Panorama
 
 
 

FUTURO DAS FLORESTAS COM O PSDB

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Julho de 2010

PT de Dilma anuncia voto contrário ao relatório de Aldo; destino das florestas brasileiras está nas mãos do PSDB de Serra

Depois de um dia de tensos debates num plenário apinhado de ruralistas e integrantes de movimentos sociais, a comissão especial da Câmara dos Deputados que debate mudanças no Código Florestal transferiu para a terça-feira a decisão sobre o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Com o PT assumindo finalmente posição contra o relatório – que já foi condenado pelo PV e pelo PSOL, também integrantes da comissão - o voto decisivo está nas mãos do PSDB.

O partido do ex-governador José Serra, candidato à Presidência da República, substituiu nas vésperas da votação do relatório de Aldo o deputado Roberto Trípoli (PSDB-SP) - contrário ao texto - pelo deputado Mendes Thame (PSDB-SP), impossibilitado de participar por motivo de saúde. Seu lugar foi ocupado pelo tucano Duarte Nogueira (PSDB-SP), que hoje defendeu as mudanças de Aldo que destroem medidas de proteção ambiental constantes da versão atual do Código Florestal, legado do governo FHC.

Na sessão de ontem, os três deputados do PT membros da comissão foram instruídos pela liderança do partido a rejeitar o relatório. As legendas PV e PSOL já têm posição clara contra a proposta de Aldo e dois deputados ruralistas, ambos do PMDB, decidiram encaminhar voto em separado, insatisfeitos com o teor da proposta do relator.

Amanhã, um dia que promete ser agitado, a decisão sobre o futuro das florestas brasileiras parece repousar no que fará o partido de Serra, candidato que pretende contar com os votos verdes da candidata Marina Silva em um eventual segundo turno.

Agricultura familiar condena Aldo
Aldo Rebelo apresentou hoje um documento de 49 páginas em forma de planilha com mudanças no seu próprio relatório. As propostas não conseguiram agradar aos ambientalistas e foram rejeitadas pelos representantes de dezenas de movimentos sociais, dentre os quais a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros. Estas entidades apresentaram manifesto contra o relatório de Aldo, lido em plenário pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), e que foi apoiado por vários intelectuais brasileiros.

Por outro lado, o deputado do PC do B ouviu as primeiras reclamações de ruralistas, que até agora eram seus aliados incondicionais. O nervosismo do relator Aldo era visível ao longo do dia. Não é à toa: ao mexer com o destino das florestas, e se afastar de sua base tradicional de apoio no setor social, ele colocou seu próprio futuro político em jogo.

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Ruralistas rifam florestas por eleição

Protesto do Greenpeace em Brasília expõe bancada da motosserra, que aprovou reforma de Código Florestal que anistia crimes ambientais e aumenta desmatamento.

Ativistas do Greenpeace ligaram sirenes hoje na Câmara dos Deputados para alertar os eleitores brasileiros que um grupo de políticos em fim de mandato quer usar as eleições como combustível para acabar com as florestas do país.

O protesto interrompeu a votação da comissão especial que discute o Código Florestal, com a mensagem "Não vote em quem mata florestas". Apesar da natureza pacífica da ação, três ativistas foram agredidas física e verbalmente pela segurança da casa.

Aumento do desmatamento é o que vai resultar da aprovação, por uma comissão apinhada de ruralistas em fim de mandato, da proposta do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O relatório de Aldo Rebelo perdoa quem já cometeu crime ambiental e abre possibilidade de redução dramática da reserva legal, área dentro de cada propriedade que deve ser mantida.

"A proposta votada na comissão especial é o maior retrocesso que nossa lei de florestas já sofreu. Além de dar um sinal verde para mais destruição, com uma anistia ampla a quem desmatou ilegalmente e cometeu crimes ambientais nas últimas décadas, a proposta de mudança permite o uso político do Código Florestal na barganha da campanha eleitoral", diz Rafael Cruz, coordenador de campanha do Greenpeace.

Modificações de última hora apresentadas pelo próprio deputado – após receber críticas de organizações do campo, ambientalistas, parlamentares e partidos que acompanham a matéria, além de parte do Ministério do Meio Ambiente – não são suficientes para impedir o estrago que a proposta pode causar à biodiversidade brasileira.

Um exemplo claro toca as áreas de preservação permanente. Antes Aldo tinha deixado seu desenho nas mãos de governos estaduais, mais suscetíveis a pressões. Isso ele mudou, mas na prática a teoria é outra: agora, quando o órgão estadual achar que há interesse público ou impacto ambiental baixo, pode liberar o desmatamento ali.

O texto agora segue para o plenário da Câmara, onde valem pressões e negociatas políticas. Para Cruz, a preservação das florestas brasileiras, um patrimônio de todos os brasileiros, poderá ser barganhada por votos durante a campanha eleitoral. “Isto não reflete a vontade da sociedade brasileira nem as necessidades de preservação da biodiversidade e do clima em todo o mundo”, diz.

O melhor exemplo de que as verdadeiras intenções dos deputados é usar o Código Florestal como mera moeda em ano eleitoral vem do próprio agronegócio. Na mesma semana que o texto de Aldo Rebelo é aprovado por políticos ruralistas, as empresas comercializadoras de soja renovarão o acordo que fecha as portas do mercado para fazendeiros que desmataram áreas da Amazônia após 2006. Exemplo similar de responsabilidade corporativa está sendo adotado por grandes frigoríficos brasileiros, que também assumiram compromissos contra o desmatamento.

"Os responsáveis por duas das principais commodities brasileiras compreendem que o mercado moderno não quer produtos manchados pela destruição ambiental. Enquanto eles investem no Brasil do futuro, os políticos da motosserra na mão olham apenas para o passado", diz Paulo Adario, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace.

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Um respiro para as florestas

O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta-feira, por maioria, uma lei que proíbe a importação de madeira ilegal por um dos maiores mercados do mundo. A cada ano, a Europa consome enormes volumes de madeira ilegal, grande parte vindo de países e regiões onde a governança ainda é fraca. Na Amazônia brasileira, a atuação irregular de madeireiras já provocou muita devastação e conflitos de terras.

“O Greenpeace vai ficar de olho para garantir a eficácia da lei e que as empresas estejam cumprindo suas obrigações”, diz Sébastien Risso, diretor da campanha de florestas do Greenpeace da União Europeia. “Mas a lei sozinha não basta para impedir o impacto da UE nas matas do mundo. Se não houver um investimento forte em mecanismos que protejam as florestas tropicais, em breve elas irão desaparecer”.

Pioneira no continente, a legislação começa a valer dentro de dois anos. A nova regra fecha as portas dos países do bloco europeu para o comércio de madeira e de produtos derivados dessa matéria-prima. Agora, quem importar vai ter que comprovar sua origem legal, informando aos governos os caminhos do produto até o fim da linha. Os que insistirem em permanecer à margem da lei poderão levar multas proporcionais à devastação que causaram.

Nos últimos dez anos, o Greenpeace trabalhou duro para eliminar a extração ilegal de madeira nas florestas ao redor do mundo. Em diversas ações, ativistas arriscaram suas vidas bloqueando portos e navios carregados de madeira cortada irregularmente, expondo criminosos e puxando governos a aumentar sua presença nessas regiões. A aprovação da lei, portanto, é uma vitória significativa.

“Zona” portuária

Sem respeitar a legislação, há dez anos a Cargill construía um terminal de grãos no Porto de Santarém. Os impactos continuam sem solução.

“A harmonia aqui era bem maior”, diz Raimundo de Lima Mesquita, lembrando de sua vida em Santarém, oeste do Pará, dez anos antes. Presidente do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município (STTR), Peba, como é conhecido, viveu na pele as mudanças no campo: companheiros de roçado deixaram suas terras, igarapés secaram e foram envenenados, a grilagem correu solta e a produção caiu. “A Cargill chegou de forma desordenada, arbitrária, como se aqui fosse terra de ninguém”.

A ferida aberta nos arredores de Santarém com a chegada da Cargill, gigante do setor agroindustrial, ainda não estancou. Era ano 2000 quando a multinacional anunciou que construiria um terminal de grãos no Porto de Santarém. Num processo atropelado, três anos depois o terminal estava de pé, cheio de irregularidades e sem que o Estudo de Impactos Ambientais (EIA) fosse feito. O documento, que prevê a viabilidade socioambiental do projeto, é regra legal básica para que um empreendimento desse porte saia do papel.

“Esse terminal é um absurdo jurídico. É a primeira vez no Brasil que um EIA é produzido depois da obra pronta”, critica o procurador federal Felício Pontes Jr., do Ministério Público do Pará. “Ele não poderia estar operando”. Depois de um emaranhado de recursos e liminares, em 2007 a Justiça obrigou a Cargill a produzir o documento. Ele está pronto, e será discutido em audiência pública no próximo dia 14, quarta-feira.

Mas segundo uma análise técnica feita pelo MP em cima do estudo, o problema está longe de ser resolvido: “O EIA não aborda as verdadeiras soluções e, principalmente, não aborda com profundidade as mitigações que devem diminuir os impactos locais do projeto”, pontua Felício.

Os impactos, aliás, não são poucos. Com capacidade para 60 mil toneladas de grãos, o terminal trouxe para a região uma verdadeira corrida por território para o plantio de soja. “Terra virou uma mercadoria caríssima. Os sojicultores chegavam, ofereciam dinheiro e compravam nossas terras”, recorda Peba, para completar: “Os conflitos fundiários vieram junto. Teve grilagem, intimidações, ameaças de morte, redução da população nas comunidades e até a extinção de algumas delas”.

A percepção de Peba não está errada. Dados da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Finanças (Sepof) mostram que, entre 2000 e 2007, enquanto a população urbana de Santarém cresceu 30%, a rural caiu em mais de 58%, aumentando a concentração de terras e inchando a periferia da cidade.

A produção local também mudou, com a monocultura varrendo o município. Arroz, feijão, milho e outras culturas cultivadas por agricultores familiares deram lugar à soja. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra de 1998/1999, o grão não ocupava mais que 1,6 mil hectare no estado. Foi o terminal ficar pronto e a safra 2003/2004 já tomava mais de 35 mil hectares. “Produzíamos bem. Agora, onde colhíamos 50 sacos de arroz, colhemos oito, cinco. Não dá para competir com quem trabalha com tecnologia”, afirma o presidente do STTR.

Vem mais por aí

Com o terminal da Cargill em operação e a expansão da soja pela região, o desmatamento subiu junto. As derrubadas só tiveram freio a partir de 2006, e um dos fatores que contribuiu para isso foi a Moratória da Soja. O compromisso foi assumido pela Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), além de suas associadas, dentre elas a Cargill. Segundo o acordo, nenhuma soja plantada em área desmatada depois dessa data poderia ser comercializada.

Apesar de a devastação ter diminuído, os impactos a que Peba se refere continuam sem soluções. E podem ser até mesmo agravados, caso os erros do passado se repitam. Enquanto os pequenos agricultores ainda buscam se recuperar do baque da soja, a Cargill já anuncia seu plano de expandir o terminal com outro armazém de 30 mil toneladas de capacidade. O maior produtor de soja do Brasil, Eraí Maggi Scheffer, também já anunciou que em 2011 abre um novo terminal de grãos no Porto de Santarém, com a promessa de escoar três milhões de toneladas por ano.

Portanto, a hora é de alerta. “O terminal da Cargill é um marco da expansão do agronegócio na Amazônia, e mostra como a falta de mecanismos de governança pode ter impactos que, ao contrário dos lucros, não são absorvidos pelos empreendedores, mas por toda a sociedade”, diz Raquel Carvalho, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.


 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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