ano.
Nobre explica que a modelagem
climática envolve milhares de variáveis
– simulações repetidas que podem chegar,
cumulativamente, a centenas de milhares de anos
–, considera diferentes cenários e ainda
deve apresentar boa resolução. Todos
esses fatores exigem uma alta capacidade de processamento,
um trabalho que só é possível
para os supercomputadores.
O novo sistema de supercomputação
custou R$ 50 milhões, sendo R$ 15 milhões
da Fapesp e R$ 35 milhões do Ministério
da Ciência e da Tecnologia (MCT), por meio
da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT).
“Esse computador está entre os cinco maiores
do mundo voltados à modelagem climática”,
informou Nobre.
Com a infraestrutura adequada,
o Inpe pretende desenvolver nos próximos
anos modelos climáticos de quinta geração,
que integram ainda mais processos relevantes ao
clima e que são, por conta disso, muito mais
complexos.
Com informações da Agência Fapesp