Divulgação/CTPetro-Amazônia
- Instalação de isca na área
de pesquisa de Urucu.
30/09/2010 - 08:15
O que simples formigas, gafanhotos e besouros podem
ajudar na recuperação de áreas
degradadas? Para aqueles que estão à
frente de pesquisas na área de entomofauna
os insetos têm muito a contribuir, pois fornecem
informações importantes em relação
ao ambiente impactado, afirma a pesquisadora
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa/MCT) e integrante da Rede CTPetro Amazônia,
Maria de Fátima Vieira.
Juntamente com a também
pesquisadora Leonor Cristina Silva Souza, o estudo
que tem como título Entomofauna de Jazidas
e Viveiros de Urucu (AM), iniciou em 2004 e “procura
reunir informações sobre a composição
da entomofauna em plantios de idades diferentes,
determinar a riqueza e abundância dos grupos
de insetos selecionados, e verificar o comportamento
alimentar mediante a utilização de
iscas na recuperação de áreas
degradadas da Base Operacional Geólogo Pedro
de Moura (BOGPM)”, explica Maria de Fátima.
Segundo ela, o monitoramento requer
repetição. “Primeiro fizemos um diagnóstico
do que existia e, a partir destas informações
selecionamos os grupos que nos dariam um melhor
caminho para o monitoramento das Jazidas 18, 22,
23 e da LUC 51 e 52”.
Ela explica foram escolhidas as
jazidas para trabalhar de acordo com a sua idade.
“Pegamos jazidas de zero a cinco anos de idade,
ou seja, totalmente degradada e com os plantios
iniciando; depois de cinco a 10 anos, ainda de 10
a 15 anos e acima de 15 anos, pois o nosso tempo
era curto e queríamos saber qual era a resposta
dentro de 20 anos. Portanto, fizemos este diferencial
com relação à idade das jazidas
a fim de saber o comportamento, por exemplo, das
formigas”.
Os grupos-alvo escolhidos foram
gafanhotos, formigas e besouros. Em relação
aos gafanhotos, Maria de Fátima ressalta
que “como eles são identificados como pragas
na agricultura, destruidores de plantações,
é importante entender o comportamento deste
animal dentro do Urucu”.
Estratégias de captura
Sardinha, laranja triturada misturada
com melaço de cana, banana amassada e uma
papa de aveia, foi o cardápio para atrair
os insetos. Conforme a especialista, o método
exige rapidez; as iscas são distribuídas
ao longo das jazidas e ao terminar de colocá-las
– um processo que dura de 10 a 20 minutos – se inicia
o recolhimento imediato, caso contrário corre-se
o risco das formigas as levarem.
Na retirada das iscas que eram
colocadas em tiras de sacos plásticos ou
copos descartáveis presos aos troncos das
árvores, as pesquisadoras – no caso das formigas
– as recolhiam, traziam para o laboratório
e, a seguir, faziam a triagem e identificação.
“As formigas são numerosas
e verificamos tanto a diversidade como a riqueza:
a quantidade, quem são elas e depois traçamos
seu comportamento ao longo do tempo e em relação
às plantas que estavam sendo plantadas para
o reflorestamento. Constatamos um saber já
confirmado pela ciência que, por exemplo,
a leguminosa Ingá utilizada nas áreas
de reflorestamento vive bem com as formigas e uma
colabora com a outra para fazer com que o ambiente
possa voltar ao seu estado quase normal”, afirma
Maria de Fátima.
De acordo com ela, as formigas
são excelentes indicadores de áreas
perturbadas, tendo em vista que, determinadas espécies
deste animal podem apontar que o ambiente edáfico
se encontra em péssimas condições,
e outras espécies podem indicar o contrário.
“Importante ressaltar que, as
formigas são consideradas engenheiras do
solo, pois enquanto brocas ou maquinários
pesados não conseguem perfurar um solo altamente
degradado e compactado, as mesmas realizam esta
tarefa e formam pequenos canalículos que
levam água para dentro do solo removendo
a terra e, consequentemente, ajudando na recuperação
da área”, informa a pesquisadora.
Descobertas interessantes
Durante o monitoramento, ela revela
ter encontrado possivelmente uma nova espécie
de gafanhoto, o Schistocerca, embora ele pertença
a um grupo praga muito vasto. “Sou especialista
e não consegui identificar, então
é necessário fazermos um novo registro
e uma descrição desse grupo”.
Em relação ao besouro,
a equipe observou em Urucu uma espécie denominada
Epicauta, um meloídeo que produz uma substância
química chamada cantaridina, muito procurada
pelos pesquisadores da área de biotecnologia,
pois, segundo informações, esta substância
pode ser usada no tratamento de células cancerígenas.
Um trabalho em parceria com 10
jovens cientistas – nove rapazes e uma bolsista
de apoio técnico – foi desenvolvido por dois
anos (2006 a 2008) e financiado pela Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(Fapeam), com o objetivo de reproduzir e estudar
o ciclo de vida tanto do besouro quanto do gafanhoto.
“Para o gafanhoto conseguimos
recriar em cativeiro um ambiente favorável
e observar todo seu ciclo vital, analisando suas
fases evolutivas, o que nos possibilitou fazer previsões
sobre seu comportamento, quais plantas podemos oferecer
a ele para que tenha uma criação sadia
ou não. Lamentavelmente, não fomos
até o fim com os besouros, eles sempre morriam
antes de desenvolver um ciclo vital completo. E
fica a pergunta: o que existe na natureza de especial
para que lá ele consiga crescer e se desenvolver?
Esta é uma questão para se responder
a longo prazo”, conclui a pesquisadora.
O futuro da ciência
Maria de Fátima acredita
que além das informações levantadas
pela pesquisa, a possibilidade de trabalhar com
jovens e trazê-los para dentro de laboratórios
científicos é um dos grandes benefícios
que sua profissão proporciona. “O melhor
caminho para fazer com que a ciência chegue
nas pessoas comuns ou não cientistas é
por meio da escola, dos alunos e professores do
ensino fundamental, médio e superior. Gosto
de trabalhar com adolescentes e sempre que possível
os incluo em meus projetos”.
Na primeira etapa da pesquisa,
que participaram nove estudantes da rede pública
de ensino do bairro Coroado, custeados pela Fapeam,
foram realizadas duas exposições dentro
de suas escolas sobre o trabalho, veiculando informação
científica dentro do meio escolar, desmistificando
a ciência. E, na segunda etapa iniciada em
2009, quatro estudantes ingressaram na pesquisa.
“Não entendo fazer ciência sem a ajuda
do povo”, frisa Maria de Fátima.
+ Mais
Satélites registram efeito
da seca nos rios amazônicos
Crédito: Inpe - Imagem
agosto de 2010
24/09/2010 - 08:20
Imagens de satélites do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT) mostram o avanço
acelerado da vazante nos baixos Negro e Solimões,
no Amazonas. A diminuição do leito
dos rios fica evidente na comparação
entre as imagens do satélite Landsat-5 obtidas
em diferentes períodos, comprovando o efeito
da seca na região.
“Pelas imagens a vazante poderá
não ser tão intensa quanto em 2005,
mas já é possível perceber
que a lâmina mínima de água
estará ausente nos meses de outubro e novembro”,
comenta o pesquisador Paulo Roberto Martini, da
Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe.
“Os dados de satélites podem colaborar para
antecipar ações de Defesa Civil”.
As imagens revelam que serão
mais afetadas pela diminuição aguda
do leito dos rios as comunidades rurais dos municípios
de Manaquiri, Jatuarana, Manacapuru, Autazes, Careiro
da Várzea, Caapiranga, no baixo Solimões.
As regiões do baixo vale do rio Negro também
estão sendo avaliadas. Por meio do Projeto
Panamazônia, do Inpe, os pesquisadores pretendem
estender o estudo sobre vazão a rios da Amazônia
sul-americana.
A estiagem na região
deve se prolongar até meados de novembro.