Divulgação/Inpa
- O pesquisador Ricardo Bendo, do Inpa.
05/07/2010 - 14:15
Quanta custa recuperar uma área degradada
na Amazônia? E qual a melhor técnica
a ser utilizada? Questões como estas estimularam
o pesquisador do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT)
e integrante da Rede CTPetro Amazônia, Ricardo
Aparecido Bento, a desenvolver um trabalho que pudesse
fornecer dados concretos de custos, para que no
futuro tanto a Rede quanto qualquer outra empresa
que atue na Base de Operações Geólogo
Pedro de Moura (BOGPM), em Urucu (AM), possa elaborar
estratégias de recuperação
em áreas degradadas com maior eficiência.
Segundo Bento, dentre os resultados
obtidos pode-se concluir que “não é
barato recuperar áreas em Urucu, os encargos
sociais e trabalhistas são altos e, principalmente,
o custo ambiental com a mão-de-obra direta
encarece os custos das técnicas, tendo em
vista que a Amazônia tem características
– solo, vegetação e clima – diferentes
de outras áreas do País”.
O projeto intitulado Custeio baseado
em atividades das técnicas de restauração
de áreas degradadas na Amazônia Central,
inserido no subprojeto PT2 - Tecnologias de regeneração
artificial em clareiras abertas pela exploração
e transporte de petróleo e gás natural
- iniciou em 2009 e foi implementado na clareira
(áreas de prospecção de petróleo
e gás natural) LUC 15, nas jazidas (áreas
de empréstimos ou depósitos de resíduos
de obras) JAZ 94, JAZ 64 e JAZ 104 e, ainda, na
Universidade Federal do Amazonas (Ufam) - uma área
perto do viveiro pertencente à instituição
em condições iguais da BOGPM, com
solo compactado, exposto e de difícil regeneração.
Para as estimativas de cálculo,
o pesquisador empregou o Método ABC (Activity
Based Costing/Custeio Baseado em Atividades), que
possibilita a quem o aplica adotar decisões
com a devida transparência de custos. “Por
meio do custeio ABC calculei os custos das principais
atividades envolvidas nas técnicas de Nucleação,
Peletização de sementes florestais
e Plantio de mudas florestais”, disse Bento.
Valores por técnicas
De acordo com ele, a Nucleação
– Topsoil, Galhada e Poleiros Artificiais – apresentou-se
como a mais barata e eficaz, pois os custos por
hectare variaram de R$ 7.464,78 para LUC 15 a R$
16.938,42 para JAZ 104.
Dentre as vantagens desta técnica
a necessidade de pouca infraestrutura é a
principal, pois todas as atividades são desenvolvidas
no campo com recursos naturais retirados da própria
floresta, o que dispensa a existência de instalações
para armazenamento, construções prediais
e maquinários.
Porém, o pesquisador ressalta
que das técnicas nucleadoras, a Topsoil -
que consiste em transpor a camada de solo da floresta,
rica em propágulos de sementes e da biota
do solo transportada para a área impactada
- resultou na técnica mais onerosa, mesmo
proporcionando maiores acréscimos de plântulas
nas clareiras, em torno de 120 novas mudas por metro
quadrado na área. Por exemplo, na LUC 15
enquanto o custo total por hectare para a aplicação
da Topsoil é de R$ 4.734,66, na mesma área
a utilização da técnica Galhada
o custo fica em R$ 1.577,13.
“É um número alto
de plântulas introduzidas quando comparada
à densidade de mudas de espécies arbóreas
empregadas no plantio de mudas (perto
de uma muda/m²). Se 10% das mudas provenientes
do Topsoil se estabelecerem, já é
um grande ganho”, afirma Bento.
Em relação à
Peletização - técnica de recobrimento
de sementes, formada pela mistura de diferentes
materiais secos e inertes implantada na Ufam - os
custos por hectare contabilizaram R$ 28.261,66,
quando utilizadas as variáveis econômicas
da BOGPM. De acordo com as observações
realizadas por Bento na pesquisa “as variáveis
econômicas analisadas separadamente neste
experimento possibilitaram identificar a mão-de-obra
indireta e materiais indiretos como importantes
variáveis consumidoras de recursos para a
implantação da Peletização
de sementes florestais”.
Quando questionado sobre a técnica
mais dispendiosa, o pesquisador foi enfático
ao destacar o Plantio de Mudas. A cifra calculada
por Bento comprova a afirmativa, pois o custo por
hectare para esta técnica chega a R$ 38.531,93,
sendo que os gastos com mudas e adubos representam
46,56% dos custos totais.
“O que encarece o experimento
é a necessidade de uma maior mão-de-obra
para a execução das atividades e o
custo do material direto, como o caso das mudas
que consomem muitos recursos desde a coleta das
sementes, equipamentos até a infraestrutura
do viveiro”, destaca Bento.
Dificuldades
A grande interrogação
de quanto custava a aplicação das
técnicas para recuperação de
áreas degradadas sinalizava diretamente para
a escassez de dados sobre o assunto. Segundo Bento,
a ausência de informações tornou-se
a principal dificuldade a ser suplantada no trabalho,
aliada à burocracia a fim de se obter autorização
para ter acesso às áreas de pesquisa.
“A realização desta
pesquisa só foi possível, em virtude
do apoio da empresa terceirizada Conspizza Soluções
Ambientais Ltda, que forneceu dados para o desenvolvimento
da análise de custos e da equipe da Segurança,
Meio Ambiente e Saúde (SMS) da Petrobras,
em Urucu”.