Notícia - 5 jun 2010
Ativistas do Greenpeace tentam liberar peixes ameaçados
de extinção de rede no Mediterrâneo
e são atacados por pescadores armados
com ganchos, arpões e rojões.
Numa manhã no início
desta semana, o coordenador de ações
parou do lado da mesa do brasileiro João
Talocchi no escritório do Greenpeace Internacional,
em Amsterdam, e perguntou se ele poderia ir para
Malta à noite, para se juntar à tripulação
do navio Arctic Sunrise e participar das ações
da campanha de oceanos.
Ele aceitou e 12 horas mais tarde
pousou em Malta, sem sabe direito o que o aguardava.
Hoje, 4 de junho, João descobriu que havia
sido chamado para um embate com a turma que pesca
atum azul, uma espécie à beira da
extinção, no Mediterrâneo. Foi
uma dura refrega. Eis o seu relato.
Uma cavalaria. Eram seis botes
do Greenpeace, navegando juntos e rápido,
em direção aos navios de pesca. Na
popa de cada um deles, tremulava um banner com mensagens
contra a extinção do atum azul. Estão
escritas em três línguas. Queremos
que todos saibam por que estamos aqui.
Nos barcos, quase 20 ativistas
vestidos com macacões laranjas, capacetes,
óculos de proteção e coletes
salva-vidas. A bordo, levamos sacos de areia e escudos
feitos de compensado de madeira. Nós sabíamos
que a recepção não seria das
melhores.
O objetivo da ação
era afundar uma parte da rede de pesca com os sacos
de areia, para que os atuns pudessem fugir. À
medida que chegamos perto, percebi que não
ia ser nada fácil. Eram 7 navios de pesca
(grandes) e mais de 10 barcos pequenos amarrados
na rede, para mantê-la aberta. As embarcações
são francesas, mas os pescadores vêm
de diversas regiões do planeta, movidos pela
ganância. Um atum azul já foi vendido
no Japão por mais de 100 mil euros. Cheia,
uma rede pode valer até 1 milhão de
euros.
Eu estava no maior barco, o Delta.
Tudo o que aconteceu a partir daqui ainda passa
na minha cabeça como se fosse um filme. Mas
foi real. (Mãe, se você estiver lendo,
recomendo parar por aqui).
Foram menos de três minutos
de navegação até a rede, com
a água do mar borrifando na nossa cara. Através
da lente gotejada dos óculos de proteção
tudo o que eu conseguia ver eram os barcos dos pescadores
e os pescadores, que gritavam em várias línguas
coisas que eu não posso escrever.
Em uma manobra rápida,
John, piloto do barco, encontrou uma brecha e nos
colocou bem na beirada da rede, entre dois barcos
dos pescadores. A rede devia ter uns 100 metros
de diâmetro e bóias circulando a sua
volta. Comecei a jogar os sacos de areia com a ajuda
do Marcelo, médico e ativista. Cada um deles
pesava em torno de 20 quilos e eles estavam unidos
uns aos outros por um pedaço de corda. Em
dois ou três minutos conseguimos jogar seis
ou sete pares sobre as bóias, enquanto nos
equilibrávamos no barco. Já dava para
ver que um pedaço da rede ia afundar e que
alguns dos nossos outros barcos estavam fazendo
o mesmo, em vários lugares. Mas a felicidade
durou pouco.
De repente o barco começou
se mexer rápido. John tentava evitar que
um dos barcos dos pescadores passasse por cima da
gente. Me segurei no que deu e, quando fiquei em
pé de novo, vi que eles não estavam
muito felizes com a nossa presença. Os caras
estavam armados com arpões e ganchos afiados
e não pensam duas vezes antes de tentar furar
o barco. Conseguimos fugir, navegando rápido
para dentro da rede, já que nosso bote era
movido a jato propulsão, o que evitava que
as hélices ficassem presas.
Infelizmente, nem todos tiveram
a mesma sorte.
Quando navegamos para fora da
rede e ao redor dos pescadores, estava tudo meio
caótico. Dois dos nossos barcos estavam presos
na rede e sendo atacados pelos arpões. Já
dava para perceber que um deles ia afundar. Os outros
barcos desviavam dos pescadores e tentavam ajudar
quem precisava. Nessa hora, nós fomos em
direção ao “gray whale”, mas estava
impossível chegar perto. Tudo o que podíamos
fazer era olhar um dos navios esmagando o bote contra
outro barco de pesca. As duas bananas já
estavam murchas e, com a hélice presa, não
havia muito o que os quatro ativistas podiam fazer
a não ser tentar se defender.
Da popa do navios que acabou de
esmagá-los vi um mergulhador que parecia
que ia pular em cima deles. Ele pulou, mas caiu
na água e começou a cortas os sacos
de areia e, depois, o que restou do inflável.
Agora, eles estavam afundando bem rápido.
Para completar o cenário surreal, a tripulação
do navio começou a jogar cebolas nos ativistas.
Algumas delas os acertam, mas eles tinham os capacetes
e escudos. (Franceses jogando cebolas… meio estereótipo…
só faltou jogarem croissants…)
Circulamos por trás de
um dos navios para tentar ajudá-los e nos
deparamos com outro, vindo direto para cima da gente.
Os pescadores estavam loucos! John virou o barco
e desviou. Nessas horas é bom ser menor e
mais ágil. Mas outro barco deles começou
a nos perseguir e novamente tivemos de abortar o
plano de ajudar o pessoal do outro bote.
Nesse momento o helicóptero
com nosso fotógrafo chegou, mas ele também
não foi muito bem recebido. De um dos navios
os pescadores atiraram com o sinalizador, que é
um tipo de rojão. O tiro passou perto, mas
não acertou. Eles atiraram de novo, mas passou
longe. Só que, quando olhamos para o navio,
deu para ver que dessa vez a pistola do sinalizador
não estava mais mirando para cima e sim para
nós. Deu tempo de abaixar e nos proteger
com o “escudo” antes de ouvir o zunido do sinalizador
passando há alguns metros das nossas cabeças.
Nós jogamos sacos de areia na rede e eles
atiram bolas de fogo na gente.
Foram dois tiros, mas nenhum acertou.
Quando eles pararam, deu para ver que os ativistas
de um dos botes presos já haviam pulado na
água e nadado para outro inflável,
que os levou embora. Os pescadores já tinham
até dominado o bote e o levavam para um dos
navios.
Felizmente, a partir daí
as coisas começaram a ficar um pouco menos
piores. Todos os nossos barcos já haviam
parado de tentar afundar a rede e os que estavam
afundando pelo menos não eram mais tão
atacados. Conseguimos (finalmente!) ir até
um deles, que estava sendo puxado para fora da rede
por um dos barcos de pesca. As pessoas estavam penduradas
no que restava do bote e passaram para o nosso barco
alguns segundos antes da embarcação
afundar. E lá se foi um dos botes que mais
fez ações pelo Greenpeace – mas foi
com dignidade, lutando até o fim. Obviamente,
enquanto puxávamos as pessoas para dentro,
um pescador tentava furar o nosso barco com um gancho
e os outros continuavam a gritar coisas que não
pareciam elogios.
Contamos todas as pessoas e voltamos
para o Arctic. Quando chegamos descobrimos que um
dos ativistas havia sido machucado pelos pescadores.
Um gancho que foi lançado para dentro do
bote perfurou a batata da perna dele, mas por sorte
não pegou nenhuma artéria ou tendão.
O detalhe é que os pescadores malucos continuaram
a puxar o cabo que estava preso ao gancho, mesmo
vendo o que tinha acontecido. Ele foi levado para
Malta no helicóptero e está no hospital,
bem.
Foi triste ver a violência
com que nosso protesto foi recebido e a ganância
que move aqueles pescadores, que não estão
ali fazendo uma pesca sustentável e artesanal.
Eles estão ali para encher o bolso de dinheiro
de alguns poucos que querem encher a barriga de
atum azul e para isso quase já dizimaram
a espécie inteira.
O Greenpeace luta para que o atum
azul seja incluído na lista das espécies
em extinção, para que a pesca dessa
espécie seja proibida e para que sejam criadas
áreas marinhas onde eles possam se reproduzir,
em um ambiente saudável. Afinal, o que vale
mais: oceanos saudáveis ou mercados cheio
de atuns azuis no Japão?
+ Mais
JBS fora do TAC no MT
Notícia - 2 jun 2010
O Ministério Público Federal no Mato
Grosso anunciou que, depois de 7 meses de negociações
com os grandes frigoríficos que operam no
estado, conseguiu que um deles, o Marfrig, assinasse
um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) semelhante ao
que foi assinado pelas empresas processadoras de
carne no Pará. A JBS, detentora das maiores
operações de abate em território
matogrossense, gastou saliva conversando com os
procuradores federais mas, pelo menos até
agora, não não assinou o TAC.
“A exemplo do que aconteceu no Pará, o TAC
proposto pelo MPF no Mato Grosso é uma tentativa
de ordenar o mercado de abate e processamento de
carne no estado”, diz Marcio Astrini, da Campanha
Amazônia do Greenpeace. “E ele vem em boa
hora, porque serve como estímulo aos frigoríficos
para perpetuarem seu negócio. Os consumidores
no Brasil e no exterior já deram sinais claros
de que não toleraram comprar derivados bovinos
envolvidos com o trabalho escravo e o desmatamento”.
Com a assinatura do TAC, a Marfrig
se compromete imediatamente a não comprar
mais animais para abate criados em fazendas embargadas
pelo Ibama ou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente,
ou que estejam na lista suja do trabalho escravo
ou instaladas em área de Terras Indígenas
ou unidades de conservação. E a partir
de 13 de novembro deste ano, a empresa não
terá mais entre seus fornecedores fazendas
que não tenham aderido ao programa de regularização
ambiental do governo do Mato Grosso e que não
apresentem seu Cadastros Ambientais Rurais (CAR).
Em nota, o MPF de Mato Grosso
explica que vai agora dirigir suas negociações
em torno da assinatura do TAC para os pequenos frigoríficos.
E avisa que quem não o assinou ou não
o assinar está, a partir de agora, vulnerável
à ações judiciais.