Com a perspectiva, ainda
não confirmada, de que finalmente o vazamento
de petróleo no Golfo do México tenha
sido estancado, é chegada a hora de contabilizar
prejuízos. O Artic Sunrise, um dos navios
do Greenpeace, chega aos Estados Unidos, onde passará
os próximos meses investigando e documentando
os impactos do maior acidente ambiental da história
do país.
A bordo do navio, pesquisadores
vão monitorar as consequências do vazamento
para peixes, algas, baleias, recifes, tartarugas
e aves marinhas da região do Golfo. Os cientistas
usarão esponjas - organismos marinhos que
vivem de filtrar a água, como indicadores
da qualidade do mar e realizarão pesquisa
com animais encontrados mortos, ou sobreviventes
contaminados pela mancha negra.
No Golfo do México, a expectativa
quanto ao fechamento do buraco é digna de
filmes de suspense. Após três meses
e cerca de 60 mil galões – o equivalente
a 10 milhões de litros – de vazamento de
óleo por dia, a BP garante ter fechado a
tampa do buraco usando uma espécie de rolha,
embora as incertezas sobre se o equipamento será
suficiente para conter a pressão do buraco
possam levar à sua retirada. O governo americano
deu 24 horas à empresa britânica para
garantir a segurança da empreitada.
“Não podemos esquecer que
fechar o buraco não acaba com o problema”,
lembra Philip Radford, Diretor Executivo do Greenpeace
USA. “Os milhares de galões de óleo
que já vazaram comprometerão seriamente
a vida selvagem, os ecossistemas, a indústria
da pesca e nossos oceanos por décadas. Precisamos
saber a extensão verdadeira desta catástrofe,
assim como as razões para que tenha acontecido.
Só assim poderemos garantir que não
acontecerá novamente”, garante Radford.
O Arctic Sunrise, parte da frota do Greenpeace desde
1995, é um barco quebra-gelo de 50 metros
de comprimento acostumado a realizar missões
em regiões inóspitas como o Ártico
e o oceano Antártico. “Desejamos que a passagem
de nosso navio pelo Golfo do México ajude
a passar a mensagem dos prejuízos que nossa
atual política energética vem trazendo
para o ambiente”, diz John Hocevar, coordenador
da Campanha de Oceanos nos Estados Unidos.
O Greenpeace demanda moratória
de exploração de petróleo em
alto mar, parcialmente concedida pelo governo do
presidente Obama e aceita também pelos comissários
da União Europeia.
+ Mais
Lixo que cruza fronteiras
Estudo realizado em parceria com
British Antarctic Survey mostra que o lixo marinho
já atinge áreas remotas da Antártida.
As notícias não
são nada boas quando falamos da saúde
ambiental do Oceano Antártico. De acordo
com uma pesquisa desenvolvida entre 2007 e 2008
pelo Greenpeace e pela British Antarctic Survey,
a região, apesar de não habitada pelo
homem e de extrema importância para a vida
marinha, já convive com lixo marinho.
Leandra Gonçalves, coordenadora
da campanha de oceanos do Greenpeace, participou
da expedição do MV Esperanza entre
2007 e 2008. Seu trabalho foi, dentre outras funções,
coordenar a pesquisa sobre lixo marinho. Por meio
da observação de objetos, foram coletados
dados que informaram tipos de lixo e, em alguns
casos, a sua origem.
De 69 itens avistados pelo navio
Esperanza, 43% eram materiais plásticos e
dos 59 itens observados pelo navio RRS James Clark
Ross (também envolvido na pesquisa) 41% também
eram plásticos. "Encontramos restos
de materiais de pesca, muitas caixas e micropartículas
plásticas", conta Leandra. Diferentemente
do que ocorre em outras regiões, as sacolas
plásticas não foram vistas em grande
quantidade. Os dados da pesquisa serão publicados
na edição de agosto na revista "Marine
Environmental Research".
Muita gente já ouviu falar
sobre as "ilhas de plástico" em
nossos oceanos. No norte do Oceano Pacífico,
há uma área do tamanho do Texas onde
se estima que, para cada quilo de plâncton,
existam seis quilos de lixo plástico. A presença
desse tipo de dejeto nos oceanos causa problemas
ainda maiores do que os já conhecidos impactos
na fauna local.
Materiais plásticos têm
grande capacidade de absorção de poluentes
orgânicos persistentes (POPs), funcionando
como verdadeiras "esponjas químicas".
Com isso, esse tipo de contaminação
acaba atingindo áreas não-habitadas
e que estariam teoricamente a salvo da poluição
gerada pelo homem. As superfícies plásticas
podem servir também como habitat para algumas
espécies, transportando-as de um lugar a
outro e ocasionando desequilíbrio em cadeias
e dando origem muitas vezes a espécies invasoras.
O Greenpeace vem acompanhando
de perto o avanço da poluição
marinha. Em 2006, a expedição “Defendendo
nossos oceanos” também apresentou resultados
sobre os caminhos percorridos pelo lixo no mundo
e sobre o estado dos oceanos.