Fruto de parceria entre
a Conservação Internacional e a Scientific
American Brasil, edição especial lançada
hoje comemora o Ano Internacional da Biodiversidade
Belo Horizonte, 04 de junho de
2010 — A proeminência da biodiversidade no
Brasil, sua importância, situação
de conservação, principais ameaças,
desafios e os serviços ambientais que dela
derivam. Sob o ponto de vista de 38 especialistas,
esses são temas centrais desvendados na nova
edição especial da revista Scientific
American Brasil sobre Biodiversidade. A publicação
é fruto de uma parceria entre a revista e
a Conservação Internacional (CI-Brasil)
em comemoração ao Ano Internacional
da Biodiversidade e estará disponível
nas bancas em todo o país a partir de hoje.
Em 13 artigos, cientistas analisam
a crise da biodiversidade, a situação
e o risco de extinção da fauna e da
flora, refletem sobre o arcabouço legal,
os esforços e os desafios para a conservação
no Brasil, analisam o papel das áreas protegidas,
indicam o estado atual dos biomas do país
(incluindo os ecossistemas marinhos) e as principais
ameaças e iniciativas pela sua proteção,
chamam a atenção para a importância
despercebida dos micro-organismos e ainda abordam
temas críticos e correlatos como mudanças
climáticas, desmatamento, obras de infraestrutura
e negócios sustentáveis.
Os autores são profissionais
atuantes na academia, no terceiro setor e no governo,
em diferentes regiões do país. Dentre
eles, 12 são do quadro da Conservação
Internacional.
Crise da biodiversidade - Para
o editor-chefe da Scientific American Brasil, Ulisses
Capozzoli, neste Ano Internacional da Biodiversidade,
que no próximo dia 5 de junho se superpõe
ao Dia Mundial do Meio Ambiente, torna-se imprescindível
uma reflexão sobre a vida no planeta. “Essas
datas nos trazem várias questões:
como assegurar a manutenção da vida
que povoa a Terra? Como amenizar a velocidade de
extermínio de formas vivas que sequer conhecemos?
Como garantir o fluxo tão antigo quanto a
vida da água potável? Como integrar
uma consciência social mais ampla, onde o
comprometimento da dignidade de tudo o que vive
– vegetais, animais e humanos – seja identificado
e rejeitado como indevido?”. Capozzoli explica que,
infelizmente, uma parcela significativa da humanidade
não atenta para essas questões. “Por
isso, dedicamos essa edição especial
à biodiversidade, com a intenção
de partilhar o conhecimento e também a preocupação
em relação a esse tema de fundamental
importância para nossa própria sobrevivência”,
conclui.
Na avaliação de
Fábio Scarano, diretor executivo da Conservação
Internacional, a combinação de consumo
insustentável nos países desenvolvidos,
com a persistência da pobreza nos países
em desenvolvimento, tem resultado em taxas de destruição
do mundo natural sem precedentes na história
do planeta. “Estamos vivendo uma crise da biodiversidade.
Áreas silvestres são substituídas
pela expansão agrícola, urbanização
e desenvolvimento industrial, enquanto muitas espécies
estão sujeitas à sobre-explotação,
ao impacto de espécies invasoras ou mesmo
aos riscos decorrentes da poluição
química de solo, ar e água. Como se
não bastasse, a biodiversidade se vê
também ameaçada pelas mudanças
do clima, cujos efeitos podem levar ao deslocamento
geográfico de espécies e biomas inteiros,
ou mesmo extinções em massa”, explica
Scarano. A saída para essa crise, segundo
ele, deve perpassar a complexidade dos fatores sociais,
econômicos e ambientais que impactam e são
diretamente atingidos pela biodiversidade. “Temos
que contrapor a noção vigente de que
a natureza é um obstáculo ao desenvolvimento.
Esses dois lados começam a reconhecer que
precisam dialogar, pois sustentabilidade - palavra-chave
quando se pensa em modelos alternativos de desenvolvimento
-, demanda conciliação entre conservação,
produção e bem-estar humano”, esclarece.
O protagonismo do Brasil megadiverso
– Campeão absoluto de biodiversidade terrestre,
o Brasil encabeça a lista dos países
megadiversos, ou seja, as 17 nações
que, em conjunto, abrigam cerca de 70% das espécies
animais e vegetais do planeta. Sendo assim, quando
o assunto é biodiversidade e os serviços
ambientais a ela associados, não há
outro papel possível para o Brasil que não
o de assumir a liderança em uso sustentável
e conservação e dar bons exemplos
para o mundo.
“O país tem cerca de 10%
das espécies do planeta, 14% da água
potável e renovável do mundo, é
um celeiro de produção de alimentos
e possui amplos estoques de carbono florestal. Por
outro lado, 55% do território nacional já
sofreu algum tipo de alteração pelo
homem, que nitidamente não se reverteu para
o bem-estar do povo brasileiro, uma vez que o Brasil
ostenta ainda um índice de desenvolvimento
humano baixo para um país com a pujança
econômica que tem, e uma péssima distribuição
de renda. O desafio deste século é
fazer com que nosso fantástico capital natural
possa se reverter em benefício para as pessoas
e efetivamente melhorar a qualidade de vida da população”,
analisa o diretor-executivo da CI-Brasil.
Otimismo cauteloso - Para além
das ameaças, dos impactos e das lacunas de
conhecimento, os artigos também apontam soluções
e oportunidades. Alguns autores destacam a importância
de se transferir os resultados científicos
para a esfera das políticas públicas,
de forma que os processos decisórios venham
favorecer a sustentabilidade ambiental e econômica
e não ganhos no curto prazo.
Já começam a surgir
no país exemplos de práticas que sinalizam
que o jogo pode virar a favor da biodiversidade.
“De um lado, onde há pouca economia e muito
verde, como na região Amazônica, a
qualidade de vida das pessoas tem começado
a melhorar por conta da criação de
mercados para produtos de origem natural. De outro,
onde há pouco verde e muita economia, como
no sudeste do Brasil, já existem grandes
esforços para restauração da
floresta atlântica, tanto para proteger corpos
hídricos e cumprir determinações
legais, como para investir em uma economia de carbono”,
aponta Scarano.
Sobre a CI-Brasil
A Conservação Internacional foi fundada
em 1987 com o objetivo de promover o bem-estar humano
fortalecendo a sociedade no cuidado responsável
e sustentável para com a natureza – nossa
biodiversidade global -, amparada em uma base sólida
de ciência, parcerias e experiências
de campo. A Conservação Internacional
está presente em 43 países e no Brasil
tem sede em Belo Horizonte (MG). Outros escritórios
estão estrategicamente localizados em Brasília
(DF), Belém (PA), Salvador (BA) e Caravelas
(BA). Para mais informações, visite
www.conservacao.org.