O governo
diz que está tudo sob controle. Mas basta
olhar para as fotos, os vídeos e os números
para saber que a Rússia continua enfrentando
alguns de seus piores dias. Ou meses. Já
vai completar 60 dias ininterruptos desde que começaram
os primeiros incêndios no país. Na
lista de prejuízos contabilizados até
agora, estão três milhões de
hectares de floresta queimados, 52 mortos atingidos
diretamente, 127 assentamentos destruídos
e 20 regiões em estado de emergência.
Eis o cenário no verão russo mais
quente dos últimos mil anos.
As autoridades bem que tentaram
esconder a crise sob a fumaça. Apesar de
as chamas já persistirem por quase dois meses,
não faz mais de 15 dias que os órgãos
oficiais começaram a abrir a boca para falar.
E mesmo assim, pouco. Antes disso, porém,
um grupo de ativistas do Greenpeace Rússia
já estava nas ruas para monitorar e documentar
o que estava realmente acontecendo. Sobressaindo-se
como uma das únicas fontes de informação
locais, o site da organização acabou
caindo momentaneamente do ar essa semana, com cerca
de 20 mil visitantes por dia em busca de notícias.
Mas já voltou à ativa.
Para chegar às informações,
o time do Greenpeace reuniu uma força-tarefa
entre funcionários e voluntários.
Além do trabalho de campo, a equipe tem acompanhado
as imagens por satélite e analisado dados
de pesquisa. Os levantamentos, aliás, já
vinham sendo feito bem antes da temporada de queimadas.
Em 2007, o primeiro-ministro Vladimir
Putin, assinou o Código Florestal do país,
que, entre outras medidas, quebrou o sistema de
controle de queimadas e deu fim à guarda
florestal, que se debruçava sobre esses casos.
Dois anos depois, o Greenpeace reuniu 50 mil assinaturas
pedindo a reestruturação do cargo.
Nada feito. No último mês de abril,
após realizar uma expedição,
a organização previu que o fogaréu
começaria em breve, e enviou uma carta aberta
ao presidente Dmitri Medvedev avisando. “Se a situação
dos guardas florestais não for modificada,
o país pode enfrentar uma catástrofe
em suas florestas no próximo verão”,
dizia o documento. Dito e feito.
Putin e Medvedev continuam fechando
os olhos para as mudanças no clima. Mas as
evidências estão a olhos nus. Só
em julho, os termômetros no país bateram
dez recordes de alta. Com temperaturas girando em
torno de 40ºC e as cidades tomadas por uma
cortina de fumaça, a média de mortes
em Moscou dobrou, se comparada com o mesmo período
do ano passado.
O prejuízo também
chegou aos campos de agricultura, com pelo menos
um quinto da produção afetada. E 12%
das áreas federais protegidas já foram
lambidas pelo fogo. Essa é a realidade que
o Greenpeace tem encontrado e que vai continuar
expondo, até que tudo esteja verdadeiramente
sob controle.
+ Mais
Luz no fim do túnel
É o "início
do fim da grilagem”, declarou Felício Pontes,
procurador do Ministério Público do
Pará, sobre recente decisão do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) de anular mais
de cinco mil registros imobiliários e matrículas
consideradas irregulares no Pará. A medida
pode devolver para as mãos da União
quase um Pará inteiro em terras.
Depois de três anos cruzando
informações do período entre
1934 e 1988, uma comissão de combate à
grilagem, força-tarefa criada para passar
a limpo a situação fundiária
do estado, constatou o tamanho da farra dos títulos
ilegais. Somados, são mais de 110 milhões
de hectares de terras griladas Grande parte delas
existe somente no papel. Cerca de 20 milhões
de hectares declarados como privados correspondem
a regiões onde hoje há Unidades de
Conservação – na Terra-do-Meio, Porto
de Moz e no entorno da rodovia BR 163.
Nos hectares restantes, terras
possivelmente do estado brasileiro, anos de fraude
resultam nas imensas taxas de desmatamento no estado,
que já perdeu quase toda a sua madeira de
valor em extração ilegal, além
de abrir caminho para graves conflitos sociais.
“A justiça deu um passo
definitivo para acabar com a grilagem, chaga que
fez do Pará um palco de violência humana
e destruição florestal”, diz Nilo
D´Avila, coordenador de Políticas Públicas
do Greenpeace. “A medida vence a resistência
de entidades de representação do agronegócio,
sempre contrárias a ações de
cadastramento efetivo”, complementa.
Com o cancelamento dos registros,
os supostos donos ficam impedidos de vender ou utilizar
a propriedade em transações bancárias
até serem – se forem, capazes de comprovar
o direito à posse. Desta vez, com papéis
verdadeiros.
Um dos ambientes mais frágeis
do planeta corre o risco de se transformar no próximo
eldorado do petróleo no mundo. A empresa
escocesa Cairn Energy acaba de anunciar oficialmente
que encontrou gás e indicadores de petróleo
na areia de dois poços que perfura no Estreito
de Davis, mais conhecido como o estreito dos icebergs,
no sudoeste da Groenlândia. O Esperanza, navio
do Greenpeace, está ancorado a dois quilômetros
dos poços em sinal de protesto contra a exploração
de petróleo no Ártico.
Os riscos de abrir poços
na região são enormes e não
há tecnologia hoje que garanta a segurança
da perfuração. O óleo em contato
com águas quase congeladas leva mais tempo
para se dispersar e, em caso de desastre, poderia
envenenar um dos mais importantes ambientes marítimos
do mundo, lar de espécies de baleias como
a azul e a narwal, ursos polares, focas, tubarões
e diversas aves migratórias.
A localização remota
e o clima, que só permite os trabalhos durante
o verão do Ártico, dificultam qualquer
medida emergencial. Um vazamento na temporada de
perfuração só poderia ser contido
no ano seguinte, mantendo o óleo acumulado
abaixo de grossas camadas de gelo.
Ainda assim, os planos da Cairn Energy são
ambiciosos. Além dos poços atuais,
pretende abrir dois novos até o fim de outubro.
A empresa não apresentou até o momento
um plano de contingência de acidentes adequado
e anuncia que tem 14 navios disponíveis para
emergências com vazamentos – número
sequer comparável aos 6.500 navios usados
no desastre do Golfo do México, em abril
de 2010, o maior da história dos Estados
Unidos.
De acordo com o centro de pesquisa
Americano United States Geological Survey, 30% do
gás e 13% do óleo ainda não
descobertos no mundo estão no Ártico,
84% deles em alto-mar. Se explorados, podem ser
responsáveis por uma emissão de CO2
equivalente a do mundo inteiro em um ano. Permitir
que a Cairn Energy comece a perfuração
no estreito dos icebergs abre um perigoso precedente
para a chegada de outras empresas.
“O mundo precisa ir além
do petróleo e promover uma transformação
de sua matriz energética, de uma suja e perigosa,
para a renovável, como solar e eólica,
limpa e segura”, diz Tzeporah Berman, diretora da
campanha de Clima e Energia do Greenpeace Internacional.
“Nosso navio está na Groenlândia para
pedir o fim da exploração de petróleo
nos mares do Ártico e que empresas como a
Cairn Energy mudem o foco de seus investimentos,
rumo a um futuro de alternativas limpas”, conclui.
+ Mais
Vento a favor
Governo, empreendedores e distribuidoras
do setor de renováveis estiveram reunidos
entre os dias 25 e 26 de agosto em uma negociação
pelo futuro da nova energia ofertada para o Brasil
nos próximos três anos. O resultado
final dos dois dias de leilões de energia
pode colocar o Brasil na lista dos dez países
do mundo com maior capacidade instalada de eólicas
na matriz elétrica.
Às 71 usinas contratadas
no leilão de energia eólica do ano
passado, somaram-se outras 70, com maior potência
total de geração de energia. O preço
médio de contratação ficou
em R$130,86/MWh o que consolida eólica como
a segunda fonte mais barata do país. Participaram
também pequenas centrais hidrelétricas
(PCHs), com sete usinas vencedoras, e térmicas
à biomassa, com doze. As térmicas
fósseis, presentes nos leilões anteriores,
onde foi negociada a energia que hoje suja a matriz
elétrica nacional, felizmente ficaram de
fora.
“O Brasil tem potencial de se
tornar um país totalmente renovável.
A energia hidrelétrica tem limitações
para o crescimento, por conta dos seus impactos
sociais e ambientais”. diz Ricardo Baitelo, coordenador
da Campanha de Energia. “Já a eólica
tem toda a sua expansão pela frente. No Brasil,
venta o suficiente para produzir até 300
mil MW de energia, o que seria mais do que suficiente
para abastecer todo o país”.
A disputa entre os empreendimentos
terminou com a contratação de 2.892,8
MW de potência, cerca de 2% da matriz elétrica
atual do Brasil, ou mais do que duas usinas de Angra
2 somadas, a um preço médio de R$133,56
por MWh. Apesar do bom desempenho de eólicas,
o preço médio negociado foi insuficiente
para contratar números mínimos de
usinas de biomassa e PCHs.
Ainda assim, o resultado sinaliza
boa vontade do governo em promover o desenvolvimento
da indústria de renováveis no país.
“Os leilões deste ano reforçam a tendência
de desenvolvimento e há compromisso de que
venham a ser mais freqüentes”, conclui Baitelo.