21/09/2010
O forte calor e a umidade da Amazônia, além
de cupins e fungos são os aliados do Laboratório
de Produtos Florestais do Serviço Florestal
Brasileiro para descobrir
as espécies de madeira tropical mais resistentes
do país. O estudo é desenvolvido há
25 anos com 120 espécies e só terminará
quando todas elas tiverem apodrecido.
Até o momento, amostras
de 11 espécies permanecem intactas e integram
o grupo das madeiras tropicais mais duráveis:
preciosa, muirapixuna, jataipeba, cumaru, maparajuba,
louro-canela, abiurana, pau-santo, muiracatiara-rajada,
angelim-vermelho e maçaranduba. A pesquisa
ocorre em uma área localizada na Floresta
Nacional do Tapajós (PA).
O engenheiro florestal e coordenador
do estudo, Alencar Garlet, diz que a pesquisa surgiu
para suprir a falta de informações
sobre as madeiras amazônicas, inclusive a
respeito da durabilidade natural delas. "Esses
dados eram restritos às espécies de
maior importância comercial e eram provenientes
de poucos ensaios", diz ele.
Com a idéia em mente, os
pesquisadores saíram a campo para coletar
espécies em vários pontos da Amazônia.
Deram prioridade àquelas que não tivessem
sido objeto de estudos anteriores e que apresentassem
potencial madeireiro em função da
altura, diâmetro do tronco e volume por hectare.
Desde que as amostras começaram
a ser analisadas, em 1985, uma equipe vai ao local
da pesquisa uma vez ao ano na época da seca
para analisar as madeiras. No dia 25, técnicos
retornarão da visita anual com novos dados.
Cada amostra recebe uma classificação
que vai de zero (amostra sadia) a quatro (amostra
podre). Os dados são registrados em uma planilha
e depois analisados em laboratório. "Agora
é que as informações estão
maduras e que podemos trabalhar nelas", diz.
Os resultados podem ajudar a valorizar
o uso das espécies naturalmente duráveis.
Nos Estados Unidos e na Europa, é crescente
a restrição ao uso de produtos químicos
de preservação de madeira em função
de questões ambientais. "O mercado quer
madeiras que sejam naturalmente duráveis
e esta é uma oportunidade de agregar valor
a essas espécies", afirma Garlet.
Preservantes - O estudo não
excluiu a análise das madeiras tratadas com
produtos químicos, pois os pesquisadores
queriam comparar quanto tempo uma madeira comum
suportaria com e sem preservantes.
Assim, para cada amostra de madeira
nativa sem produto químico foram preparadas
outras duas estacas com tratamentos diferentes.
Os resultados comprovaram o efeito do creosoto e
do CCA (sigla para arseniato de cobre cromatado)
sobre a durabilidade delas. Das 120 espécies,
a maioria continua em bom estado desde que a pesquisa
teve início. Até madeiras que normalmente
se degradariam no período de um ano, como
o marupá, continuam íntegras na área
onde o estudo ocorre.
Uso racional - Segundo Alencar
Garlet, o estudo ajudará a tornar o uso da
madeira mais racional e eficiente. O consumidor
que estiver em busca de uma madeira resistente para
ser usada em estruturas expostas a condições
climáticas em casas, sítios, clubes
ou prédios, por exemplo, terá elementos
a mais para decidir por aquelas comprovadamente
duráveis.
A escolha correta evita o desperdício
e o impacto ambiental caso fosse usada uma madeira
menos resistente, que apodreceria rapidamente e
precisaria ser trocada. "Ao utilizarmos espécies
adequadas para cada situação, estamos
evitando o apodrecimento precoce da madeira, que
resultaria na necessidade de cortar novas árvores
para substituir a madeira apodrecida", afirma
o engenheiro florestal.
As informações obtidas
com o estudo ajudarão também a ressaltar
qualidades então desconhecidas de determinadas
espécies e a valorizar o seu uso. Esse conhecimento
deve ampliar, ainda, as opções de
madeiras com características semelhantes.
Com menos pressão em cima de um número
reduzido de espécies tradicionalmente utilizadas,
a floresta tem mais chances de continuar de pé.
Pesquisa também é
realizada em Brasília
O campo de estudos montado na Flona do Tapajós
foi replicado em menor porte na Fazenda Água
Limpa, de propriedade da Universidade de Brasília,
no Distrito Federal. A pesquisa é mais recente
- começou em 1986 - e envolve somente 80
espécies. O objetivo é verificar como
a madeira se comporta em climas diferentes. As amostras
são analisadas no 1º semestre de cada
ano.
Entrevista - Alencar Garlet
O que interfere na rapidez ou
não da degradação?
A velocidade dos processos de
biodegradação varia de acordo com
a espécie madeireira, com as condições
ambientais do local, principalmente umidade, temperatura
e teor de oxigênio, e com o tipo de microorganismos
e/ou insetos que a atacam. Embora existam algumas
espécies com alta durabilidade natural, nenhuma
madeira é imputrescível quando exposta
a condições que favoreçam a
biodegradação.
A resistência da madeira
está associada a alguma característica
especial da madeira?
A durabilidade natural é
uma propriedade intrínseca de cada espécie,
com causas complexas, que depende da constituição
anatômica, da composição química
dos seus elementos estruturais, da presença
de extrativos com atividades fungicida e inseticida,
e não está diretamente relacionada
a nenhuma outra propriedade físico-mecânica
individualmente.
Por que a madeira apodrece?
A madeira é formada basicamente
por celulose, hemicelulose e lignina e pequenas
quantidades de elementos minerais. Durante o apodrecimento,
os fungos liberam enzimas que digerem os constituintes
da madeira, gerando energia para o fungo e liberando
CO2 e H2O para a atmosfera. Resumidamente, a madeira
é o alimento dos fungos.
Além do apodrecimento causado
por fungos temos também os insetos que se
alimentam de madeira. Entre eles, destacamos os
cupins que utilizam a madeira como alimento.
O apodrecimento é um processo
natural, que ocorre sempre que as condições
favoráveis estiverem presentes. Estas condições
são temperatura favorável, umidade
e oxigênio. Assim a madeira exposta a intempéries
(chuva, calor, sol) e em contato com o solo sofre
mais com o apodrecimento e com o ataque de insetos.
Como é feita a análise
das amostras na Flona do Tapajós?
No início de cada inspeção,
cada estaca é movimentada manualmente para
frente e para trás, com a finalidade de avaliar
se a perda de resistência provoca a sua quebra.
Quando a quebra não ocorre, a estaca é
retirada do solo e recebe uma leve raspagem para
remoção do solo aderido. Em seguida,
uma leve pressão é aplicada com instrumento
pontiagudo (canivete ou formão) para verificação
do grau de ataque. Posteriormente, cada estaca recebe
uma nota em função do ataque sofrido:
sendo nota zero para a estaca sadia e nota quatro
para estaca que quebra (podre).